100nada

Estava a pensar nisso há pouco

e lembrei-me agora outra vez quando vi a enorme frase que escrevi no post abaixo.

Há uns anos, ainda nos primeiros de trabalho, aconteceu-me uma coisa que veio sublinhar aquilo que eu penso dos portugueses (em geral) quando têm alguma coisa para dizer.
Escrevi uma porcaria de uma carta (e primeiro que eu percebesse o que era um ofício? levou meses…) normalíssima com todas as merdas dos exmos e os melhores cumprimentos e todas essas normas e, no texto, dizia o que tinha a dizer e – pensei eu – chegava e sobrava. Por acaso era mesmo só um pró-forma: oficializar uma decisão positiva ansiosamente aguardada que já tinha resultado numa festa ao telefone, ó soutora mas que bela notícia que me está a dar e essas coisas todas.
Ora estas cartinhas oficiais não são oficiais se não levarem não sei quantas assinaturas e afins, que a burocracia não se pode descurar. E lá fui eu à cata de outra assinatura.
– Eu não assino isto! ouvi eu passados os trinta segundos da leitura da carta.
Homessa! Mas então porquê? pensei eu e perguntei.
– Porque isto é pouco.
(Pouco? Como pouco? Tá lá tudo o que é preciso…)
– Uma carta destas, tem que se dizer mais coisas.
– Mais coisas? Quais coisas?
– Não sei, mais coisas…
– Mas o que é que você quer dizer mais aqui?
– Tem de se escrever mais!
– Bom, vai directa ao assunto, mas não vejo que…
– Directa? Esta carta não é directa! Esta carta é transparente!
– Transparente?
– Sim, não tem lá nada!
– Olhe lá. Tem o remetente. O destinatário. Os melhores cumprimentos. E a decisão. Que é que quer mais?
– Mais coisas. Assim não assino isto.

O que o tipo queria não eram mais coisas. Eram mais flores. Lá enchi um papel de flores a nossa melhor estima e consideração e este relacionamento que esperamos prossiga ao mesmo nível de satisfação mútua e o imenso gosto que temos tido em colaborar com a vossa estimada instituição e

claro

que a decisão tinha sido positiva. Que era o que do lado de lá queriam saber.

E tudo isto para explicar que o português típico tem sempre esta forma de raciocinar:

Para quê escrever em duas linhas o que se pode dizer em cinco parágrafos de inutilidades?

E que foi o que eu fiz agora com este post…

0 thoughts on “Estava a pensar nisso há pouco

  1. catarina

    Nem por isso. :)

    (este teu comentário era para um post que agora voltei a meter ali mais abaixo mas que este onde está veio susbtituir sabe-se lá como, não era? :))

  2. catarina

    Pois é, Gotinha…mas pior que isso. Penso que, quando a encontram, nem sequer percebem o que têm à frente…querem ‘mais coisas’.

  3. PN

    Exma Sra Catarina

    Após as devidas contingências venho por este meio expressar a minha total e eniquívoca concordância com o conteúdo e forma do post que visionei atentamente. Apresento prontamente o meu apreço pelo seu esforço e dedicação no sentido de melhorar a nossa vida com palavras sábias e pensamentos profundos. Sem mais assunto despeço-me cordialmente.

    Atenciosamente seu fã

    Pedro Nunes

  4. PN

    Só agora é que reparei na calinada que dei no ‘inequívoca’. Que bom protugués que andu a proticar. As minhas disculpas

  5. catarina

    Exmo Sr.
    Pedro Nunes

    No seguimento da v/resposta de 22 de Outubro do corrente, referente ao assunto em epígrafe, cumpre-me informar que, no que diz respeito ao que V.Exa. se prontificou a concordar, numa postura que vem dgnificar a Exma. Insitutição que que V.Exa. faz parte (a dos blogues),

    já me perdi…:DDD

  6. cap

    Não! Sem generalizar, claro. A burocracia e afins; algumas pessoas bem pensantes (de acordo com os auto-padrões), ainda vá. Mas aqui, e em muitos outros sítios consegue-se dizer mais do que se quer, em poucas palavras.

  7. cap

    :) Tudo depende de quem lê. Mas até os meus “enigmas” já me foram traduzidos por leitores. :))

  8. cap

    Foi o que ia acontecendo hoje… ainda bem que tudo voltou ao “normal” pelo menos por mais algum tempo. 😉

  9. catarina

    Era só uma experiência, cap: mas o 100nada sem comentários ficaria mesmo 100nada. Faz parte deste blog. :)