100nada

sem sentido ou talvez nao

O soro fisiologico poisado dentro do cinzeiro e o copo de ice tea green quase vazio, sao detalhes que nos tiram do lado do que haveria de ter sido escrito aqui, mas nao e’ por isso; e’ por serem mais um sinal que ha uma linha (um risco de giz no chao, trac,ado pela minha mao) que nao se ultrapassa, um aviso de realidade. Convenhamos: estender a mao para um copo quase vazio ou um frasco de soro que jaz no meio da cinza, faz-nos regressar ao serio.

Hoje, nesta tarefa diaria de fim de tarde a que me entreguei e que me parte toda (baixar, cortar haste de agapanto, levantar, deitar haste de agapanto no carrinho de mao, baixar, cortar, levantar) mas que me deixa (deixa-me o que, exactamente? Cardos na roupa, picadas nos brac,os, o sol deitado e o vento por entre as arvores, a luz do final do dia, o som dos meus passos sobre o saibro dos caminhos, os caracois atirados para longe das folhas, o suor a escorrer debaixo do bone’ que me prende o cabelo, os arranhoes nas pernas, a brac,ada ainda roxa que atiro para cima do monte, os pingos de seiva que escorrem na pele) que me deixa isso tudo: mas para alem desse isso tudo, ha em mim outra coisa. Quase outra pessoa. A que escreveria agora o resto, mas que se atira com raiva ao proximo agapanto, para nao

(ha alturas em que um gajo como eu, um bocado abrutalhado, ja cansado, a arrancar a porra do agapanto, a partir a haste tao grossa que a tesoura nao consegue abarcar, nao se pode permitir) sonhar.

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