100nada

Vamos pôr as coisas assim

(depois de ler o post da Rita Q. e de já ter pensado neste assunto centenas de vezes)

Vamos supor que as tuas filhas, que os nossos filhos ficavam sozinhos no mundo. Sem ninguém que os quisesse. Sem ninguém que os amasse. O que é que era melhor? Que fossem despejados no asilo (uso esta palavra de propósito) numa qualquer casa pia, ou que fossem adoptados por duas pessoas que os queriam mesmo, que depois os iriam amar, criar, educar, abraçar, chorar, que ficassem felizes por eles existirem, tristes por eles terem tristezas, que se riam com eles, que lhes ralhavam quando fizessem asneiras, que lhes dessem um beijo de soninho descansado, duas pessoas para quem os nossos filhos, agora sozinhos no mundo, passassem a ser filhos?

Para mim as pessoas são primeiro que tudo pessoas. Seres humanos. Bons e maus, há de todos, tanto nos hetero como nos homossexuais. Não me venham com argumentos anti natura. Anti natura é as crianças serem criadas sem amor.

0 thoughts on “Vamos pôr as coisas assim

  1. Nelson Santos

    Aí estamos em desacordo…vá lá! Casamento entre homossexuais, completamente de acordo; adopção por casais homossexuais, completamente em desacordo. Por achar que uma criança criada por 2 pais ou 2 mães vai ser vitima de tanta descriminação quanto os “pais”. E, sendo praticamente a adopção por pessoas isoladas, não concordo. Lamento mas, se me perguntarei, direi não, sempre.

  2. catarina

    Nelson, a opção não é entre as crianças terem um pai e uma mãe, ou dois pais ou duas mães. É estarem num orfanato e haverem duas pessoas que as vão amar como se fossem filhos.

    De qualquer forma conheço alguns filhos naturais de amigas lésbicas e são crianças perfeitamente normais e nada discriminadas.

  3. catarina

    Acho que as pessoas não equacionam bem a questão, aNa. Mas para mim, pessoas hão-de ser sempre, primeiro que tudo, pessoas. Só depois virá o gender e as opções.

  4. aNa

    pois é…
    o problema é que ainda há muita gente a aceitar a homossexualidade, mas no fundo a sentir que existe qualquer coisa de errado. logo, ter filhos, essa empreitada com tanta responsabilidade, não pode estar ao seu alcance.
    como se não houvesse crianças problemáticas e discriminadas filhas de casais hetero.
    aliás, até acho que isso da discriminação é uma falsa questão.
    a grande questão é o monopólio. que deixa de ser dos hetero.
    acho que na verdade, todos os filhos de homossexuais são profundamente desejados, ao contrário de muitos de casais hetero. e isso é fundamental para se criar um filho com amor.
    mas isto sou só eu a falar.. nem filhos tenho, apesar de andar a pensar nisso.

  5. Eufigénio

    Catarina, não concordo com o cenário que pões por trás. Levantemos outro cenário, talvez mais próximo da questão: se houvesse um casal heterosexual e um casal homosexual, ambos pretendentes à adopção, não haveria diferença na escolha?

  6. Nelson Santos

    A pergunta é dificil, mas estou como o Eufigénio…faço-te a mesma pergunta e outra. Se houvesse um casal homosexual e uma mulher infértil mas “sozinha”, ambos pretendentes à adopção, quem preferias que ficasse com o R.?

  7. Assumida Mente

    Bravo Catarina!
    É por existirem pessoas conscientes da realidade, como tu, que tenho esperança que o Mundo evolua sempre de modo positivo!
    Quanto às questões que foram colocadas nestes comentários, a resposta é fácil:
    1. há mais crianças nos asilos do que casais em condições de adoptar, pelo que ainda que, por absurdo, o critério fosse preferir todos os casais heterosexuais a casais homossexuais ainda assim existiriam crianças para poderem ser adoptadas por homossexuais;
    2. as regras de eligibilidade para que um casal possa adoptar são tão rígidas que obviamente se um casal homossexual ultrapassasse todas essas etapas era porque viveria num ambiente de tal modo harmonioso que, nesse meio, não existiria discriminação, pelo que o argumento de que as crianças também seriam alvo de discriminação é totalmente falso!

    Mas ainda assim, saliente-se que mais importante do que isso é perceber quais os fundamentos que subsistem para que dois adultos que se amam sejam impedidos de se casar! Essa é que é essa!

  8. carlos a.a.

    Em casos que não atinjo uma decisão racional tenho por hábito olhar para a natureza, para os outros animais e, muitas vezes, ajuda-me.
    Há gatos, cães, coelhos, chimpanzés e eu sei lá quantos mais que são homossexuais e, os que conheci, não notei diferença alguma relativamente aos heterossexuais no afecto que dedicam aos seus pares e muito menos às crias alheias. Bem pelo contrário, os gatos machos homossexuaia são dos poucos que as fêmeas permitem que se aproximem doas suas crias e que as tratem.
    Assim, tal como a Catarina, não pela tendência hetero ou homossexual que os animais se diferenciam na sua capacidade de praticar o bem e o mal.
    Só que esta questão do bem e do mal é de natureza ética e, por vezes, moral, donde provém o que os nossos pais e sociedade nos formatam desde que nascemos e, para mais, apesar de evoluirem, variam, em geral, na longa duração.
    Dito isto, explico o que sinto e que me impede de conseguir ter uma posição definitiva: não tenho, racionalmente, nada contra a adopção de crianças por homossexuais, mas é coisa que, sem preconceito, repugna-me.
    Eis o meu confesso com trauma por, ao fim e ao cabo, discriminar os homossexuais, assunto que repudio em toda a linha.

    ps: perante o cenário colocado pelo Eufigénio, por exemplo, não tenho dúvida, embora saibamos de muitas crianças adoptadas mal-tratadas por casais hetrossexuais.

  9. catarina

    aNa, concordo que os filhos dos homossexuais são profundamente desejados (pelo menos nos casos que conheço, foram ou seriam, se a adopção fosse possível).

    Eufigénio, Nelson, o facto de responderem a uma pergunta com outra pergunta (enfim a pergunta para o Nelson, mas a do post para o geral) é, por si só, um sinal que o assunto é muito, para não dizer pior, desconfortável, não é?

    Mas eu respondo às vossas. Vou ser o mais honesta possível.
    Para o Eufigénio: num mundo perfeito todos os meninos têm uma mãe e um pai. Há aquela coisa dos papéis a desempenhar, a qestão dos exemplos, inserção na sociedade, essas coisas: mas depois em casais ‘normais’ dá asneira, sabe-se lá porquê, montanhas de razões, que me indicam que não é exactamente por aí, que não é essencial, se calhar. Teriam de existir muito mais critérios para os distinguir (aos dois casais do teu exemplo), se eu pudesse optar.

    A resposta ao Nelson é muito mais simples: um casal, seja ele de que tipo fôr, em princípio se quer filhos, tem um projecto de vida em comum. Provavelmente serão pessoas mais amadas uma pela outra, mais felizes do que uma mulher sozinha que não pode ter filhos (um mulher sozinha que não pode ter filhos cheira-me logo a um potencial depressivo alto) que poderia querer adoptar uma criança para combater essa solidão e desamor.
    A resposta é, portanto, um casal.

  10. catarina

    Assumida Mente, o teu comentário é muitíssimo pertinente. Nada a acrescentar e lá está, a questão da harmonia familiar que eu também defendo e a questão do asilo /vs adopção.

    Quanto ao casamento, um contrato de direito civil, com obrigações e direitos, nada mais absurdo que não permitir que seja alargado a toda a gente. Nem preciso de dizer isto.

    Carlos, a natureza pelos vistos é mais sensata. Nós é que, como bem dizes, somos formatados pela educação que tivemos. Entendo a tua resposta e obrigada pela honestidade. O que é preciso é que as pessoas consigam reconhecer as suas repugnâncias viscerais como tal e que as combatam com a racionalidade, acho que é um caminho.

  11. Nelson Santos

    Catarina, lamento mas continuo a discordar. Além disso num mundo em que quase 2/3 dos casamentos acabam em divórcio, diz-me o que aconteceria à criança adoptada, caso isso acontecesse? Ficava com um pai? Com o outro pai? Com uma das mães? Ou ia parar à Casa Pia? Além disso os filhos têm tendência a imitar os comportamentos dos adultos. Se virem 2 pais aos beijos, em casa, todos os dias, será que não vão achar que aquele é o comportamento normal? Há provas que isto não seja assim? E se não há, pode-se arriscar com uma situação tão determinante no desenvolvimento das crianças? Uma mulher sozinha que não pode ter filhos cheira-te a um potencial depressivo alto, e um homossexual abandonado pelo parceiro e a braços com uma criança adoptada pelos dois soa-te a quê?

  12. Nelson Santos

    O argumento de que as crianças também seriam alvo de discriminação é totalmente falso???? Em que mundo é que vivemos? Vão-me dizer que uma criança “filha” de dois pais ou duas mães é tratada na escola como qualquer outra? Ou vivem num mundo paralelo ou então não entendem a crueldade das crianças pelo que lhes é diferente. Se uma criança que é gorda, feia ou deficiente motora sofre o que sofre, uma criança em que nas reuniões de pais, vão duas mães ou dois pais, vai ser muito bem aceite pelos seus colegas, claro que vai! E isso até passa rapidamente, na cabeça delas…claro que passa.

  13. catarina

    Nelson, quando um casal mulher-homem adopta uma criança e se separam, a criança fica com a mãe, com o pai ou volta para a casa pia? É a mesma coisa, não achas?
    Não sei se há provas do que quer que seja, mas há montanhas de pessoas que viram os pais aos beijos e são homossexuais.
    Quanto ao homossexual abandonado pelo parceiro e com uma criança adoptada, cheira-me exactamente ao mesmo que se não for homossexual e aliás, cheira-me ao mesmo que uma pessoa que seja abandonada pelo parceiro com uma criança filha dos dois. Mas à partida todos eles tinham um projecto de vida em comum. As pessoas que adoptam sozinhas não têm.

  14. catarina

    Nelson, lê o post da Vieira. Sabes, para as crianças tudo é mais ou menos normal. Para os OUTROS PAIS é que não é. E se quiseres poupar as crianças porque vão ser discriminadas, nada impede de, em certos meios mais conservadores, usares alguma discrição nessas coisas.

  15. Nelson Santos

    Para as crianças os pais são role-models, Catarina. Por alguma razão filhos de pais que fumam, fumam mais que filhos de pais que não fumam. Por alguma razão filhos de pais separados, separam-se mais do que filhos de pais que não se separam. Porque há-de ser diferente com as escolhas sexuais?

  16. luis

    Estas a ser tendenciosa (e sabes disso), ha pessoas que foram criadas em orfanatos, que tiveram muito sucesso na vida. Ha montes de exemplos. A Casa Pia e uma excepcao a regra. Sera que nao haveria casais homossexuais, que depois de adoptar uma crianca, nao abusariam dela? Se ate ha casos de pais que abusam sexualmente das criancas… Nao se pode confiar em ninguem assim a toa. Tenho muitas duvidas sobre a adopcao pelos homossexuais, por causa da pressao da sociedade sobre as criancas. Se es orfao, es um coitadinho que se deve ajudar, se tens dois pais paneleiros, es o bombo da festa. Ja deve ser suficientemente dificil ter uma mae sem molares, que tem se lhe beijar os pelos da cara enquanto enfiamos o nariz nas suas orelhas, que uiva de noite, e que parece uma vaca. Tenho muitas duvidas, minha ex-paixao.

  17. Nelson Santos

    Quanto à pergunta:
    “Preferia ver a Beatriz na Casa Pia caso…?”
    Em que condições? Morriamos os dois, morriam os avós e morriam os tios todos? Sabendo eu que nunca abandonariamos ou abandonaremos a Beatriz, porque outra razão iria ela para a Casa Pia?

  18. catarina

    Eu sou muito cordata, mas tenho um limite. Nelson, a tua última resposta é a desviar o assunto. E evidente que não é a Beatriz, mas se eu consigo personalizar uma hipótese e transpor aquilo que sinto pelo meu filho para as crianças que não têm pai, mãe, avós e tios e estão em orfanatos, tu de certeza que também consegues.

    Quanto à questão dos role models, se assim fosse, todos os homossexuais seriam filhos de homossexuais e não é assim. E o blog eu-adoptei, se vires com atenção, verás que, se não estou em erro, o próprio Paulo, o autor, dizia que apesar de a lei ter mudado, os processos continuavam um horror de burocracia.

    Luis, o teu comentário é cómico mas o assunto nem por isso: acho que os riscos são iguais para todos. Os homossexuais são pessoas absolutamente normais.

  19. Miguel S.

    É uma questão complicada esta. Até pela forma como é colocada. Num cenário radical de uma solução catastrófica tipo Casa Pia com o que agora se conhece e uma adopção por um casal de homossexuais penso que é evidente a resposta.

    Sou favorável à liberalização de tudo e mais alguma coisa quanto aos casais homossexuais, à semelhança do que a Espanha está a fazer. Completamente liberal. A adopção de crianças já me faz levantar algumas questões. Pelo que conheço. Pelos casais de homossexuais que conheci. Chama-lhe preconceito. Pode ser que sim. Aceito-o.

    Por outro lado, cedendo neste posicionamento de uma forma racional porque objectivamente nada há a opor por muitas voltas que se dê, e porque também as pessoas – homossexuais e crianças na situação aqui focada – têm que ser, acima de tudo, felizes nesta existência porque acredito ser a única, tenho que concordar e ceder neste ponto. Afinal, não é esse o objectivo de qualquer existência? Ser feliz? Se as crianças passíveis de adopção encontrarem o início da felicidade com um casal de homossexuais que o perfilhe tornando estes igualmente [mais] felizes, porque não?

    Assuntos como instituições tipo Casa Pia, ficam para outra altura.

  20. aNa

    Nelson, pensa lá comigo.
    tens uma filha, não é? e se um dia a tua filha tiver uma namorada e decidir adoptar uma criança?
    irás continuar a pensar assim?
    ou achas que a tua filha está livre disso lhe acontecer? porque é filha de um casal heterossexual?
    sabes, eu também! papá e mamã que adoro e que me adoram.
    ah.. e não fumam e eu fumo!!!
    (onde será que eles erraram?)

  21. make_up

    Olá,
    antes de mais parabens pelo topico, claro, concreto, directo, blá blá…parabens!
    aceito as diversas opinioes, para k as minhas sejam aceites ou respeitadas, antes de mais qq homo, é filho de pais hetro(a maioria), portanto onde vimos nos estes comportamentos de homo? tentemos n ser falsos idialistas por favor nelson, as crianças precisam de referencias, ok, é verdade! e de amor? é o fundamental, se houver divorcio, pk nao se repartir, palavra estranha esta, mas é o k os hetro fazem repartem os filhos, e usam-os qd deles precisam para chegar a algum acordo, nao é? e depois tem más notas, a culpa é do ensino e dos profs… vamos ver uma coisa, antes de mais sou a favor da adopçao, em qq casso k possa haver uma analise da familia seja ela kem for, homo, hetro, pais ou maes solteiras pk nao, os filhos vao ficar solteiroes, desde k tenha estrutora emocional, de habitaçao, etc, força, diminua o tempo de adopçao, nao s admite num pais k n é d 3º mundo haver crianças em instituiçoes onde valem dinheiro, atençao, falo e sei o k estou a dizer, desde recem nascidos ate aos 6 e 7 anos, e cada ano é mais dificil… sejamos francos, se houver paz num lar, amor, harmonia, o k n s poderá falar com a criança, faze-la sentir segura, amada, sao estruturas fundamentais para um crescimento saudavel, com auto estima, e s as questoes vierem, a familia unida jamais será vencida!
    beijokas
    ate um dia

  22. ana

    eu sabia que ias entender; somos tão diferentes mas no essencial o click está sempre lá

  23. catarina

    Em voz off: estou a gostar da conversa. O comentário do miguel s, bestial, com tudo muito bem estruturado. Ah e o Nelson, como voz do contra, excelente, senão não haveria esta discussão. É uma coisa complicada eu sei, mexe com aquilo que é visceral, como diz o Carlos e a racionalidade perde-se por vezes.

  24. Karla

    Eu só não percebo é porque é que os homossexuais são gente para trabalhar, para pagar impostos e para ter deveres, mas quando chega aos direitos alto e pára o baile. Porque é que quando se fala de um casal homossexual poder adoptar se desenterram logo possibilidades de desvios como se os heterossexuais não pudessem apresentar desvios tão ou mais graves.

    A Catarina, quanto a mim, disse tudo quando disse que “as pessoas são primeiro que tudo pessoas”. Nem todos os homossexuais são tarados. Nem todos os heterossexuais são paradigmas de virtude. TODOS mas todos têm defeitos e qualidades. E ninguém me convence de que uma criança é necessariamente mais feliz com uns que com outros só porque uns são assim e outros são assado.

    E quanto às discriminações na escola, poupem-me. A sério.

  25. Rita

    Bom, quanto à questão do casamento, acho que não há conversa possível. E se começarem a existir casamentos gay, tal como começaram a existir divórcios há uns anos, esta passa a ser uma realidade que a sociedade vai assimilando e deixando de discriminar.

    Quanto à adopção: eu por acaso acho lindo que certas pessoas falem das crianças que estão à espera de serem adoptadas como se elas vivessem num mundo de felicidade….
    Ora se há crianças que só têm mãe, outras que só têm pai, outras que nasceram de relações hetero, mas um dos progenitores se tornou gay, por que raio é que crianças que foram abandonadas só podem ser inseridas em casais «perfeitos»?

    As crianças precisam de amor e carinho e uma casa. As crianças, com poucos anos de vida, vão perceber a diferença e aceitar as diferenças que existem entre todos nós. Elas se entenderão, não se preocupem. Os estigmas hão-de ser vencidos.

    Já agora, há estudos muito recentes feitos nos EUA com crianças que vivem com casais gay que demonstram claramente que o comportamento sexual dos pais não «influencia» o dos filhos.

    Senão, não haveria homos, já que todos nascemos de heteros….

  26. ana

    Concordo com a Catarina, quando diz que são os adultos que estigmam as situações. Dou-vos um exemplo que não tem nada a ver com adopção mas tem a ver como os adultos nos olham. Foi quando o IRS foi implementado. Filho no infantário. Vou à secretaria e peço um recibo do pagamento do colégio, para efeitos de IRS, em meu nome. Em seu nome ou do seu marido. Não tem de ser em meu nome. E estivemos neste tanto faz, tem de ser em meu nome alguns segundos. Até que eu digo: Tem que ser em meu nome! É que eu e o pai do B. não somos casados. Ah! e nós que pensávamos que eram o casal modelo…

  27. NG

    No caso extremo que indicaste (e que, infelizmente, apesar de extremo é muito frequente) completamente de acordo. Numa “comparação” com um casal heterossexual, tenho duvidas…mas também tenho a certeza que há tantos casais heterossexuais que deveriam ser “proibidos” de ser pais. De uma coisa tenho a certeza (e ser pai, recentemente ainda por cima, contribui francamente para isso): o que conta e interessa são as crianças. O resto é mesmo conversa.

  28. catarina

    Quando eu era pequena, quem era discriminado na escola eram os não-baptizados. Mais tarde os filhos de pais separados. Tudo isso está mais do que ultrapassado (há uma história porreira de um amigo meu, cuja filha de 7 anos, num colégio conhecido de Lisboa, lhe disse que estava tudo mal em casa: ele devia viver noutra casa e ela e a irmã iam lá passar os fins de semana com ele – só para se ver o que as crianças acham que é o ‘normal’, em certos meios). Se o casamento entre homossexuais e a adopção fossem permitidos, acabava-se com esse estigma em meia dúzia de anos e as próximas gerações cresciam mais a aceitar toda a gente, sem ideias pré concebidas.

  29. Eufigénio

    Catarina. Voltei agora e fiquei preso entre o responder ou ficar por aqui. na verdade acho que é o tipo de discussão que se deve travar frente-a-frente pois assim podem surgir muitos mal-entendidos, mas olha, vai ao correr da pena (ao menos ninguem me pode interromper)…rs

    A minha pergunta era uma pergunta retórica, e acho que sabes onde queria chegar. Mas vou então fazer um esforço para ser mais afirmativo e deixar o teu blogue com mais uns metros de palavras, sorry :)

    1. Para mim a adopção visa recriar uma situação tão próxima quanto possível daquela que é natural (da natureza biológica do homem). Tanto quanto sei não há filhos naturais de dois homens ou duas mulheres. Para não entrarmos no subjectivismo da ética, consideremos então as leis universais da natureza, que essas devem ser boas conselheiras
    2. É de amor e capacidade para educar que se trata? Ok, consideremos a adopção entre duas mulheres, ou dois homens, e já agora entre 3 homens e quatro mulheres por exemplo, ou mesmo uma associação de cinco pessoas que decide adoptar uma criança. Não tenho duvidas que podem garantir amor e a capacidade de educar que a criança “precisa”.
    3. Claro que poderia colocar tudo isto em forma de pergunta mas não pretendo parecer que estou a fugir á questão
    4. Eu sei que quem alegue ao contexto cultural, hoje em dia, arrisca-se logo a ser considerado retrógado, mas como continuo a considerar que o contexto cultural serve justamente para nos impor ( e repara que digo mesmo “impor”) balizas de comportamento, e acho isso fundamental para isto tudo não virar apenas uma guerra de racionalismos, arrisco ser um retrógado.
    5. E não, não sou homofóbico (aliás, estou farto desta expressão para ser sincero) acho que a sexualidade de cada um só a ele diz respeito, desde que assim a trate, com a intimidade com que todos nós devemos tratar a nossa. Tanto se me dá que prefira o sexo oposto, o mesmo sexo, ou que tenha um enorme prazer a enfiar o dedo no nariz, mas repito, desde que isso seja por ele próprio tratado com o mesmo respeito e tolerância com que eu sou capaz de o tratar

    (…)

  30. Eufigénio

    (…)

    6. Tolerar a homosexualidade não é a mesma coisa que aceitar um desfile de bichas espampanantes assim como não toleraria que ao meu lado no restaurante um casal heterosexual se pusesse a fazer sexo oral em cima da mesa
    7. Não, não sou homofóbico mas não me disponho a aturar comportamentos homosexuais que não tolero em heterosexuais. E não, não me disponho a aceitar que um casal homosexual possa ter a mesma aptidão no actual contexto que um casal heterosexual. Não nesta sociedade em que discutimos isto. E é nesta que estamos. Mudá-la, naturalmente de acordo, ignorá-la “anarquisticamente”, not me.
    8. Casamento civil, enquanto escritura, entre dois homens? Naturalmente que sim, até podia ser entre uma neta e uma avó. Tratamento equitativo entre duas pessoas que vivem juntas como qualquer casal heterosexual? Benefícios sociais, descontos no IRS, o que for, naturalmente que sim, mas nem se precisam de amar para isso. Impor-me isso sob o ponto de vista ético, estético, moral e cultural? Não. Ninguém me pode impor isso. Tolero mas não tenho de bater palmas. E não, repito, não sou homofóbico.
    9. Finalmente, e sobre estas coisas do deve ser assim e todos devemos aceitar que os tempos são outros: Casa Pia (dantes era a mitra). Cá estão mais chavões que temos de engolir. Não se deve ter um comportamento de tolerância desviante quanto à homosexualidade, há que dizer que sim e aceitar o absurdo de achar que isso é o mesmo EM TUDO que ser heterosexual, aqui em Portugal no sec. XXI. Mas já ninguém nos critica se insinuarmos que uma instituição centenária que já deu provas que teve e tem um papel exemplar na sociedade civil portuguesa, que já abrigou, criou e formou gente notável que nasceu órfão ou abandonado e provavelmente de outro modo teria caminho traçado, seja agora usado como exemplo terrível por culpa de casos estatisticamente não significativos, e que se extrapolam com o único fito de aumentar shares à hora do jantar. De repente, uma instituição que teve/tem um papel impar no domínio da solidariedade social em portugal passa a ser uma merda por culpa de uma cambada de cabrões pedófilos, e pior, as dezenas de milhar de crianças arriscam-se a levar com o ferro de uma sociedade complacente, (capaz de dizer que sim a tudo, de argumentar que a homosexualidade é o mesmo que a heterosexualidade, mas que olha para eles pela janela da televisão, a mesma que dá cobertura a discursos gays e que confunde e ofende com isso a homosexualidade), que os carimba de coitadinhos que foram todos violados em criança. Pior que ser órfão, é ter a desonra de ter sido educado na Casa Pia? E… enfim, aqui para as comparações

    Resumo:

    Não, não sou homofóbico. Não, não concordo com a adopção de crianças por casais homosexuais, pelo menos enquanto, lamentavelmente (por razões burocráticas) ainda houverem casais heterosexuais à espera para as adoptar. E sim, acho que as referências éticas e culturais podem ser fundamentais quando nada mais nos pode “ajudar” a decidir.

    [eu sei que era só para ser um pouco mais explícito, mas enfim, … desculpa o lençol … prometo que no fim arrumo tudo :) ]

  31. ElsaTS

    Já tive uma vez esta discussão precisamente nos mesmos termos com um amigo nada homofóbico… pensava ele. O exemplo que eu coloquei foi o das meninas abandonadas nos orfanatos da China, apenas um exemplo de tantos que se poderia dar. Ou naqueles países da Europa de Leste. Conheço um caso de uma criança adoptada na China, com um ano, que tinha um atraso de seis meses em relação à idade, não se sentava sozinha sequer. O casal que a adoptou é hetero, por acaso. Mas será que se ela soubesse e percebesse e pudesse escolher entre ficar onde estava ou ser adoptada por um casal de homossexuais com as condições materiais e emocionais para lhe dar uma vida normal, sim normal, porque anormal era a que ela estava a ter… o que acham que ela teria escolhido? Mesmo se soubesse que se calhar ia ouvir umas bocas na escola?

    Penso que ser contra a possibilidade de dar uma vida melhor a uma criança, olhando apenas à sexualidade dos pais e mais nada, é pensar em tudo menos na criança. Todos sabemos que ser hetero não é sinónimo de ser bom pai ou mãe.

    A forma como gostamos do nosso sexo não tem nada a ver com o amor que temos para dar a um filho ou com o desejo de o ter, ou tem?

    Só mais uma achega, em relação aos exemplos: não faz sentido dizer que uma criança por ter dois pais ou duas mães vai crescer e ser homossexual. No entanto, se ela achar que eles são pessoas normais, ainda bem. Porque são. (e eu e a minha irmã fumamos as duas que nem bestas e cá em casa nunca houve um cigarro, nem sequer na família mais próxima… :-))

  32. Emiéle

    Bom post Catarina, obviamente muito polémico. Tenho tido muitas e muitas discussões por causa deste tema. Por mais tolerantes que as pessoas sejam, aqui engasgam-se. Contudo sabemos que houve sempre milhares e milhares de crianças criadas por 2 mulheres ( mãe e tia , por exemplo ) quando não havia pai. A “imagem paterna” ia procurar-se ao avô, padrinho, tio, eu sei lá. Será mais raro, criada por 2 homens, mas também aconteceu. Aqui a diferença é formarem um casal. Contudo está provado ( estudos muito sérios feitos na Holanda, por exemplo) que a criança pode crescer em perfeita harmonia, aceitando a vida na sua casa, mas sendo heterossexual ela própria. O que aqui dizem é que como a sociedade vai ter preconceitos é melhor fugir a eles… Por mim até acho que as crianças até lidam bem com esse aspecto. Muito mais complicado era se os pais fossem alcoólicos ou toxicodependentes. Mas como dizes aqui mesmo atrás, também dantes os filhos dos divorciados tinham de viver com esse “estigma” – não foi por isso que os pais se fosse necessário se deixavam de separar.
    Daqui a uns anos esta conversa até vai causar estranheza. Assim como o Oscar Wilde ter sido preso, por exemplo. Inconcebível, não é?

  33. catarina

    Elsats, acho que a questão do amor é essa: uma pessoa que ama um filho, ama um filho da mesma maneira.

    Emiéle: gosto tanto de ti. Trocas os assuntos complicados em questões tão simples, que toda a gente entende. Isso de as crianças serem educadas pelas mulheres, por exemplo, claro que sim, toda a vida até esta geração isso aconteceu.

    (eu até estou comovida com a qualidade dos comentários e com o esforço que estão a colocar neles, palavra de honra).

    Posso estatisticar um bocadinho? Curioso como tantas mães aqui presentes não têm qualquer problema em relação à adopção por homossexuais… (isso seria outro tema polémico, não era?)

  34. Nelson Santos

    Cat, atenção que isso de ser do contra não faz parte da minha maneira de ser, per se. Vou então ver se me consigo explicar:
    Um casal homossexual pode amar uma criança, claro;
    Um casal homossexual pode saber criar e educar uma criança, claro;
    Um homossexual não é obrigatoriamente mais tarado que um heterossexual, claro;
    Nem todos os heterossexuais são paradigmas de virtude, claro;
    Há abusos sexuais de crianças independentemente dos pais serem homo ou heterossexuais, claro.

    Agora:
    Um casal, seja ele de que tipo fôr, irá amar mais uma criança do que uma mãe sozinha, falso;
    As instituições tipo Casa Pia são todas degradantes e péssimas para o desenvolvimento das crianças, falso;
    Ter pais heterossexuais ou homossexuais é a mesma coisa para as crianças, principalmente na maneira como são tratadas em sociedade, falso;

    Penso que a questão principal é a da felicidade. E se eu concordo com o Miguel S. de que é possível as crianças passíveis de adopção encontrarem o início da felicidade com um casal de homossexuais que o perfilhe tornando estes igualmente mais felizes, também acho que é possível (e bastante provável) que o facto de ter sido adoptada por um casal homossexual pode influenciar negativamente a sua vida (principalmente em sociedade) e comprometer o seu desenvolvimento enquanto ser humano.

    Quanto à questão dos role models, o que eu disse é que os filhos têm tendência para copiar os comportamentos dos pais…tendência, não obrigatoriedade. O meu pai fuma e eu nunca toquei num cigarro, por pura casmurrice pelo facto dele fumar, por exemplo. Por isso, a frase da Catarina, que se assim fosse, todos os homossexuais seriam filhos de homossexuais não é, nem de perto nem de longe o que eu escrevi. O mesmo se aplica à possibilidade que a aNa coloca da minha filha um dia ser lésbica (nunca a deixaria de amar) e decidir adoptar uma criança. Penso que não o poderia fazer, embora isso o fosse fazer feliz a ela, certamente. Não mudaria de ideias porque as convicções não se mudam só por nos acontecer uma situação a nós. A minha filha poderá perfeitamente ser homossexual, o argumento do “papá e mamã que adoro e que me adoram” só é válido para pessoas com meio cérebro. Já expliquei que a questão dos role-models é a tendência para copiar e não a obrigatoriedade de copiar os exemplos dos pais. Mais tarde, na adolescência, isso até se costuma inverter, passando a tentar ser-se o mais diferente dos pais que nos for possível…
    E quanto às discriminações na escola, vai-me dizer que são o quê, Karla, mentira? As crianças são, e toda a gente o sabe, capazes dos comentários e dos tratamentos mais crueis que se possa imaginar, principalmente com quem é “diferente”. Não saber isso é não saber o que nos rodeia e o que pode acontecer com os nossos filhos quando não estamos por perto. O mundo não é um oásis onde toda a gente é boazinha e compreensiva…e isso começa no jardim-escola!

    E a Cat tem toda a razão. Ao contrário do que acontece no mundo animal, nós somos mesmo formatados pela educação que tivemos…e pela sociedade em que vivemos. E num mundo em que se é ostracizado pelo facto de se ser gordo, feio ou não ter calças de marca, achar que uma criança não vai ser “marcada” pelo facto de ter dois pais ou duas mães é, no minímo, utópico.
    Talvez um dia, não sei, mas penso que serão precisas várias gerações até que isso possa deixar de acontecer.

    PS: Para a Cat, e depois de muito pensar, posso dizer-te que preferia que a minha filha, caso ficasse completamente sozinha no mundo, fosse para uma instituição até ser adoptada por um casal heterossexual ou por uma mulher “sozinha” (de preferência de maneira mais rápida que actualmente) do que fosse logo adoptada por um casal homossexual.

  35. ElsaTS

    Catarina, não sou mãe mas posso dizer-te que é provável, e cada vez mais certo à medida que os anos vão passando e eu vou chegando ao “fim do prazo”, que um destes dias ponha em prática uma coisa há muito combinada, que é ter um filho com o meu melhor amigo, que por acaso é gay, sim senhora, e vive com alguém, sim senhora. E eu sou hetero, muito, o mais possível, lol… Esta também é polémica, mas só em teoria.

    Na prática, nenhum homem que eu conheci até hoje em 37 anos de vida é uma pessoa melhor ou poderia ser um pai melhor. E cá por casa toda a gente acha isso muito natural, dos mais novos aos mais velhos. Se calhar pessoas que até torceriam o nariz à adopção homossexual. Mas quando a coisa é connosco, e nós conhecemos as pessoas e sabemos como elas são, os preconceitos “em abstracto” desfazem-se perante o carinho concreto que temos por essas pessoas.

    A situação é diferente, bem sei, o meu filho teria mãe e pai, mas é apenas um exemplo de como as coisas são relativas.

  36. Eufigénio

    Para o Nelson Santos

    O(s) meu(s) post(es) ainda conseguem ser maiores. Mas mesmo assim trocava-os por inteiro por apenas algumas linhas do teu. Parabéns, partilho em absoluto dessa argumentação. E aproveito para dizer que não sou tão reaccionário como em cima pareço.

    (Catarina, olha faz de conta que fui eu que escrevi o post do Nelson Santos, ok? :)

  37. Karla

    Nelson, claro que não é mentira. Claro que as crianças PODEM VIR A SER discriminadas (não o VÃO SER obrigatoriamente, mas podem vir a ser), claro que sim. O que eu quis dizer (e a Catarina reiterou uns comentários a seguir) foi que há SEMPRE por onde discriminar. Se não for pela orientação sexual dos pais é pela situação económica, se não for por aí é pelos óculos e pelo aparelho, se não for por aí é porque é mau aluno, ou porque é bom aluno, ou porque não sabe jogar ao elástico ou porque simplesmente os colegas já se conheciam todos e resolveram que não estavam para integrar o elemento novo. Acredita, passei por estas todas e os meus pais são do mais heterossexual que há.

    Quanto a mim, justificar a não adopção por homossexuais com a discriminação é como justificar a não adopção por um casal de rendimentos moderados argumentando que a criança vai ser discriminada quando todos os colegas vestirem roupa de marca e ela não. Ou seja, absurdo. Também passei por essa e não sou adoptada. E depois?

  38. Nelson Santos

    Quanto aos números e aos estudos holandeses, eu dou-vos um caso concreto e muito próximo de mim. O M., uma criança de um casal amigo dos meus pais, que era do mais comunicativo, inteligente e querido possível. Passava imenso tempo lá em casa, entre os meus 15 e 20 anos. Dormia na minha cama, comigo, na cama dos meus pais, com eles, na cama da minha irmã, com ela…hoje em dia dizer isto (por causa do caso da Casa Pia) podia trazer-me problemas. Nunca achei que fizesse nada de mal, o M. era uma criança adorável e gostava de adormecer ali, que é que se ia fazer?
    Ora, os pais do M. separaram-se tinha ele 6 anos. O divórcio não pareceu afectá-lo muito, provavelmente porque ficou a viver com a mãe, mas passava imenso tempo com o pai e eles até se terem portado muito bem com ele, sem disputas parvas que o pudessem magoar. Ano e meio depois, a mãe foi viver com outra senhora. De divertida e alegre, o M. passou a ser uma criança timida, introvertida, calada e com inúmeros problemas de contacto com as outras crianças. Passou a viver com a mãe e a amiga da mãe…e mudou completamente, num curtíssimo espaço de tempo! Coincidência?

    PS: Eu tenho poucos amigos homossexuais assumidos, 3 para ser mais exacto, 2 rapazes e 1 rapariga (francesa). Dos 3 apenas a rapariga concorda com a adopção por casais homossexuais…

  39. Mário

    A questão da adopção é bem complicada, mas tudo se resume a uma coisa: a capacidade de amar o outro e desejar a sua felicidade.
    Um casar que quer adoptar (e aqui não vou distinguir os casais heterosexuais dos outros) tem de possuir uma capacidade de amar e de querer construir uma familia sólida e feliz.
    Muitas pessoas não têm essa capacidade, fazem escolhas erradas, não são capazes de cedências e nem sabem bem o que querem. Já vi muitos casais separados, alguns com filhos de meses ou 1 e 2 anos. Para se criar um filho (natural ou adoptado) tem que se ter muita força de vontade e capacidade de entrega, e nem fazemos ideia da missa a metade antes de a criança nascer.
    Acho que os processos de adopção são excessivamente burocratizados e demorados, com tanta mariquice destinada a proteger a criança de abusos acabam por fazer com que ela passe a infância em orfanatos sem ganho para nenhuma das partes. Mas para decisão de adopção o casal teria de ter mais do que desejo de adoptar, uma capacidade de amar muito grande e um espirito de sacrificio bem afinado.

    Pronto, aqui fica a minha opinião muito depois de todos terem ido para casa.

  40. Nelson Santos

    Eufigénio, eu preferi o teu, está lá tudo. E também eu estou farto das paradas gay e do rótulo de homofóbico. Sou contra a adopção por homossexuais, a favor do casamento de homossexuais (lei patética) e não sou homofóbico.
    E se um dia a minha filha gostar de meninas, espero que escolha uma que goste tanto dela como eu! Porque eu nunca a vou deixar de amar…

  41. mana

    1. a ideia da escolha sexual. Nelson, achas mesmo que escolheste ser heterosexual ou és e pronto? Porque te parece que a homosexualidade possa ser uma escolha? Passível de seguir como exemplo?
    2. biologia: um homem ou uma mulher homosexuais podem ter filhos biológicos (conheço alguns), se o quiserem e não é legal proíbi-los. A opção pela adopção é um acto altruísta, generoso e, sobretudo de amor (e impede que o filho criado por ambos seja, de certo modo, mais de um).
    3. conheço filhos de homosexuais que são inveterados heteros e vice-versa.
    4. o grande problema com a adopção continua a ser o tempo que aquilo leva mas, infelizmente, depois de todos os casais equilibrados heterossexuais, ainda sobrariam certamente muitas crianças para os homossexuais equilibrados e para os sózinhos equilibrados. Que lhes dessem uma casa e amor individualizado. Porque a história da casa pia empola um bocado a questão, nem todas as instituições deixam de dar amor às crianças que acolhem, só que estas não crescem com a noção de que têm um adulto que é especialmente delas, uma família alargada, casa, uma vida diferente da das outras pessoas, maior consciência da sua individualidade e do seu lugar particular.
    (4. o meu pai fumou e deixou de fumar pelos quarenta e tal, a minha mãe nunca fumou. Eu fui a primeira a fumar, sendo a mais nova. A minha irmã mais velha, que começou depois, fuma bastante, a do meio nunca fumou, eu fumo um bocado. Não tem nada a ver com o exemplo, tem a ver com o gosto e a tendência, as circunstâncias da vida, etc.)

  42. Karla

    Só para acrescentar ao comentário da “mana”: um dos grandes problemas da adopção é que grande parte (mas mesmo muito grande) das crianças institucionalizadas não são passíveis de adopção. Isto porque os pais não as querem mas não as largam. Esses mesmos pais que não tiveram quem os impedisse de pôr uma criança neste mundo, não as querem, não podem cuidar delas, mas não se afastam o suficiente para dar lugar a quem queira e possa. E basta uma visita de 6 em 6 meses para que esta situação se mantenha.

    Se isto não é mais propício a criar instabilidade na vida de uma criança do que ter dois pais ou duas mães, vou ali e já venho :(

  43. Nelson Santos

    1. por incrível que pareça, mana da Cat, a comunidade científica continua a emperrar e a não chegar a um consenso na parte das escolhas sexuais. Na minha opinião a sexualidade é inata mas pode ser condicionada. Como exemplo dou a quantidade de homens casados e com filhos que não são heterossexuais mas que nunca tiveram sequer uma experiência homossexual. Apenas não o fazem porque é “socialmente incorrecto”. E são tantos!
    2. um homem ou uma mulher homossexuais podem ter filhos biológicos…uma mulher (como a Elsa disse) pode escolher um homem qualquer e engravidar. O homem só se for com uma “barriga de aluguer”
    3. Também eu conheço filhos de homossexuais que são inveterados heteros e vice-versa. E filhos de casis homossexuais, conheces?
    4. Aqui estamos completamente de acordo, o tempo de espera é o grande inimigo das crianças a serem adoptadas. Por muito que se ame, que se seja altruista etc, uma criancinha de 2, 3 aninhos é bem mais “gira” que um matulão ou uma matulona de 14 ou 15, não? Agora, tens a certeza que, depois de todos os casais equilibrados heterossexuais, ainda sobrariam certamente muitas crianças para os homossexuais equilibrados e para os sozinhos equilibrados?

    Os casos particulares são importantes, como esse do tabaco, o que não invalida que estatisticamente filhos de fumadores fumam mais. Mais uma vez, repito, é uma tendência, não uma obrigatoriedade!

  44. Nelson Santos

    E já agora, muito deste problema (o do excesso de crianças para adopção à espera anos e anos) resolvia-se com uma lei de interrupção voluntária da gravidez decente, ou não?

  45. mana

    Enquanto eu escrevia aquilo, apareceram mais uns quantos…
    Esqueci-me de uma coisa: a segregação que as crianças fazem na escola decorre da educação que os pais lhes deram. O meu filho andou a chamar “treta” durante um ano a uma colega da 1ª classe que lhe queria dar beijos na boca e lhe batia, porque ele não queria. Chamava-lhe “treta” porque os amigos lhe chamavam o mesmo, disse-me. Só quando vi a menina é que percebi que o que lhe chamavam era “preta”, o que para o meu filho não fazia qualquer sentido como insulto.

  46. Nelson Santos

    Não deixa no entanto de ser curioso que a argumentação colocada numa caixa de comentários de um blog seja, na minha modesta opinião, mais clara e mais lógica, concordando-se ou discordando-se que inúmeros “Prós e Contras” a que já assisti sobre este e outros assuntos…porque será?

  47. João Alves

    Sou a favor de todos os direitos dos casais homossexuais possíveis, desde que não envolvam terceiros, nomeadamente uma criança. Imaginemos a situação prática: o A., adoptado por um casal gay/lésbico, chega aos 6/7/8…14 anos de idade e faz o seu percurso académico normal, com as reuniões de pais, com as sessões de escola, com as festas de anos, tudo aquilo a que uma criança “tem direito”. Imaginemos que os pais dos outros meninos, não sabem da especificidade do casal que tem a guarda de A. e levam os colegas à casa de A. para a sua festa de anos e dão de caras com um casal gay/lésbico a receber-los à porta. Das duas, uma: ó se vêm embora com os filhos, ou na 2ª feira seguinte pedem a transfêrencia dos seus filhos ou do A. para outra escola. É isto correcto? Não, certamente que não, mas é a sociedade em que vivemos e é nela que temos de trabalhar se queremos alguma coisa feita, porque modelos teóricos são muito bonitos, mas têm de ter aplicabilidade prática, sob pena de ser um conjunto de letras sem nenhum significado. E caso nenhum dos 2 actos acontecesse, o mais provavel (atentendo à realidade portuguesa, urbana e sobretudo, não-urbana) seria que A. passase o seu recreio a ser chamado de maricas e paneleiro. O importante não é liberalizar a adopção por casais homossexuais, é apenas e só liberalizar o processo adoptivo por si só, porque eu conheço n casos (incluindo o da minha própria mãe) que não se importavam (e até queriam muito) adoptar uma criança, só que em Portugal isso é virtualmente impossível, devido à montanha burucrática que têm de enfrentar.

  48. João Alves

    Uma adenda a um comentário do Nelson Santos: Eu conheço uma rapariga assim, que têm um comportamento homossexual, apenas e tão só, porque é “socialmente incorrecto”. Ela é heterossexual, mas porque acha que a sociedade (e neste caso a sociedade são os pais e os amigos) lhe prestará mais atenção se tiver um caso lésbico, e como têm uma imensa falta de atenção dessa mesma sociedade, ela faz isso para dar nas vistas.

  49. mana

    – Para mim, esses de que falas não são heterosexuais, são homossexuais encapotados (repara que percebo que às vezes até sejam felizes, a sexualidade não é tudo e, para algumas pessoas, ter uma vida dentro da norma vigente, família, filhos, tudo regular, é mais importante do que viver a sua sexualidade e relação amorosa em pleno. Costuma ser mais foleiro é prás mulheres deles- ou maridos delas, já agora)
    – Não posso conhecer filhos de casais homosexuais, pois não? Mas conheço filhos de homosexuais cujos pais/mães vivem relações amorosas e que são equilibrados. Conheço um mais velho do que eu, que cresceu sem mãe, com o pai e os namorados que o pai foi tendo. Uma avó e uma tia, ocasionais. É heterossexual e uma excelente pessoa. Sem traumas e sempre bem disposto. Porque foi sempre muito amado.
    – Realmente não sei, é apenas uma suposição, dada a existência dos muitos matulões que referes.
    – Com isso e uma educação sexual decente, sobretudo.

    Nota: Nelson, apenas o primeiro ponto te era dirigido! :)

  50. catarina

    Nota (voz off): eu tenho os melhores comentadores da blogsfera. Está provado. Obrigada. Uma data de coisas para pensar.

  51. Nelson Santos

    Ó mana (salvo seja) eu sei, mas eu achei que todos eles eram particularmente importantes…
    Como disse antes, pode-se ou não concordar com o que se escreve por aqui, mas lá que tenho lido argumentos em ambos os sentidos de opinião com bastante validade, tenho. E já por isso valeu a pena lê-los a todos. Também é para isso que serve esta nossa pequena blogosfera, não é? Para assuntos pouco importantes, já basta o que eu debito lá “em casa” 😉

  52. catarina

    Não mudo de assunto, Eufigénio, mas é tanta coisa quando a coisa em si é tão simples para mim. E tenho pouco a acrescentar, a minha posição está no meu post e em algumas respostas que fui dando. Apanhei-me a acenar com a cabeça que sim, que sim, a uma data delas, outras menos, mas é como diz o Nelson, há argumentos com muita validade aqui.

  53. Nelson Santos

    Fosse sempre este o tom da(s) discussão(ões) a outros níveis e talvez nem fosse preciso andarmos a postar e comentar sobre certos assuntos.

  54. catarina

    Poizé…(corando)
    (para aliviar o tom e o tema que é pesadote e aposto que amanhã ainda vai ter mais umas mangas. sabes, Nelson, o que é preciso é que se perceba que as pessoas podem ter opiniões diferentes – como eu e tu notoriamente temos neste caso em particular – mas não nos desentendemos nem passamos à agresssividade por causa disso)

  55. Eufigénio

    Mas voltando à vaca fria …rs
    … uma boa noite a todos (bom serão sim Catarina)

  56. Nelson Santos

    Era o que faltava. O respeito acima de tudo. Como dizia a Dra. Remédios, as opiniões são como as vaginas…cada uma tem a sua e quem quer dá-la, dá-la!

    Ah, e só para meter inveja…amanhã é feriado por aqui (oh yeahhhhh!!!)

  57. Miguel S.

    “Quando eu era pequena, quem era discriminado na escola eram os não-baptizados. Mais tarde os filhos de pais separados.”

    Olha catarina, com menos uns anitos que tu e já de outra geração, senti na pele os dois casos quando não era ainda normal na nossa Lisboa não se ser baptizado e/ou ser filho de pais separados, nos magníficos anos 70. Nem imaginas o escândalo que foi no colégio quando descobriram que não era baptizado…

    Quanto ao assunto cá voltarei, com mais calma ao fim do dia.

    Isto está interessante.

  58. Mário

    A escolha sexual dos pais será assim tão importante para os filhos, não terá mais a ver com a transmissão de valoros e educação ?

    Ou seja, algum casal (hetero ou homo) tem relações sexuais à rente dos filhos ?

    A sexualidade dos pais não é percepcionada directamente (o carinho e o amor pode ser visto nos gestos e actuações do dia a dia), o que é visto directamente é o grau de afectividade que existe no seio da familia, a atenção e preocupação que os membros da familia têm uns com os outros, a forma como reagem aos bons e maus momentos, os valores que procuram transmitir e a educação em termos de normas que querem dar.
    As diferenças em termos de sexualidade podem ou não ser mail vistas pelas crianças (no entanto os outros miudos arranjam sempre pretextos para excluir e fazer troça) ou não, mas isso também já depende delas. Não se esqueçam que cada criança é única e já vem com o potencial próprio que pode ou não sel moldado pelo meio exterior (asminhas duas filhas são muito diferentes uma da outra, e isso logo desde o berço).
    Não há uma solução milagrosa, e cada caso de adopção tem semnpre de ser visto, o que é justo é que as crianças precisam de quem as ame e isso não está a acontecer a muitas delas.

  59. Lisa

    Esta discussão vai longa e a minha opinião vale o que vale, mas cá vai. Não há famílias perfeitas, não há cenários ideais. Em Portugal assistimos a uma exigência no que toda à adopção que não existe na vida real: mesmo quando se pretende arranjar pais casadinhos e heterossexuais para uma criança priveligiam-se os ditos ‘pais ideais’. Há imensas pessoas (casais e pessoas sós) que viram pedidos de adopção indeferidos pela segurança social (sendo-lhes recusado integrar a lista de potenciais adoptantes) porque não preenchiam esses requisitos de ‘família ideal’. Conheço casos. E isso é tremendamente injusto, pois na maior parte das situações são pessoas que querem ter um filho, amá-lo, criá-lo. E os meninos querem é pais que os amem; as crianças têm uma capacidade enorme de se adaptarem a circunstâncias sociais mais adversas (falta de dinheiro, p. ex) se forem mesmo amadas. É isso que os pequenos precisam e querem, muito amor, dedicação, gente que os queira e trate como merecem.
    É claro que há casos de manifesta inaptidão por parte de potenciais adoptantes, mas essa inaptidão não provém da classe social, cor, idade ou opção sexual.
    Ou alguém duvida que uma criança possa ser amada e criada no seio de uma família monoparental? Ou por um pai/mãe que entretanto se revelam homossexuais? Eu não.
    Já agora recomendo a leitura de um pedopsiquiatra que nesta questão tem uma posição muito equilibrada (aliás, é um homem muito inteligente e sensato, além de sensível): Eduardo Sá, que sempre defendeu que não há famílias perfeitas. É que ter filhos é uma opção do coração, venham eles do útero ou da instituição.
    :)

  60. catarina

    Todas as opiniões são bem vindas, só assim se esclarece de alguma forma quem ainda não pensou bem nestas coisas. Obrigada a todos.

  61. O Molico

    Algumas reflexoes e comentarios:

    -Antes de mais : A SEXUALIDADE NAO E UMA ESCOLHA! Estou farto de tanta ignorancia! A maioria dos estudos cientificos aponta para que a sexualidade de um individuo ja seja definida a nascenca e existirem diferencas fisiologicas entre homosexuais e heterosexuais. Um exemplo de um estudo recente: http://news.nationalgeographic.com/news/2005/05/0510_050510_gayscent.html
    Nao ha nada que a mama ou o papa possam fazer para mudar a sexualidade de uma crianca – fiquem descansados! A unica coisa que podem mudar sao comportamentos. E na maior parte dos casos isso tem efeitos negativos na crianca.

    – HOMOSEXUALIDADE NAO E UM COMPORTAMENTO! Um homosexual nao e homosexual porque tem relacoes sexuais com alguem do mesmo sexo. Conheco varios que nunca tiveram. Assim como conheco heterosexuais que tiveram experiencias sexuais com pessoas do mesmo sexo e que nao sao homosexuais. Um homosexual e alguem que se sente emocionalmente, mentalmente e fisicamente atraido maioritariamente por alguem do mesmo sexo.

    – Para diferencas entre casais homosexuais e heterosexuais ver: http://www.gottman.com/research/projects/gaylesbian/

    – A maior parte dos argumentos contra a adopcao por casais homosexuais parece centrada na discriminacao que as criancas possam sofrer na escola. As criancas discriminam o que nao e “normal”. Mas a nocao de normalidade nao e inata mas sim imposta pela sociedade. QUE SE REFORMEM AS MENTALIDADES E AS LEIS DO REINO!

    – OS CASAIS HOMOSEXUAIS SAO TAO BONS PAIS COMO OS CASAIS HETEROSEXUAIS. Acho que a quantidade de estudos feita nao deixa duvidas.

    – Estimado Nelson e Efigenio: Por muito liberais que se julguem tenho a vos informar que ainda nao ultrapassaram a vossa homophobia. Mas deixem estar, conheco muito boa gente incluindo homosexuais que continuam a lutar contra a homophobia internalizada. Ainda ha esperanca! E qual e a comparacao entre o desfile de “bichas” espampanantes e um casal heterosexuala fazer sexo oral sobre a mesa do restaurante??? Haja santa paciencia para tanto disparate que se ouve!

    -E engracado reparar que enquanto a maioria das mulheres que deixaram comentarios apoiam a adopcao por casais homosexuais e parecem pefeitamente comfortaveis com homosexualidade, para a maioria dos homens a ideia ainda cria descomforto. Deve ser o syndroma do “macho latino”. :) Gracas a Deus oico dizer que essa criatura esta em vias de extincao.

    PS: Desculpem a falta de acentos.

  62. Nelson Santos

    A falta de acentos desculpo-a, a falta de inteligência também.
    Caso não tenha reparado, o que eu disse foi que se deviam primeiro mudar as mentalidades e depois as leis, mas que até isso acontecer, não se devia aprovar algo que envolve a vida de crianças. Mas, já que se sente claramente mais confortável ao rotular-me de homofóbico, e apesar de poder garantir-lhe que não o sou, se a sua cabecinha prefere que alguém que discorda consigo tenha que o ser, tudo bem. Há quem só veja o mundo a preto e branco…mas esses não tem rótulos colados, não é?

  63. Andre

    Estão a falar de um conjunto de falsas questões e a centrar a questão da adopção no eixo errado. Estão a usar uma lógica do sol girar à volta da terra. O princípio que rege a adopção é o superior interesse da criança, não o superior interesse dos homosexuais ou dos heterosexuais. A proporção entre crianças adoptáveis e candidatos é de, pelo menos, 1 criança para 10 candidatos, e se há candidatos que esperam anos para lhes ser confiada uma criança, há crianças que esperam toda a adolescência para ser adoptados e não o são. As que se arrastam na espera, são crianças com problemas de saúde e de estabilidade emocional graves e que acabam esquecidas nas instituições. Para os nossos filhos que crescem com amor, não se coloca a questão dos asilos, haveria dezenas de candidatos que os pretendem para adopção. A lei permite que uma pessoa se candidate isoladamente à adopção. É o que fazem os casais, em que um dos elementos já ultrapassou o limite de idade para adoptar. Tenho a certeza que se um homosexual ou um heterosexual se candidatar à adopção e não for maricas na pretensão, que depressa lhe é confiada uma criança. Se, por outro lado, quiser uma criança com menos de 8 anos, sem problemas graves de saúde, sem deficiências, e sem memória da violência de que foi vítima ou que presenciou, então os candidatos entra num processo de avaliação sobre qual dos trezentos candidatos para crianças-quase-perfeitas, é melhor para o superior interesse da criança. E aí meus meninos a decisão é da equipa de adopção. Se o homosexual estiver em perfeita igualdade de circustâncias com outro(s) candidato(s), resta saber se a equipa opta por considerar relevante o risco da criança ser gozada pelas outras crianças pelo facto do pai (ou da mãe) viver com um amigo (ou uma amiga).

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