O dom do insulto mascarado
Como é quase carnaval, lembrei-me de escrever sobre máscaras. Assunto já muito usado, revirado e gasto, mas um gajo não tem obrigação de ser sempre original…
Sou uma apreciadora de bons insultos. Na minha modesta opinião, os bons insultos devem ter vários ingredientes: inteligência bastante, maldade suficiente, algum humor. Gosto de um insulto que me faça desatar a rir, abanar a cabeça e dizer ‘que grande sacana!’ e continuar a respeitar o meu adversário, mesmo sabendo que a faca atingiu o local certo e ainda se está a torcer na ferida. Um gajo, quando assiste a uma boa troca de insultos, aplaude de pé antes de raspar os pedaços dos vencidos do chão. Nem que sejam os próprios.
E um bom insulto dá trabalho e uma pessoa acaba por só os dedicar a quem de facto merece e aprecia.
Depois há toda uma imensa panóplia de insultos de classificações várias, desde os insultos brutos ao chamar nomes, a agressão cretina, a boca para o lado, enfim, toda a gente os conhece.
Mas há uma espécie de insulto que me intriga sempre. É o insulto-graxa. É um insulto muito curioso porque aparece sempre mascarado e a máscara que traz é a máscara da lisonja. É um insulto velado e em muitos casos, é um insulto involuntário. Como se a lisonja fosse transparente e por baixo aparecesse o insulto. Há quem dê por ele, há quem não dê por ele, mas é repetitivo e acaba por cansar. Parece-me que é um insulto um bocadinho carente, um bocadinho inseguro e um bocadinho com medo que isso se note.
Uma espécie de chego-me a ti para apanhar um pozinho de perlimpimpim. Ai é tão lindo este pozinho! Gosto tanto dele! Não te importas que eu aqui esteja, pois não? É que é mesmo bonito!
(e por baixo, a piscar em neon uma pessoa consegue ler eu também era capaz, cabra de merda, sou muito melhor que tu!)
Agora lembrei-me de uma das frases favoritas de uma amiga com quem falei há pouco ao telefone:
– temos pena.
- À espera
- Da Praça Vermelha para o Rossio