Raizes
A paisagem estende-se à minha frente e as ideias desaparecem. Em férias nada ocorre e os dias dividem-se apenas em horas todas elas vagas: horas de almoços e jantares em família, conversas entrecortadas pela barulheira e correria das crianças; jogos e brincadeiras sempre com a miudagem a reboque; momentos de ama-televisão-playstation-gameboy para tempo de adultos em maior sossego; jardinagens e passeios. Olhar para o verde das árvores, o azul do céu e não pensar em nada, só deixar o tempo correr.
Em férias, sempre no mesmo local, sempre as mesmas pessoas: família. Entre as recordações da nossa, a infância dos nossos filhos, a vida parecendo correr ao sabor de todos, na realidade sempre centrada nos mais novos. Há isto para preservar e “isto”, descobri eu, com algum espanto e já adulta, nem toda a gente tem. “Isto” nem sei bem eu definir. Uma aldeia, uma família de tetravós comuns, casas de férias, dezenas de primos. Gerações mais novas que constroem as suas casas de férias nas quintas dos avós, para regressar, regressar sempre, todas as férias, todos os fins de semana possíveis. Os primos todos que se conhecem antes sequer de se lembrarem, nas fotografias, olha aqui eu contigo, ainda bebés, que giro! E depois, nas primeiras recordações, lá estão esses primos, eternamente de férias, ano após ano, no Verão, na Páscoa, no Natal, nas passagens de ano, em todas as festas felizes; em todas as alturas mais dolorosas também, essa família que se abraça em casamentos e funerais, não apenas perfunctoriamente, mas por serem talvez nem todos os melhores, mas os mais antigos amigos, aqueles que estiveram sempre presentes e continuam a estar.
“Isto” não sei se é o sítio, se é a memória, se é a família. Tudo, provavelmente, uma mistura do passado e das histórias, do presente e das nossas coisas de todos os dias serenos, do futuro e das árvores que se continuam a plantar. No fundo, um dia, há muitos anos, alguém passou por esta terra e aqui ficou. Plantou esta família, uma arvore geneológica já muito antiga, cheia de ramos e sempre com folhas novas. É isto, esse “isto” que aqui se preserva. Um tempo de paz, um intervalo na confusão dos dias úteis. Estes, os mais úteis de todos, para onde trazemos os nossos filhos, que aprendem assim de onde vieram. Para que um dia eles queiram voltar.
(da minha cronica “Amo-te” na revista Psicologia Actual, escrita aqui, ha exactamente um ano)
Sinais de velhice, mijar nas botas e olhar o passado como se fosse a melhor coisa do mundo…
Porra
Zaravelho | Homepage | 08.26.07 – 9:52 am | #
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(tipo simpático este zaravelho, hein?)
sem-se-ver | Homepage | 08.26.07 – 1:10 pm | #
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Eu também gramo “isso”. E quem não tem “isso” pode lá ser feliz?…
Leão da Lezíria | Homepage | 08.26.07 – 6:05 pm | #
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Zara, nao deves ter percebido nada. Ou entao se achas que a familia e os sitios onde temos raizes e onde se encontram as pessoas de quem gostamos mais, sao olhar para o passado e nao valem a pena passar aos nossos filhos, olha, lamento.
sem-se-ver, ja conheco o Zara de outros carnavais e e’ por isso que nao o mando ‘a fava, nestes comentos dele. Deve estar com o periodo ou qualquer coisa do genero, que nao me parece nada coisa dele.
Leao (bons olhos o vejam), acho que sera’ possivel, com certeza, mas perde-se qualquer coisa de fundamental. Eu nao me vejo sem “isto”.
cat (em ferias) | Homepage | 08.27.07 – 12:39 am | #
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Que poesia maravilhosa esta Cat.
mad | Homepage | 08.27.07 – 10:48 am | #
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Assim, sim… gosto de te ver de garras afiadas.
E para que não restem dúvidas, gosto muito de ti.
Um beijinho!
Zaratanga | Homepage | 08.27.07 – 2:45 pm | #
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Eu queria comentar, mas não sei como, não encontro as palavras.
Mas sei que sou profundamente grata por poder partilhar do “isto” _”sítio” onde verdadeiramente se consegue recarregar baterias_, de perceber e poder confiar na continuidade do “isto” e de ver que os meus filhos vão poder, se quiserem e se o merecerem, viver também um bocadinho do “isto”, que mantém uma união tão sólida e tão saudável entre uma disparidade e vastidão tão grandes de gente.
(Enfim, foi o melhor que saiu…)
Moura | 08.27.07 – 5:43 pm | #
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Na minha primeira visita aqui, tinha que ter mesmo este post “raizes”. Cativou-me. E não é por estar a ficar velha! É porque gosto muito, muito das minhas raizes e identifico-me com este texto.
Toxicossimpatia | Homepage | 08.27.07 – 6:08 pm | #
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Eu aqui a chegar de férias lá do meu sítio e zás de caras com este teste que adoro! Nem de propósito!!
Cat, minha amiga. Que saudades! Para te relembrar que o mundo exterior existe, deixa-me que te diga que, os Marias estão doidos de contentes com as novas mochilas do Oliver e Benji (Continente, passo a publicidade!!!)
beijos para todos
ana | Homepage | 08.27.07 – 11:26 pm | #
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Mad, nao e’ poesia, mas muito obrigada.
zara, beijinhos para ti, ja vi que passaram os piores dias.
Moura, agora nao sei eu como responder…so’ com um enorme sorriso. A miudagem, tenho a certeza, vai partilhar isto tambem. Alias ja se esta’ a formar mais um belo grupinho dos mais pequenos. ))Quando comecarem todos a andar ‘a pancada, ta’ oficializada a amizade para sempre. Eu e a D. andamos ao estalo MESMO acho que nem tinhamos 4 anos. 😀 Beijinhos.
Obrigada pela visita e pelo comentario, Toxicossimpatia.
Ana, minha amiga! Ja’ tas de volta??? Chafarica next monday? Nem me fales…ah as mochilas! Aqui ha um Modelo (passe a publicidade tambem) ja as vi! Acho que vai ser igual! Se nao esgotarem entretanto, com os milhares de leitores destes comentos hehehehe. beijinhos!
cat (em ferias) | Homepage | 08.28.07 – 2:01 am | #
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Chafarica next monday? LIINNDDDDOOOO!!!
Mas já estou deprimida só de pensar!!
Beijos rapariga.
ana | Homepage | 08.30.07 – 11:31 pm | #
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Catarina, eu a ler os comentários aos parabéns ao André e dou com este seu fantástico texto «isto».
Bem, é que gosto tanto, julgo que escrevi «qualquer coisa como» numa postagem com o nome «só por causa do dia» (já não tenho a certeza, parece …) e agradeço-lhe muito os parabéns e este texto.
Eu, ainda no «isto», sem vontade nenhuma de me ir embora, mas parece que vou amanhã ou depois.
Vá lá, por causa dos Marias, dos eborenses, dos amigos, dos cafés de Campo de Ourique.
E este verde todo para trás, este «isto»… para reter.
E eu a regressar por causa de outro «isto».
Ou é o mesmo «isto»?
Um beijo Catarina e bem haja, como se diz aqui e é tão bonito
teresa | 09.02.07 – 6:00 pm | #
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Gosto d´”isto”
Rita Q. | Homepage | 09.03.07 – 12:35 pm | #
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