100nada

The kindness of strangers *

(* título descaradamente roubado a um livro que nem nunca li. E também não são strangers, mas fica bem ali em cima, agora já tá)

Se eu fosse uma criatura organizada e se eu arrumasse os meus textos – incluindo aqueles que estou a escrever no momento, como este – em coisas bem estruturadas, agora, em vez de aqui estar a debitar este palavreado (que aí vem), ainda estava na cave do blog à procura da porra de um texto que escrevi há uns milhares de anos-luz e que sabe Deus onde estará, que já estou farta e também não interessa grande coisa que o encontre ipsis verbis ou lá como é que se diz. Quer dizer, até interessava, agora pensando melhor, que era coisa curta mas do tempo em que eu tinha realmente muito cuidadinho a engomar bem os textos. Agora é mais como se cuspisse os caroços das cerejas contra uma parede branca, a ver se ainda escorre alguma coisa (e mais verborreico também) mais siga para bingo que não estou para me maçar com a goma e mais o ferro e o esticar de rendinhas.

Em resumo, havia um tipo que eu conheci em tempos e que dizia que as coisas virtuais valiam o desligar do botão do pc. Mesmo quando as pessoas já se conheciam e eram amigas, bastava aquele botãozinho e nada mais as ligava. E o meu texto era a mandá-lo levar na bilha, que isso era assim como em tudo, com a excepção talvez da família em natais, casamentos e funerais (quer dizer, não era nada disto o tal texto: era a versão poética desta agora mais trocada em moedas de cêntimo) porque um gajo tem sempre a opção de escolher os amigos que quer ter; e se os conheceu em blogs ou a meio de uma bebedeira encostado a um bar qualquer, já no fim da noite ou na fila para pagar o iva, tanto faz: essa merda de separar o virtual que não existe e o palerma da ponta do bar que nos tenta oferecer um copo porque somos giras que isso sim já é real, enerva-me solenemente; como se um e outro não fossem gente que a gente acabou de conhecer ali e não sabe quem é, nem de onde veio ou ao que veio (enfim, no caso do copo, temos uma vaga ideia da ideia para onde há intenção de ir, mas isso, foda-se, também no virtual, a menos que se seja completamente bronco).

Resumindo essa parte de cima: isto de conhecer pessoas aqui ou acoli para mim é igual. O que interessa é depois, se as pessoas depois ficam amigas ou vão à sua vidinha, prazer, até à próxima (encarnação). Para onde vão, que por onde vieram é absolutamente indiferente.

Isto tudo para dizer, já nem sei bem o quê. Ah. The kindness of strangers. Porque há pessoas que a gente conhece lá no tal canto do bar e depois achamos que nos dizem imenso e nem são palermas e aos poucos, ou aos muitos, vamos ficando amigos do peito, do telefone dez vezes por dia, do almoço quando se consegue, do sms a meio da noite tás bem, amiga? e essas são maravilhosas, até porque não caem do céu como as gotas da chuva, é mais como se nevasse no Algarve em Agosto, de vez em quando, miraculosamente. E aos amigos um gajo dá abraços e diz, caralho, que sorte tenho em te ter comigo e o agradecimento é global, a tudo, sobretudo a nossa sorte em ter amigos assim.

Os almost strangers é mais aquelas pessoas a quem fomos apresentados e nos conhecem um bocadinho mal. Também lá estão, à esquina do tal bar, também bebemos uns copos e também nos divertimos e tal, mas cada um na sua. E depois, aquela cena clássica da gaja parva que vai para a casa de banho (desculpem as minhas amigas, mas se nunca passaram por essa experiência nunca foram adolescentes em pleno) e desata a puxar pela toalha daquelas presas à parede a compor o rimmel e a pensar, agora é que isto tá preto (literalmente e a escorrer pelas bochechas) e nunca mais daqui saio, e os bocados de papel higiénico a colarem-se aos saltos e a puta da toalha que está mais suja que em casa os panos de esfregar o chão em dias de lama e, de repente, sem mais nem quê, uma daquelas miúdas que a gente conhece dos copos e mais nada, entra por ali fora atrás de nós, entrega um lenço de papel limpo e empresta o baton. E ainda nos diz que estamos muito bem agora e já podemos sair. Um gajo nem sabe se agradece ou não, mas nunca mais se esquece.
É isso.

0 thoughts on “The kindness of strangers *

  1. kooka

    =)

    [comentários para quê? só quem já passou por isso sabe exactamente o que estás a dizer]

    beijinho grande.

    E manda esse tal tipo mesmo levar na bilha (foi isso que escreveste, não foi? é que não me apetece fazer page up para ir à procura…isto a estas horas já não funciona a 100%…nem a 10% quanto mais!!). Dizia eu, manda-o levar na real bilha porque essa treta do virtual consegue ser mais real e mais verdadeiro do que muitas “amizades” de muitos anos do mundo cá de fora, aquela que fica depois do desligar do botão.
    Ora pois…e tenho dito e com esta me vou que já é tarde e já não digo coisa com coisa.

    Beijo grande para ti e toca de recompôr o rimel, o baton, aproveita e dá um retoque na sombra (não que precises de nada disto, mas aposto que já há rimel pelas palpebras também e convém pelo menos disfarçar a make up borrada).

    Ariópse!

    Como é que é mesmo? Siga pa bingo! ;)*

  2. kooka

    …er…para quem começou por dizer “comentários para quê?” até que me estiquei um bocadinho…oh well, é do sono =/

    Boa noite, homónima. E bons sonhos =)*

  3. nadia

    Estando completamente por fora da questão, só me soa dizer: Ainda bem que ficas. Gosto de te ler.
    Bjs

  4. Crezia

    Soubesse esse gajo como parte do meu virtual tem sido tão mais importante que o real e ía ver que o botãozinho só desliga mesmo o pc.
    Já noutro campo, posso dizer que me identifico mais com alguns blogs que com colegas de trabalho, prefiro vir cá a conversar com grande parte deles.
    Não, não sou uma freak eremita lol gosto muito de conversar com os meus amigos “reais”. Mas esta coisa de conversar por aqui… um gajo gosta disto, consegue conversar e sentir-se perto dos outros, não é?

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