Um dona de casa tem de saber fazer as limpezas
Primeiro sacudo o dia. O tempo, esse que fica algures entre a cor do céu da manhã e o nevoeiro nocturno. Separo os minutos gastos: deito alguns ao lixo e amasso os restantes em horas, colados todos até ficarem iguais. No fim agarro no dia inteiro, compacto, descartado do que não interessa. É o tempo gasto. O ganho, esse guardado cuidadosamente para não se estragar com a erosão do gasto. Estanque.
Depois sacudo-me a mim. Vai caindo uma espécie de poeira de vozes, frases, de bocadinhos externos que se agarraram durante o dia. Varro a poeira e guardo-a também. Haverá alguma inútil, mas como saber ao fim de apenas um dia? Deixo que o tempo, esse que fica algures entre agora e outra altura, a vá comendo, aos poucos; a inutilidade não é coisa com que se perca tempo agora.
No fim sacudo o tempo.
Por estranho que pareça e, por mais que sacuda, há sempre mais.
E eu, também por estranho que pareça, gasto-o alarve e (tão!) inutilmente a colocar os dedos sobre uns quadradinhos pretos que têm umas letras desenhadas.
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Inutilmente??? Desisto. Tal como ontem. Deve ser do tarde da hora. Cat, vai para a cama. Não sabes o que dizes.
Lembra-me uma cena do filme “The Net” em que todos eles dizem a Sandra qualquer coisa do genero “És uma de nós” antes dela desligar o monitor…
Beijos e uma grande noite
Isto é mas é (adoro essa expressão: «é mas é») um ganda post. Assim. Como quem não quer a coisa.
Bonito. Repito o beijo azul.
Uauuu…Gosto caraças!!! Gosto mesmo. Isso é que é saber andar nas lides domésticas. Tirava a última frase talvez, que é uma contradição, pois que quem arruma assim o tempo é certamente para que depois o saiba escrever.
beijos de admiração
Pois isto hoje está muito sossegado por aqui. A dona de casa deve ter ficado cansada de tanta lide caseira… Hoje dormem até ás tantas…
Obrigada pela visita.
Beijos
mmmm…. isto soa-me mais a dona do seu tempo e da sua vida que sabe bem o que limpa. Já a inutilidade do tempo gasto nos quadradinhos… acho que não! É sempre um prazer passar por aqui e ler o resultado.
Muito bem, Catarina. Limpesa e arrumação de uma vez só. Texto magnífico, pertinho, pertinho, da poesia.
Duas correcções: Limpeza com z, é claro. E voltando a ler 2ª vez, vejo que me enganei por causa da falta de métrica: é poesia sim. As minhas desculpas.
Devia era ter dito mais, não é? Desculpa Catarina, comecei o dia com uma bruta enxaqueca e ainda vejo mal. Mas queria só dizer que gostei muitíssimo do que escreveste e do modo como o disseste. Um beijo.
Bom (aaaaaaaa…bocejo, já não estou habituada a noites em claro às voltas com benuron infantil) dia a todos!
E beijinhos e obrigada. It means a lot to me.
lindo
A sorrir, de admiração!
(e se percebi bem… boas melhoras)
É a Cat que está adoentada ou uma outra criaturazita mais pequena?
Obrigado, Catarina, por este pouco mais de ti que nos ofereces.
Obrigada eu, a todos.
(e pelas melhoras. nada de grave, apenas uma febre. e sim, Pedro, é o meu filho que está engripado)
Escrever: tempo ganho ou tempo gasto? Tempo andando, apenas isso. O valor atribuido apenas depende de quem o habita.
Arrumações
Ando há uns dias para contar aqui uma história, e hoje este excelente post da Catarina, decidiu-me. A verdade é que não tenho andado lá muito bem disposta e uma amiga, leitora do blog, já mo fez notar. Diz que…
Este é (mais) um daqueles textos que deveria escapar ao ‘triste fado de acabar perdido nas profundezas do arquivo do blog’…
Parabéns!
E continua a perder tempo assim, que vale a pena.
Beijinho.
Claro, Sérgio, mas o tempo, por não ser infinito, não dá para tudo, e o ganho / perda é sempre relativo a outras coisas.
Obrigada, Leonel. Um beijinho.
Eu sei aquilo a que te referes, Catarina. Também tenho um filho em casa, constipado. Temos de arranjar tempo para tudo.
Que post mais giro, Cat!
Obrigada, Vieira.