100nada

Uns pedaços de metal lançados para o ar

Do ruído do mundo, vamos recebendo essa cacofonia de sinais que as pessoas emitem em várias frequências. Somos umas antenas ininterruptamente ligadas, receptores de tudo o que os outros emitem, quer queiram quer não. Vamos emitindo também; e tudo isto se chama comunicação (ou falta dela, mas isso já são outros quinhentos).

Depois temos uns descodificadores incorporados que nos permitem deslindar, de entre todo esse ruído exterior, aquilo que significa alguma coisa, aquilo que não quer dizer nada, aquilo que talvez não seja exactamente aquilo: são os aparelhos que servem para sintonizar as várias frequências, até se conseguir entender o que nos está a ser transmitido. Às vezes o sinal é um bocado estranho, não se entende muito bem, não temos descodificador para aquela frequência. Outras vezes o descodificador faz saltar um dispositivo de alerta, sinal que aquela frequência está a emitir um sinal familiar. Sintonizamos melhor. O sinal traduz-se (por exemplo) nas palavras ‘revista tintin’ ou ‘chá de cidreira’, o que pode não significar nada para outros descodificadores de outros receptores, mas para aquele que temos e que estamos a usar quer dizer qualquer coisa como ‘alto! sintonizar melhor esta frequência!’, mas nem seria preciso porque a nossa (enfim no sentido figurativo) mão já está no manípulo a rodar botões e a afinar a recepção até ser tão boa que parece que a ouvimos toda a vida. E, se calhar, até ouvimos, noutros lados, noutras coisas, noutras pessoas. Por isso é que nos é familiar e por isso é que a entendemos.

Esses descodificadores e as frequências que usamos vão sendo calibrados a vida inteira. Há um sem número de factores que entra no processo e não se sabe muito bem quais são aqueles que escolhemos depois para a afinação da frequência. Mas são aqueles.

É por isso que as palavras ‘simpatia’ e ’empatia’, por muito bonitas que sejam, não têm nada a ver com sintonia.

(depois há frequências que nem os nossos setis incorporados entendem, mas isso também são outros quinhentos)

0 thoughts on “Uns pedaços de metal lançados para o ar

  1. Hipatia

    Às vezes estamos tão habituados ao ruído que nos esquecemos das sintonias. Ou como o barulho entre amigos sintonizados ganha o prazer dos silêncios mais íntimos :)

  2. SOD, o Pérfido

    Discordo completamente. A simpatia ajuda a difundir melhor os sinais. Até há descodificadores que eriçam as antenas todas em presença da simpatia. E não descansam enquanto não entram em sintonia.
    A empatia é sinal que a sintonia foi tão natural, que quase não foi preciso tocar nos botões… E, se por momentos se perde, num instante se recupera…

    Neste momento, não estamos em sintonia.

  3. Eufigénio

    Lá estás tu com a sopa de códigos Catarina!
    Mas desta vez arrisquei prová-la, a ver ao que sabia, até nem é má não senhora :))

    (Taka Takata, para mim, mantenho, honoravelmente o melhor)

  4. Isabela

    Bolas Cat., isto é um texto do caraças!! Se eu te dissesse que te sintonizei com uma absoluta clareza…

  5. Radiologa

    Acho que há muito boa gente que precisava de ler este post. Sobretudo o pessoal que anda em transportes públicos.

  6. Mar

    É uma sintonia sinfónica, a do JPC e do derFred!

    Bom dia, Catarina (a foto ali de baixo é de onde??) ;-))

  7. derFred

    Luna, também não precisas de ser tão peremptória. Acho isso de uma sincronia…