Um gajo até se esquece destas merdas
O tempo é uma coisa fodida que remete memórias para discos rígidos guardados em gavetas cujas chaves se perdem (raio de frase, mas não há emendas em escrita corrida). Depois um tipo remexe numa caixa de música qualquer e encontra uma chavinha – o resto a progressão lógica do texto diametralmente oposta ao seu ínício: chave, gaveta, disco rígido de memória, memória em si. Claro que nada disto é assim tão simples, as memórias são uns fios que se emaranham todos, enrolam-se cheios de nós e têm a mania de se trocarem: quando um tipo puxa por uma ponta de um fio que parece ser aquele que eventualmente poderia servir para um texto, aparece outro fio completamente diferente e já não são só os fios trocados, é um gajo que se baralha todo.
Claro que isto é só para efeitos literários: eu nunca me troco e tenho uma memória imensa, longa, comprida e (também sirvo vinganças em copos altos com muito gelo e água lisa) nunca me esqueço de quase nada. Muito menos daquilo que me interessa. E quase tudo me interessa, nem que seja para os tais efeitos literários. Há uns anos, quando algumas pessoas me diziam ‘devias era escrever essa merda toda’ eu respondia sempre, sim para depois ter uma espera ou vinte à porta de casa, que isto de usar as memórias, parece-me que tem de obedecer a uma espécie de usucapião
(momento, que tou ao telefone!)
- Ora bem (lista de mp3)
- (ainda estou ao telefone)