100nada

Não, não me esqueci

Nunca me esqueço de ti, meu amigo.

O tempo dos amigos (Julho 2001)

Olho em volta e reparo que estamos tão elegantes e bonitos. Ele que sempre gostou de nos ver belos, iria ficar orgulhoso de nos ver assim tão sóbrios. Se se tirassem fotografias nestas ocasiões, seriamos capa da Papel de Parede. Os fatos escuros misturam-se com as camisas brancas calças de ganga camisolas claras nas senhoras. Olho para todos os pés descalços em sandálias de tiras e penso, ele iria gostar de saber que as amigas levavam as unhas dos pés pintadas, nunca descurava um detalhe. Sempre amou a beleza, aquele homem belo, tinha sempre uma palavrinha a dizer, olha que estás a precisar de cortar o cabelo eu se fosse a ti não levava essa camisa esses brincos com esse colar, sinceramente.

Mas estamos tão bonitos. Um dia com tanto sol. Não deve haver nenhuma marca de óculos escuros que não esteja representada. Ninguém os tira, nem lá dentro. As paredes são sempre assim, este branco sujo, como se tivesse que ser branco para não ser escuro e sujo para não ser claro. E as cores, as cores que nós não usamos hoje, estão naquelas flores, ele iria odiar, são sempre tão feios estes arranjos.

Nós oferecemos-lhe um ramo, o único que é ramo. De flores sem cores, como nós próprios, o ramo condiz connosco. Estamos todos de ponto em branco. Como se ele pudesse finalmente ver.

Lá em cima no depois pelo meio das arvores a vista é soberba. O silêncio é sereno. Não se ouve uma lágrima.

E penso

Basta um micro segundo para amar alguém.
E um segundo para gostar de alguém.

Quanto tempo demora a fazer um amigo?
É também um micro segundo?
E quanto tempo dura um amigo?
Para sempre?

São os micro segundos mais importantes da nossa vida.
E ninguém sabe, até passar por isso
Que também num micro segundo
O para sempre acaba.

Um amigo é feito de tempo
O tempo do começo, tão rápido
O tempo do durante, tão para sempre
O tempo do fim, tão cedo demais.