E por falar em praia…(reposting…)
É uma praia estranha esta. Como todas as praias tem uma estrada marginal. Mas o mar não está ali. O mar está lá muito longe depois de um longo areal vazio. Da marginal saem escadas para a praia. Ao lado das escadas, homens queimados alugam toldos. E no fim das escadas começam passadeiras de tabuinhas de madeira. A praia é às riscas. Branca com riscas castanhas. E lá ao fundo uma risca azul.
E as pessoas vão pelas passadeiras para a praia lá ao fundo. Como se todo este areal não fosse praia também. Não se pisa fora da risca. O vento não impede o sol de queimar a areia. E as pessoas andam e andam. A risca azul fica mais perto e começam os guarda-sóis. Mas que guarda-sóis tão bem vestidos! São às riscas e todos têm saias. As riscas são sempre uma cor e branco. E as saias são iguais. E todos os dias os homens queimados põem um dedo na boca e depois no ar e viram a abertura das saias dos guarda-sóis para o lado contrário do frio que sentem no dedo molhado.
Guarda-se a roupa dentro dos guarda-sóis de saias. Não se guarda mais nada. O almoço come-se em casa. A praia é só de manhã nos dias bons. E nos maus também. A praia é boa para a saúde. E o ar do mar. É simpático haver sol, mas não é essencial. E toda a gente sabe que está sempre vento. Mas isso não impede ninguém de passear. Cumprimentam-se os conhecidos. Não há desconhecidos. E toda a gente sabe que a água está sempre gelada. Mas o que interessa é a cor da bandeira. Só essa impede toda a gente de ir à agua. E conta-se a história dos meninos entregues àquele homem muito queimado e com uns braços muito fortes que os mergulhava dentro de água, três vezes, por causa da saúde. Mas agora já podem brincar descansados, o homem já não está lá e já não há meninos a chorar.
E as crianças fazem castelos de areia ao lado da rebentação, naquela areia molhada que tem a exacta consistência para fazer janelinhas e elas não cairem. No fim enfeitam-se as janelinhas com pingos de areia molhada. E se não vier uma onda ainda se consegue fazer um muro de renda de pingos de areia molhada a toda a volta do castelo. E depois ficam ali a ver a maré subir e a desfazer o castelo. Sem pena, pois cada castelo desfeito é uma oportunidade para recomeçar um ainda mais bonito e desta vez aquela janela que não correu bem vai ficar perfeita. E se não for hoje, o Verão é tão comprido!
De repente todas as crianças largam os seus castelos e vão a correr para as mães. Mãe, quero uma bolacha americana! Ao longe um homem queimado e sempre muito pequenino carrega nas costas um cilindro de metal pintado de verde que parece mais alto que ele, preso por correias. Chega ao pé das pessoas que se juntam em grupos, tira as correias e poisa o cilindro na areia. Tira a tampa redonda. E lá dentro uns tubos de bolacha muito fininha e transparente, sem peso, que se desfaz na boca e quase nem existe. Uma nunca chega. Nem duas, mas a mãe só deixa duas. Por causa do almoço. Está quase na hora.
E as pessoas voltam aos seus guarda-sóis de saias às riscas. Despem os fatos de banho molhados e vestem roupa de praia. E toda a gente tem que se calçar e os meninos também. Porque agora já é meio dia e até as tabuinhas das passadeiras escaldam os pés.
É hora de almoço.
Não acaba o dia na praia. Só acaba um dia de praia.
- Recado particular
- Pá…pois…o reposting
A praia não podia ser mais diferente mas este post hoje fez-me lembrar o tio do Pedro, do Miguel e da Ana que vivia nas Berlengas e que lhes contava muitas, muitas histórias.
‘A história que vos contei ontem passou-se num tempo em que esta fortaleza tinha uma missão de guerra; hoje é bem diferente. Depois de ter sido restaurada, passou a ter uma missão de paz; fazer com que todos se sintam felizes, enquanto cá estão!’
Margarida Castel-Branco in Aconteceu nas Berlengas
Este texto faz aquecer os nossos corações nesta noite gélida de Outono, e faz-nos sentir saudades da estação quente. Dos longos passeios na praia junto à beira-mar, dos banhos refrescantes no “sal”, da anestesiante brisa maritima a bater-nos na cara, da liberdade das crianças brincando no areal, do aroma das sardinhas assadas, das noites longas numa qualquer esplanada sobre o mar. Recordações que fazem deleitar a alma já que o corpo se encontra preso em roupas pesadas, enrolado num cobertor, defronte de um aquecedor a gás, enquanto lá fora vai fazendo um frio de rachar.
Soube-me tão bem ler este reposting! Nada melhor para fechar a noite a sentir maresia.
Pois eu lembrei-me da Figueira da Foz vê lá. De dias de praia com muiiiiiiiiiiiiitos primos a fazer corridas e o dia todo para gastar! Ah! dias valentes e tantos castelos à beira mar e tantas cavalitas para em pares lutar e tantos mergulhos num mar de ondas com os adultos a vigiar e aquele prazer de furar de mãos dadas em risos de adrenalina à solta.
Olha, vou até lá. 😉
Beijo grande linda
É realmente uma memória de infância, da minha, na Figueira, em Agosto, quando a praia era de manhã e à tarde faziam-se outras coisas (creio que jogava minigolf no ténis mas não tenho a certeza. Ou apanhava caracóis nas coves da horta que existia por trás do jardim da casa do meu bisavô…tenho pena de não poder contar as histórias, todas as histórias, sem ser num tom impessoal…