100nada

Eu nem gramo muito Saramago

enfim, como pessoa pública, nas opiniões que dá.
E, para falar verdade, também me custou sempre mastigar aqueles princípios: até acabar por desistir.
Num único caso, li que nem uma louca, doida com o livro e sempre a pensar, bolas, se gosto tanto disto, também devo gostar dos outros, mas nesses acabei por nunca conseguir passar das páginas 30, 40, 50.
Até agora, no ‘As Intermitências da Morte’. Nem sei o que estão a fazer a ler este post nem eu a escrevê-lo, doida para continuar a ler. E caneco, o homem até pode ser execrável, mas escreve bem como sei lá o quê. Vou dar-lhe outra oportunidade em todos os que, em tempos, coloquei de lado.

Essa coisa da escrita é realmente fodida: um tipo pode parecer ser uma besta e escrever divinalmente. Mas há muitas vezes aquela embirração com a pessoa que o autor aparenta ser e depois influencia-nos a leitura. Ou o contrário.
É muito difícil ser-se completamento isento.
Isto serve para tudo.

(este post era de ontem, mas eu queria acabar o livro e deixei-o a meio – e ao livro quase no fim)

0 thoughts on “Eu nem gramo muito Saramago

  1. vanus

    Este é mesmo dos tais casos, consigo aliar perfeitamente a embirração pessoal ao homem com a escrita, apesar de ter gostado muito de dois livros dele; os outros são uma estucha de todo o tamanho para mim, não é só o escrever bem que conta, é o que a escrita nos dá.
    De qualquer forma, só pelos elogios que lhe teceram da “inovadora ideia” que está por detrás da história, greve da morte, consequências e por aí…só me rio; o pessoal que faz crítica literária devia ler todo o tipo de literatura, inclusive ficção científica. Não que tenha algo contra a falta de originalidade, muito pelo contrário, por isso ainda fico mais de pé atrás quando se manda para a frente este tipo de mais-valia.
    Boa leitura :)

  2. catarina

    Ah! Mas eu isso concordo completamente contigo. Até o meu rico Terry Pratchett já escreveu vários livros sobre a Morte (Dead), a família dela, os ajudantes que casam com a filha, a neta que é feiticeira, e no primeiro livro sobre o assunto (Mort) havia essa coisa de a Morte ir de férias e precisar de um ajudante. A ideia é mais que usada na ficção científica e na fantasia (e tu sabes que eu sou fã dos géneros), mas o livro é realmente muito giro, muito divertido e com muito ritmo. E repara, tirando o ‘Ensaio sobre a Cegueira’ eu tenho um pó ao homem dos grandes.

  3. soinico

    A primeira vez que li Saramago devia ter 17 anos e nunca tinha visto a figura na vida. Amei! Foi dos primeiros livros que li como se fossem um filme. E desde sempre que cultivo a mesma opinião: o homem é um génio, não é so escrever divinalmente é escrever histórias divinais. Todos os génios têm direito a fazer um sem número de barbaridas e têm desculpa, entre elas fazer frases de uma página sem usar um único ponto final. E se ele que é ele faz assim, cabe-nos a nós, caso não gostemos, desistir. Pedir-lhe de outra maneira é impensável :)

    E por acaso ando curiosa: e o teu? 😉

  4. catarina

    Soinico: também acho que ele é um génio, e tirando os dois que li e adorei (o que li e este que estou a acabar) sempre achei, se não tenho paciência, o mal deve ser meu, claro. :)

    O meu está em banho-maria. :)

  5. Karla

    Eu li o Ensaio sobre a Cegueira e adorei. Li o Todos os Nomes e gostei. Depois li o Memorial do Convento e rendi-me, e desde aí não consegui ler mais nada dele, não porque não tivesse gostado, mas porque AMEI de tal forma o Memorial do Convento que fiquei com aquela ideia de que nunca mais coisa nenhuma que ele escreva vai chegar àquilo :)

  6. TheOldMan

    Karla, concordo perfeitamente contigo.

    Eu li-o cronológicamente. Resumindo, desde o Memorial do Convento que não encontro nada de jeito no homem (ou seja, há mais de 20 anos).

    😉

    Catarina. Prefiro o Terry Pratchett (os livros são mais baratos, e não preciso de olhar para ele).

    😉

  7. PiresF

    Lá vou eu ser politicamente incorrecto, mas tem de ser: Nenhum escritor que tenha ganho um Prémio Nobel, escreveu a seguir alguma obra melhor que as anteriores.
    Confirma-se com Saramago, este é talvez o seu pior.
    Verifica-se no entanto, o mérito de chegar a leitores que antes não o conseguiam ler.
    Desculpem lá, é só a minha opinião e como é evidente, vale o que vale.

  8. Carriço

    Este vou ler, certamente!
    Tenho é algum “receio” que seja uma coisa muito colada ao Ensaio Sobre a Cegueira. Não que não tenha gostado deste último….

    Saudações

    PS – Gostar mesmo, para mim, é Lobo Antunes! É daquelas coisas sem explicação! :)

  9. maria arvore

    Estou-me nas tintas para o mau feitio dos falecidos Dali, Picasso ou Vergílio Ferreira. Ou de Lobo Antunes ou Saramago. Porque o que me atrai e delicia é a obra de todos eles.
    O Memorial do Convento conquistou-me pela riqueza da narrativa e uma forma de tornar as palavras apetitosas na voragem das frases. As Intermitências da Morte, como Todos os Nomes, são filmes de acção onde o sorriso nos aflora os lábios de forma cúmplice. Já todos pensámos aquilo mas não o escrevemos.

  10. maria arvore

    Estou-me nas tintas para o mau feitio dos falecidos Dali, Picasso ou Vergílio Ferreira. Ou de Lobo Antunes ou Saramago. Porque o que me atrai e delicia é a obra de todos eles.
    O Memorial do Convento conquistou-me pela riqueza da narrativa e uma forma de tornar as palavras apetitosas na voragem das frases. As Intermitências da Morte, como Todos os Nomes, são filmes de acção onde o sorriso nos aflora os lábios de forma cúmplice. Já todos pensámos aquilo mas não o escrevemos.

  11. maria arvore

    Estou-me nas tintas para o mau feitio dos falecidos Dali, Picasso ou Vergílio Ferreira. Ou de Lobo Antunes ou Saramago. Porque o que me atrai e delicia é a obra de todos eles.
    O Memorial do Convento conquistou-me pela riqueza da narrativa e uma forma de tornar as palavras apetitosas na voragem das frases. As Intermitências da Morte, como Todos os Nomes, são filmes de acção onde o sorriso nos aflora os lábios de forma cúmplice. Já todos pensámos aquilo mas não o escrevemos.

  12. rjm

    Catarina,

    Tanto na escrita como noutro tipo qualquer de arte.
    O/a artista pode ser detestável, e a obra ser fantástica; normalmente, o público – nós – é que temos a tendência para confundir as coisas.
    Embora não tenha nada contra o Saramago, e, sim o homem é excelente escritor, e acabei o “Intermitências da Morte” há dois dias, e é do catano o livro.

  13. rjm

    Gosto do Pratchet (especialmente do chapéu de cowboy), e do Discworld…
    mas a mim é mais Douglas Adams. Já vi que gostas dele por causa do subtítulo do blog.
    Há uma outra tirada dele que me diz muito: “It’ss a mistake to think you can solve any major problems with potatoes.”

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