Susana Mana
Quando a minha irmã mais nova era pequena, mesmo pequena, tinha a mania de desaparecer na praia. Ia pela beira-mar com um pauzinho, a fazer desenhos na areia molhada, joelho em terra joelho no ar (frase da minha Mãe), fazia o desenho e andava mais para a frente, para onde a areia ainda não tinha qualquer risco; e fazia mais um desenho. Ia indo e esquecia-se que tinha de voltar, que não se podia afastar. Também não era muito difícil encontrá-la: era ir seguindo os desenhos e no fim dos riscos e das formas, lá estava ela, joelho em terra joelho no ar, a desenhar ainda mais um, sem ter dado pelo tempo a passar.
Quando a minha irmã mais nova era pequena e já não tão pequena, eu era a irmã mais velha. Ainda sou, claro, mas durante muitos muitos anos fui a irmã mais velha. Há um peso inerente a ser a mais velha, como há em ser a do meio, ou em ser a mais nova. Durante anos é mantida esta classificação, esta regra quase militar, feita de frases de dar o exemplo ou de seguir o exemplo, de tu ainda não podes mas a mana pode que é mais crescida, ou podes se fores com ela, há milhares de situações, de coisas, de acontecimentos, sempre dentro desta ordem de mais-velha-mais-novas-mais-novas-mais-velha. E eu sempre uma irmã-galinha, a filha mais velha muito responsabilizada, fosse no clássico tens de tomar conta delas, fosse no menos clássico de ainda muito novinha receber instruções concretas para o caso de (filha, se o Pai pifar e a Mãe é capaz de não ser capaz de tomar conta das coisas logo na altura, tens de ser tu, estão uns dossiers aqui e ali, falas com tal pessoa e tal outra pessoa, e tomas conta das tuas irmãs e da Mãe). E levei este papel a sério, muitas vezes para grande desgosto e raiva das minhas irmãs mais novas.
Sou uma grande chata.
Depois as irmãs mais novas crescem e claro, começam a a saber coisas que nós não sabemos e admiramo-nos um bocado, mas ainda achamos que são mais novas e não sabem tudo o que nós sabemos. Mas começam a saber, cada vez mais e um dia qualquer, não se sabe bem quando, uma pessoa olha para elas, para as irmãs mais novas, e descobre que o que fica de ser irmã mais velha é aquele instinto protector que nunca passa, mas o resto, que a irmã mais nova é uma miúda um bocado pró miúda, essa parte desaparece. Já não é a miúda (bom, às vezes é): é uma rapariga crescida, uma mulher e ó espanto! Então não é que a gente se entende bem, tirando uma discussão ou duas? Temos montes de coisas em comum, montes de diferenças engraçadas, gostamos muito umas das outras e, de amigas de palhaçadas várias, passamos a ser amigas mesmo. Daquelas que estão lá sempre para as coisas importantes e daquelas que também estão lá sempre, todo o santo dia, quanto mais não seja na outra ponta da linha do telefone, para contar que se comprou um par de sapatos muito giros ou perguntar o que é que mete na sopa de beterraba ou se o brufen e o benuron se pode dar de três em três horas a um bebé com febre ou que o sobrinho disse uma coisa cómica ou que a outra mana isto e aquilo. As quatro mulheres lá de casa vivem em eterna comunhão de partilha de informação e dados olha ainda não te contei? mas eu pensave que já tinha contado…ah pois foi, contei foi à outra! Ah mas já sabes, ela disse-te, pois…e isto é muito mais do que família.
É o dois em um ideal: a família que também é constituída pelas melhores amigas que temos.
Isto tudo para dizer que a minha irmã, que continua a ser a minha irmã mais nova mas que também é uma das minhas melhores amigas, uma mulher cheia de vida e de coração e alma e coisas bestiais e também um feitio do caneco, como não poderia deixar de ser, faz hoje anos. O cómico da coisa é que não consigo lembrar-me de quantos são, troco-me sempre, mas isso também não é muito importante. O que é importante é que faz anos, no mesmo dia em que fazia anos o meu avô paterno, que tinha uma casa de praia numa ilha com um areal muito comprido. E que, às vezes, ainda vejo a minha irmã mais nova dessa forma: uma menina que se esquece de tudo e vai andando pela vida fora sem olhar para trás, entretida com riscos que pinta na areia, num equilíbrio de joelho em terra joelho no ar, sem se importar se depois o mar os apaga. O que interessa não é tanto deixar a nossa marca, mas sim desenhar aquilo que mais se quer naquele momento.
Have a nice day and a happy life, sis.
- NY Marathon
- Desconfio deste kinja (ou então não)
“O que interessa não é tanto deixar a nossa marca, mas sim desenhar aquilo que mais se quer naquele momento”
e de repente lê-se o sentido da vida…
ps: parabens susana mana (q por alguma razao sempre achei que fosse a mais velha…)
Estou com o tasqs. Parabéns!
Muitos parabéns, Susana! Beijos meus e da minha garota. :-))))
bem, isto é só lágrimas.
muito obrigada, fiquei mesmo comovida. e a lembrar-me desse avô, que fazia anos neste dia e que se sentava na cadeira desdobrável, à beira mar, a ver os desenhos que eu fazia. sei que falavamos sobre eles, mas a maior parte do tempo era só o saber que eu os fazia e ele os via. no silêncio.
isto das idades é complicado, ou por outra não é nada complicado, mas às vezes parece. porque, tal como diz a tasqs, até a mim eu pareço muito mais velha às vezes. tem a ver com o tempo das nossas diferentes experiências e acho que é assim com toda a gente.
obrigada, tasqs, karla e zu. beijinhos pra vocês, também.
Então parabéns à Susana Mana e também à Cat por ter uma menina do mar na lembrança. Xicoração.
Parabéns, parabéns
Beijos
Parabéns Susana. Não desejo que “contes muitos”, porque não é coisa que se faça a uma senhora.
Conta-os antes de dois a dois.
😉
Beijo
Parabéns Susana!
Beijinho
Parabéns Susana Mana, e Parabens Cat Mana independentemente dos anos que faz, ressalva aqui a cumolicidade entre as duas onde a idade não tem valor.
Parabéns à Susana pelo aniversário, que seja mais um dos muitos que virão e parabéns à Catarina pela excelente homenagem que lhe fez.
Foi bonito.
Juro que fiquei mesmo comovida!
Deve ser porque também tenho uma Mana – que perseguia com o cutelo da carne na mão quando éramos mais crianças…e a quem espetei um lápis no joelho… e que me espetou uma tesoura no olho… – e, agora, não sei o que faria da vida sem ela (embora, se calhar, não fosse tão míope…)!
Parabéns Manas!
Muito obrigada a todos.
Nós não nos vilipendiávamos muito. Basicamente, a Catarina usava as unhas e eu os dentes. Ficava ela por ela. :))
Muitos parabéns à Susana. Beijinhos
(E à Cat, por este texto tão bonito)
Parabéns Susana. ‘Joelho em terra joelho no ar’ até seres crescida.
Aqui está uma efeméride que vale a pena comemorar.
Parabéns, Susana! (Bela prosa, primogénita)
Chego atrasada, mas deixo na mesma os parabéns. E beijos para as duas :))
Pois atrasadamente parabéns à Mana Susana – por ter feito anos e por ter uma Mana Catarina capaz de sentir e escrever coisas assim bonitas.
E aqui entre nós, menina Catarina, sempre lhe digo que quando o seu rico menino crescer vai sentir a mesma coisa (que é como quem diz, com rapazes não sei bem se é igual, mas pelo menos há-de ser parecido)
Que as filhas e os filhos também crescem e fica igual, que passamos a ser amigas que são família ou vice-versa; cá eu com a minha Cèlinha também é assim, que às vezes brigamos e discutimos mas somos muito amigas. De manos eu sou das mais novas e sempre senti isso da protecção e assim, e olhe que a Menina de vez em quando vai ao meu blog dizer coisas bonitas sobre a minha família, mas a sua também não deve ficar nada atrás, olarila.
É muito bom, nestes dias que correm e neste mundo em que parece que só importa o Ter, e o Parecer, e a Economia e as Finanças, ver que ainda há quem se importe com as Pessoas, e com o Ser, o Gostar, o Querer Bem – porque isso é que faz realmente girar o mundo. Beijinho, fique bem
Parabéns pelo texto! Acho que descreve muito bem a dinâmica entre irmãs. Tão bem que eu e a minha irmã mais velha lemos o texto separadamente e tivémos a mesma ideia: enviámos um mail à outra, a aconselhar a leitura imediata do mesmo. E parabéns à irmã mais nova
mais uma vez obrigada pelos vossos parabéns. duende, sharquinho, vi, hipatia, sofia e rita: muitos beijinhos.
Só agora vi o post! Parabéns, Susana!
Parabéns! atrasados… mas bem intencionados. 😉