Ora bardamerda
Vamos todos recebendo emails e lendo em jornais e revistas e blogs as fotografias da catástrofe e discute-se se as fotografias são montagem??? Ora deixa cá ver bem, não aquela espuma ali é artificial, não, a onda não podia ser tão alta
e daqui a uns tempos, estaremos, com os nossos olhinhos clínicos e cínicos, civilizados e habituados a manipulações, a dizer:
ora deixa cá ver se este está bem morto ou se é tudo uma montagem, são bonecos de borracha, estátuas de cera, não, se calhar não são assim tantos
e o que me deixa verdadeiramente doente, para além de tudo isto, desta onda que só se consegue ver de longe, a uma distância emocional que nos permita discutir e dissecar o assunto (porque se mergulharmos nele, mais vale darmos todos um tiro na cabeça, tal é a dimensão desta fragilidade e total inutilidade da vida humana) é isso, essa mesma distância e frieza.
Não há saída para a monstruosa culpa de estar vivo.
(era só um desabafo. O programa, a vidinha, essas merdas todas continuam dentro de momentos como se nada tivesse acontecido. Não há saída senão o egoísmo e o atirar para o lado. Não é uma crítica. É um facto.)
- Pensamentos nocturnos debaixo do edredon
- Consequências do apagão de ontem?
O mais triste ainda é ter a perfeita consciência de que se a tragédia não envolvesse tantos europeus não daríamos metade da importância ao acontecido. Isso também é um facto.
Olá.
É. É outro facto, realmente.
(olá.:))
Discordo, Catarina.
Eu não me decido a analisar fotos. Vejo-as e às vezes salta-me algo de errado à vista. E aí chamo nomes ao gajo insensível (esse sim) que fez a montagem.
Ok, ok, Jorge. Tens razão. Foi só uma fúria impensada, a gota de água. Eu nem ia escrever nada sobre o assunto…
Eu decido-me a não as ver. É uma nova versão de esconder a cabeça debaixo da almofada.
Disseste “a gota de água”?
(pronto, pronto, foi sem querer 😉 )
Catarina: como já reconheceste, o jorge tem razão. O facto de estarmos a analisar aquela foto, que deve mesmo ser uma montagem, tem apenas a ver com a necessidade que temos, eu pelo menos tenho, de perceber exactamente o que aconteceu.
E isso nada tem a ver com o resto.
Têm tanta razão que já me retratei lá mais acima. Eu não penso…
Duende, eu vejo tudo. Uma pessoa tem de se obrigar a ver. Mas isso sou eu.
Para quê? Acaso ajuda alguma coisa? Talvez se nos obrigássemos a fazer alguma coisa…
Não, realmente talvez não adiante nada…não sei.
Tens alguma ideia para além de mandar dinheiro para as contas? É que pouco mais podemos fazer.
Mandar dinheiro (e não géneros) é o pouco e o melhor que podemos fazer.
(exceptuando os voluntários que vão para lá com as equipas fazer trabalho de campo, claro)
“Ninguém fez pior do que aquele que não fez nada só porque só podia fazer muito pouco”
(hoje estou para as citações! e esta nem me lembro de quem é!)
De qualquer maneira, ali pelo meu tasco está uma listinha das ONG’s, do dinheiro que já têm, o que precisam e o que se propõem fazer.
Eu já mandei uns tostões, poucos, mas foi o que se arranjou, Jorge. Realmente é a única coisa que se pode fazer.
Espero ainda vir a tempo de bater no ceguinho.
Uma catástrofe como esta tem uma dimensão esmagadora. Não é preciso aumentá-la mais. Não é preciso torná-la ainda mais sensacional. O mal não precisa de ser espectacular. Só em Hollywood.