Os pré-derrotados
Sempre me fez confusão que se implorem votos como pão para a boca. A mão estendida, o olho murcho, o esgar de sofrimento tentando o sorriso. A cara de quem já sabe que perdeu e não sabe perder, a desculpa tu-cá-tu-lá da gripezinha, do cansaço, da falta de sesta…sem falar no amuo, no assim-não-brinco, no ninguém-gosta-de-mim-ninguém-me-liga-vou-perder-e-é-batota.
O que eu admiro nas campanhas eleitorais americanas é que todos os candidatos se comportam como se tivessem a certeza absoluta que vão ganhar sem margem de dúvidas. É o circo dos sorrisos seguros, da atitude prá-frente-siga, dos balões e do fogo de artifício, mas um político que quer ganhar não pode andar a arrastar os pés e a assoar-se para as televisões, só um momento, atchim…é humano como os outros? É, claro que sim, mas não pode perder a confiança nele. Se sabe que vai perder, que perca com balões e fogo de artifício, que perca com élan, que até ao fim se comporte como se fosse ganhar. Não é só uma questão de dignidade: é uma questão de angariar votos. Ninguém aposta no cavalo que já vem coxo antes da corrida.
Um dia destes estava a ver os vários candidatos e a pensar nisto.
O que vai ganhar está eufórico, entusiasta, aos saltinhos de contente, a imagem é de segurança, de entusiasmo: quase que fiquei à espera dos balões e das marchas, talvez até um John Philip de Sousa…se mantiver aquele ar, não me admirava nada que lhe fosse oferecida uma maioria absoluta.
Depois pegamos nos outros três mais pequenos.
Curisosamente, eu que continuo a pensar que o PC escolheu muito mal o seu candidato (um homem das bases não consegue acompanhar o tecnocracismo e a retórica dos políticos actuais – mesmo quando são mauzotes, todos eles – e, embora acredite que esse facto traga alguns votos, nunca serão tantos como os do anterior), achei que estava muito bem. Não se via ali qualquer indício de antecipação de derrota, talvez exactamente por ser um homem das bases: tem essa segurança, a de um PC que já não existe, mas no qual ainda há quem acredite cegamente.
Quando ao pai de família nacional, também ele é tudo segurança nos disparates que diz. Debita-os à lei da velocidade da luz, está tudo bem, qualquer coisa que diga é indiferente: vai ter mais votos e sabe, pode dar-se ao luxo de prosseguir com a sua campanha de pensamento ligado à boca. Vai sempre ter tudo quanto é intelectual que se preze atrás e não votar BE é parolice…
Finalmente, o outro, um bocado à toa. O retrato da noiva já um bocadinho gasta de casamentos defraudados, um bocadinho de pé atrás, sabendo que depende sempre dos despautérios que o noivo faça, querendo desmarcar-se mas sem poder. Mas vai-se aguentando.
Adiante.
Estou aqui a pensar que sou capaz de me ter esquecido de alguém, mas é talvez alguém que se recolhe à cama com gripe: e nestas coisas da política, quem não está presente, é esquecido…
(PS – com propriedade – ainda não percebi bem se o Prof. Freitas do Amaral é um homem coerente com as suas convicções ou se está completamente gagá, mas uma coisa é certa: quase me convenceu com o artigo da Visão…tire-se-lhe o chapéu, o senhor escreve mesmo bem…)
- Obrigada
- Vocelências
Bem, já não fui a tempo na de baixo mas como ela se deve ter esquecido de desconfigurar isto outra vez, deixa-me cá aproveitar antes que seja tarde ;-PP.
Não te esqueças que somos o povo triste, do fado e da saudade, por natureza. Não podes querer que os portuguezinhos (mesmo os politicos) se comportem como os amaricanos I’m the king of the world!
(nota prévia: eu só pareço distraída, faz parte da linha editorial…)
Pois então, Mar, está na altura de andar para o século XXI na política: prefiro de longe as técnicas agressivas de marketing de campanhas profissionalmente bem elaboradas e estruturadas (não tem nada a ver com o king of the world, outros países também as fazem) do que o fadinho triste de apontar a nódoa na cueca do adversário, a cusquice da vizinha pendurada na janela, enfim, o retrato de um país alcoviteiro e merdoso até na política. Aliás: a começar na política.
desta vez não ignoraste o PCP, o que é de louvar.
Eu nem quero comentar muito que isto dos comentários abertos não deve ser para durar, e prefiro não ter recaídas.
Apenas porque dessa cambada toda só me apetece falar do Freitas, o gajo que amuava em pleno debate televisivo com o Soares, o ‘desvocacionado’ político. Mas há gente a quem a idade faz bem, que elegância o homem, o político, descomprometido, coeso, inteligente, diria que, há falta de outro, neste deserto ideológico, quis ele representar o último dos dinossauros, quis ele viver com as suas convicções, que invulgaridade, e que bem o tem feito! Eu voto nele!! Já agora … qual é o partido? Ahh…é dos meus
Bjs Catarina
(já tinha saudades)
Bem, eu não sou muito vocacionada para ‘Portugal, este país de merdosos’ e outras afirmações na mesma linha, mas confesso que hoje depois de ouvir na televisão que Tony Carreira veio revolucionar (isso mesmo) a música romântica em Portugal já estou capaz de acreditar em tudo. Tenho procurado manter-me afastada da campanha política da mesma forma que me afasto da música desse suposto revolucionário.
Interessante e lucida cronica.Quanto ao F.do Amaral, creio que de gaga nao tem nada, parece-me mais coerente, e sobretudo lucido.Nao esquecamos a sua posicao face ao Iraque.
Agora estou aqui a pensar em mais uma crónica…:) Eu depois respondo a todos.
Catarina, desculpa aqui falar do que vai ali por cima, e desculpa a pretensão mas, o que tu querias dizer não era o “conciliar o papel de analista solteira com o de mãe política” ?
Credo, Eufigénio! :DDD
(bem visto bem visto…na realidade não levo papel nenhum, claro…;))
Continuo a abusar deste janela, agora para coiso sobre o teu post “Não sei se é possível ir para além disto”, posso? Então lá vai …Eheheheh
E eu a lembrar-me da Selva, do Ferreira de Castro, e daquela descrição do alívio dos homens que por lá ficavam tempos e tempos no amazonas, e a pensar, ainda bem que isto é europa, ainda bem que aqui já nem pastores há na política
Ah como me tenho lembrado do “Eu Cláudio” nesta campanha eleitoral, e como determinado candidato me faz lembrar o episódio do Caligula!
Ehhpá..qué que se passa aqui???até estou com medo que as letras desapareçam de repente :DDD
Pois gostei muito desta tua incursão politica,perde-se uma campanha a falar de tricas em vez de se tentar explicar qualquer linha programática,será porque é o caminho mais fácil,falar do mesquinho,do pequenino???será que eles têm alguma coisa para debater???
Não acho que o senhor esteja gágá..antes pelo contrário,deve ter chegado aquela fase na idade (em algumas pessoas só com os anos se consegue essa coragem) em que os outros e o “correcto” deixam de ter assim tanto valor e gostamos de ser coerentes e lúcidos e chegar ao fim de bem com a consciência.Mas o mais giro foi ver os outros todos a rabear…
Vês???uma pessoa anda tão carente que depois estende-se, estende-se….
Tou tão cansada que mal consigo escrever, quanto mais responder…
ai catarina… eu não quero saber dos partidos, pá. Quem bom poder comentar-te!
Olá Catarina!Olá Catarina!Olá Catarina!Olá Catarina!Olá Catarina!Olá Catarina!Olá Catarina!Olá Catarina!Olá Catarina!
(estou aqui, estou num grupo de apoio: “Bom dia, o meu nome é Vieira e ainda não pus comentários no meu blog, hoje!”
Olá Vieira! Olá Vieira! Olá Vieira! Onde é que eu me inscrevo??? Depressa depressa que ando a vacilar desta forma absolutamente incoerente e vergonhosa!
“Se fazes parte de uma sociedade que vota, vota também. Pode não haver candidatos ou medidas a favor dos quais queiras votar… mas há certamente alguns contra os quais queres votar. Em caso de dúvida vota contra. Por essa regra raramente poderás errar.
Se é algo muito cego para o teu paladar, consulta qualquer doido bem intencionado (há sempre um por perto) e pede-lhe o seu conselho. Depois vota ao contrário. Isso permitir-te-á seres um bom cidadão (se é o que queres) sem despenderes o tremendo tempo que um exercício verdadeiramente inteligente do direito de voto exige.”
Lazarus Long
Boa Catarina um para podermos comentar:)
Sabes sou ou estou completamente desiludida com a politica pelas posturas que têm tomado os nossos governantes, por decisões de raiz ligadas á educação e não só da pessoa com deficiência. Cansei-me de reuniões na Assembleia com todos os politicos independente da cor. Para sair com bolsos cheios de promessas de gente que não sabe do que fala, que sabe a teoria mas desconhece a prática …mas isso é conversa para horas.
Surprendentemente o Prof.Freitas do Amaral juntar-se ao PS deu me algum alento, pos me a pensar se em vez de optar por uma oposição que faz e apresenta obra feita…não hei de optar por uma maioria quiçá equilibrada!
Vou amadurecer a minha opção de voto!
Beijos