Uma coisa séria (para variar)
Confesso. Não estou grande espingarda para tontarias.
Há uma pessoas todos os dias na minha vida. É uma fonte de inspiração para a personagem mais popular aqui do blog. Não é que as coisas que diz e faz não sejam assim, tal e qual. Mas há sempre o outro lado, claro. Um lado feito de muitos anos a aturar o meu mau feitio matinal e as minhas coisas. De organizar a minha vida. De ter criado o meu filho no primeiro ano de vida dele. De uma grande amizade e carinho.
Hoje apetece-me deixar aqui um beijo e um abraço à minha querida Etelvina que vai trabalhando com as lágrimas a escorrerem pela cara abaixo, enquanto lá longe um homem já muito velhinho, que há uns dias deixou de comer, de beber, de tomar os remédios, que já mal consegue respirar e quase não reconhece ninguém, pediu aos filhos e às filhas para se irem despedir dele.
- Só um breve postalinho
- Estava mesmo a precisar disto!
mulheres de armas :'(
Um beijinho para a Etelvina. Diz-lhe que é muito querida por aqui.
E podem ser tão fortes os laços que nos unem a essas preciosas ajudantes que, nos bastidores, nos tiram o trabalho de cima. Um abraço grande para a tua Etelvina. Que mais se pode dizer nestas ocasiões? :'(
A Etelvina entrou na família pra minha casa, primeiro, depois estendeu a sua actividade ao resto da família (por isso eu sou “Dona” e a mana é só “Menina”). Entrou pra minha casa há mais de 11 anos, assistiu à mais tenra infância dos meus dois filhos e saíu por cedência à mana, porque não havia ninguém mais confiável pra ficar com o meu sobrinho e o primo dele já ia para a escolinha.
Talvez não saibam, mas com 11 anos a Etelvina foi trabalhar para longe de casa, na lavoura. Dormia por cima dos estábulos, comia o que lhe davam (às vezes era só pão – e pouco), trabalhava todo o dia, até já não sentir o corpo e voltava a casa de 6 em 6 meses, prara rever a família e trazer o dinheiro para casa. Desta escravatura, cresceu para uma situação em que vive na sua casa (grande!) num daqueles bairros que eram clandestinos e agora são de “auto-construção”, anda sempre bem arranjada, viaja para o estrangeiro e montou um negócio para os filhos. Não duvidem que é mesmo uma mulher de armas.
Cá em casa há uma Etelvina também. Há 9 anos que aqui trabalha, é a segunda mãe da minha filha, que lhe deixo sem a menor preocupação, porque sei que o único problema que poderá acontecer é excesso de carinho. Também ela aos 12 ou 13 anos andava a trabalhar no duro. São mulheres de armas, mesmo. Em momentos de tristeza sentimos mais ainda os laços que nos ligam a elas e quanto lhes devemos.
Mana da Catarina, obrigada por nos dar a conhecer um pouco do outro lado da Etelvina. Beijinho.