100nada

Som novo, vida antiga

É um exercício de escrita. Deixar os dedos correr ao sabor de uma música que nunca se escutou antes. Mas os dedos param, para ouvir melhor, repeat mode (sou uma obsessiva) e

mais uma vez

agora isto não tem nada a ver mas

já alguma vez escrevi sobre o Ronnie Scott’s? Não, claro que não. Nunca escrevo sobre Londres. Nunca escrevi sobre o Waterstones, aberto todos os dias e ao domingo também, ali mesmo na esquina. Nunca escrevi sobre todos os dias entrar num sítio que ficará para mim como uma paixão nunca esquecida, uma livraria de esquina. Todos os dias, todos os dias entrei no Waterstones, todos os dias de muitos anos. Nunca escrevi sobre as tardes cor de noite, sobre os dias em-que-à-noite-há-sempre-sol. Nunca escrevi sobre o frio cortante e seco, sobre neve no jardim e a relva no verão, húmido e à beira de trovoadas. Nunca escrevi sobre estar sentada no chão do RAH depois das filas para os bilhetes dos Proms. Nunca escrevi sobre endireitar a relva com os pés, num intervalo de um jogo de pólo. Nunca escrevi sobre os meus chapéus com salmão e morangos e taças de champanhe. Nunca escrevi sobre mind the gap. Nunca escrevi sobre as ruas estreitinhas de Covent Garden, sobre almoços no Oriel, sobre jantares no Drones.

Nunca escrevi sobre tanta coisa.
Nunca escrevo sobre o que me falta.
mas às vezes sabe tão bem…obrigada, minha querida. Pela música e por tudo e tudo.

0 thoughts on “Som novo, vida antiga

  1. duende

    Suponho que é normal evitarmos escrever sobre o que nos aguça a saudade. Mas talvez hoje alguém tivesse feito o que tu fazias e os lugares sentiram a tua falta. 😉

  2. catarina

    Eu é que ando com saudades de nem sei bem o quê. Deve ser de estar fechada em casa, vou mais longe na saudade…:)

  3. Jorge

    O Ronnie Scott’s!!! Quando quiseres escrever sobre ele, fáxavor. :-)
    Vi lá uma banda brasileira de jazz-bossa-nova-fusão ou lá o que era aquilo, que conseguiu pôr o pessoal em pé a dançar naqueles cubículos! E a primeira parte era “sounds from Mozambique with Mayuko”.
    E sim, era a Teresa Mayuko!

  4. catarina

    Eu vi uma data de coisas que nem me lembro dos nomes, Jorge. Durante um tempo ia lá todos os fins de semana e mais algumas vezes. :) Adorava aquele clube e o ar decadente de tudo aquilo. :)