Sobre a vida e mais merdas obscuras e tretas afins
Foi por olhar para a estrada, acho eu. Como exemplo, é um bocado estúpido um pedaço de estrada, eu sei. E podia ser mais poético com tanto mar de ondas cinzentas e céu carregado ao lado. Mas não é um exemplo, foi mesmo a estrada, uma rua. Até poderia precisar o nome e o número, mas estava distraída e não reparei. É possível que tenha sido a luz. A cor das poças de água. Ou a total ausência de qualquer outra pessoa. Ou outra merda qualquer, que é que isso interessa? Um gajo perde-se nestas descrições, que a água estava a brilhar apesar de suja, que o mundo se resumia a branco e verde cinza e nunca mais chega ao sítio, ali às voltas na rua, como se se quisesse perder para não chegar a lado algum.
Seja lá como for e onde tenha sido, dei por mim a pensar na vida e mais merdas obscuras e tretas afins, que um gajo vai pensando por aqui e por ali e nunca sabe onde é que chega a alguma conclusão. Nunca chega, deve ser por isso, apesar de se ter a ilusão que, numa qualquer rua pintada com uma certa luz, há um sinal luminoso que diz ‘por ali’. Mas pode ser por ali ou pelo lado oposto, tanto faz. Se se chegasse a algum lado, perdia a piada toda – a vida é para se gozar como um labirinto com alguns bancos de pedra onde, por vezes, um tipo se senta e descansa um bocado; uns quantos calhaus que estão gastos das cabeças que lá bateram. E uns sinais que indicam direcções. E todas são certas ou erradas, conforme quem olha.
Mas a placa lá estava e um gajo segue a placa, parece-lhe bem. Por acaso, no meu caso, parece-me mal, mas também: porque não? E a placa (a puta da placa, que já me está a irritar este post, anda lá com isso!) dizia (não, não dizia ‘por ali’, ‘por ali’ era um exemplo no parágrafo acima): ‘a vida, um labirinto sem saída,’ (esta parte bastante óbvia e redundante) ‘não é’ (esta parte em letras muito grandes) ‘para se cortar em fatias’.
E ali naquela rua (suspeito que se tratava de um dos tais bancos de pedra do labirinto que corre ao lado da realidade) deixei-me de merdas e resolvi que seria ali, naquele preciso momento, que terminava de vez a porra do luto pelas minhas misérias de treta.
Quando se termina um luto é um abrir de janelas e cortinados e cortinas, deixar entrar o ar fresco da manhã e o calor e a luz do sol. E por um bocado é como se fôssemos uma planta, e fosse primavera, e renascemos (mais uma vez).
Bom regresso, feliz regresso, amiga.
A minha amiga oradora (escritora)antecedente disse tudo,como sempre… é dona de grande sapiência a D.Vi.É mesmo isso,Catarina,um novo renascimento para a vida,uma nova etapa,um caminho que se escolhe seguindo os sinais(ou não).
Mas olha que ás vezes é cá um labirinto…faz favor..neste momento não há nem um banquinho por perto..Fogo!!!
Obrigada, amiga Vi. Por agora, passemos à fase de desfragmentar pedaços dispersos. Depois, o resto vem com o tempo. Um grande beijinho.
monalisa, acho que o que é preciso é ter vontade disso. Desejo-te um banquinho de pedra confortável para breve. Um beijinho e obrigada!
A vida parece muitas vezes assemelhar-se a um cruzamento com as placas contraditórias em que Portugal é tão fértil. No mesmo poste encontras dois sinais: um com com sentido proibido e outro com a obrigatoriedade de virar à direita. Coincidência ou não, acabei de o ver na televisão. E fica aqui a meia-dúzia de passos. 😉
por isso é que a minha ‘decisão’ é absolutamente indiferente…:)
Bem… este é, para mim, um post antológico!
Obrigado por esta pérola!
😉