Dá-lhe Jaquinzinhos!
Excelente o post do jcd em resposta ao artigo da Visão de ontem, por Helena Roseta (que transcrevo para a extended entry).
Por Helena Roseta
Visão
(pg. 59)
04-12-2003
Governo pediu autorização ao Parlamento para se endividar até ao limite de 400 milhões de euros, que deverão aumentar o capital da Caixa Geral de Depósitos (CGD), a fim de «concretizar acções de internacionalização da sua actividade que venham a ser consideradas pelo Governo de interesse nacional» (proposta de lei n.° 98/IX ). Sabe-se que a CGD pretende adquirir um pequeno banco espanhol, o Banco Atlântico (BA), com sede em Barcelona. Actualmente, a CGD dispõe de 172 agências bancárias em Espanha. Com a compra do BA, ficaria com mais 288. O assunto terá sido objecto de conversações entre Durão Barroso e Aznar, na recente Cimeira Ibérica da Figueira da Foz. Esta política suscita muitas dúvidas. Não parece ser a melhor altura para aumentar o endividamento nacional, sobretudo para a aquisição de um banco que fará subir até menos de 2% a penetração da Caixa em Espanha, onde já é muito elevada a quantidade de balcões bancários por mil habitantes. O preço também não parece ser o mais razoável. A CGD tinha negociado esta aquisição, em 1999, por 850 milhões de euros, pouco mais de metade do que, segundo a imprensa espanhola, estará disposta a pagar agora. Sabe-se também que a peça chave nestas negociações é o Arab Banking Corporation (ABC), que detém 68,5 % do capital do BA. Sucede que o ABC é controlado a 26,8% pelo Banco Central da Líbia. E aí começam outras interrogações. O que está por detrás desta urgência em dar dinheiro ao banco do regime de Kadhafi? Que relação há entre esta atitude e a posição ultra-seguidista em relação à política da administração Bush na guerra do Iraque? Haverá razões de natureza política e estratégica que aconselhem a endividar Portugal em favor do banco líbio? E quais são elas? Que motivos foram discutidos entre Durão e Amar a este propósito? Ou «o dinheiro não tem cheiro»? E será que Durão Barroso faz hoje com a Líbia o que fez no passado com o Iraque do ditador Saddam, com quem negociou armas contra a opinião da comunidade
internacional? Este Governo vai vender, por ajuste directo, a um banco americano detido por um príncipe multimilionário árabe, a totalidade da nossa dívida fiscal. Mário Soares considerou essa operação «a vergonha das vergonhas». Ficamos agora a saber que se vai endividar para comprar um banco detido pelo ABC e pelo Banco Central da Líbia. No momento em que forças portuguesas da GNR estão envolvidas na guerra do Iraque, o que leva o Governo a dar prioridade a sectores financeiros árabes, ligados a regimes não democráticos e nem sequer moderados? As questões de interesse nacional envolvendo opções financeiras discutíveis, como uma venda milionária em ajuste directo ou uma compra por mau preço de resultados duvidosos, não podem ser discutidas apenas à porta fechada entre chefes de governo. Têm de nos ser explicadas. O governo não é «dono» do Orçamento de Estado. Ninguém entendeu por que é que Portugal, que tanto se obstina no cumprimento do défice de 3%, com custos sociais e económicos tão elevados, apoiou o enterro do Pacto de Estabilidade e Crescimento pela França e a Alemanha. Tem de haver coerência entre o que se faz cá dentro e o que se defende lá fora. Também ninguém compreenderá, quando estamos comprometidos com a sangrenta guerra do Iraque contra Saddam, que Portugal se endivide para comprar um banco indirectamente detido pela Líbia do senhor Kadhafi.
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gosto muito do jaquinzinhos
ESTE GOVERNO É UM PARADOXO