A onda da alegria
(ou ‘como a malta vai ao engano pelo título de um post’)
Deixei de comer batatas fritas de pacote.
É quase tão difícil deixar as batatas fritas de pacote como deixar de fumar.
Já deixei de fumar três vezes:
– a primeira estava com tanta tosse que fiquei sem fumar duas semanas; era isso ou perder os pulmões pela garganta acima. Ao fim de uma semana quem estava ao pé de mim pedia de mãos postas, fuma por amor de Deus, é impossível aturar-te assim. Ao fim de duas semanas, passou a tosse depois de um maço seguido, mistérios da medicina alternativa.
– a segunda vez fui convencida que tinha de deixar de fumar. Até deixei de fumar ao mesmo tempo que quem me convenceu. Mas deixei de fumar pelo método que dá menos resultado: reduzir. Reduzir drasticamente. Os únicos resultados desse método são viver apenas para o próximo cigarro de cronómetro na mão, moer o juízo a toda a gente e recomeçar, compensando a nicotina toda que ficou por tomar. Passando de um maço por dia para dois. Ou pelo menos foi isso que me aconteceu.
– a terceira vez convenci-me a mim mesma. Às dez para as duas da tarde, com o café do almoço, anunciei que aquele era o último cigarro da minha vida. Às duas da tarde estava enervadíssima e ainda não o tinha apagado. Às três da tarde estava a insultar toda a gente. Às quatro da tarde tinha os olhos fixos no maço que não tinha deitado fora para provar que era mais forte do que ele. Às cinco da tarde comecei a ter tosse. Às seis da tarde fui vomitar. Às sete da tarde tinha dores horríveis de úlceras e afins. Às oito da noite percebi que tinha sido realmente o último cigarro da minha vida, visto que esta tinha acabado às dez para as duas. Às nove da noite assumi que era uma fraca, acendi um cigarro, passaram-me os impulsos suicidas de acabar de concretizar aquilo em que me tinha tornado (um cadáver adiado) e às dez fui comprar outro maço que o anterior tinha acabado.
E deixei-me de merdas. Um gajo sabe que lhe faz mal a tudo e mais alguma coisa, acende um cigarro e fica a pensar nisso, na vida, na morte, nos vasos que caem das varandas em cima da cabeça e nas leis das improbabilidades absolutas que passam a vida a acontecer e, quando dá por ela, o cigarro terminou e está na altura de acender outro. A nicotina é tão viciante como a morfina, dizem. Não sei da segunda, mas confirmo a primeira. E nem sequer digo, qualquer dia deixo de fumar. Sou uma agarrada. Azar.
As batatas fritas de pacote não são assim tão viciantes. Para deixar de comer, um gajo deixa de as comprar. Ou, em alternativa, compram-se lights que sabem a pouco e são suficientes para comer meia dúzia e pensar que afinal o que apetece mesmo é uma caixa de tarteletes. Há muito tempo que só compro batatas fritas light.
E afinal, a onda da alegria, onde é que ela está?
Ah.
Um dia destes, devia estar distraída e agarrei no pacote errado. A onda da alegria está nas batatas que estavam inda agorinha mesmo no pacote vazio que tenho à frente.
- Nota
- O último dia
Engraçado, hoje passei pelo mesmo com uma tal de coca cola light que vinha como bónus no pack. Tão ruim, tão ruim que acho que até enjoei a coca cola heavy para castigo.
Então e a técnica de ir fumando cigarros com misturas cada vez mais horríveis (acabando nos celebérrimos mata-ratos)? Sei de umas pessoas que conseguiram deixar assim. Mais uma medicina alternativa…
Quando dizes a marca dessas tarteletes? Ainda ontem estava no supermercado a olhar para todas as caixas existentes e a tentar adivinhar quais seriam…
Mas se voce se mantiver poderosa e calma…e o deixá-lo vai ver como respirarámelhor, sorrirá mais e ficará mais luminada. Mostraráa voce mesma que tem força interior.
Apaga já esse cigarro, mulher.
😀 deixa lá há coisas piores de se engolir, como por exemplo, sapos vivos!
Batatas fritas de pacote só as Ti-Ti. Quanto a deixar de fumar é coisa que se faz com a maior das facilidades. Pelo menos é o que dizem :;))))
Rui, também conheço a técnica dos mata-ratos (fez parte do método da redução), mas comigo não deu. Quanto à coca cola light, concordo, é péssima!
Sofia, eu digo em privado que senão lá se me esgotam as tarteletes (quadradinhos vermelhos e brancos…;-))
Marisa, eu sei que sim, mas não me apetece provar que sou mais que o meu maço. Obrigada pela visita.
Papas (vou passar a tratar-te assim, já que o nick é muito comprido), pois é bem capaz de ser.
Duende (sumida) não conheço as ti-ti, mas hei-de tratar disso. Pois dizem que sim, naturalmente quem nunca tentou…;)
As Ti-Ti são assim para o caseiras. Eu se fosse a ti não comprava. Era mais um vício para te livrares.
Tantos “evangelizadores” que te querem salvar, catarina.
Olha: sê feliz aos bocadinhos!
(e cuidado com os vasos nos parapeitos das janelas 😉 )
Estás é a picar-me Duende!
Rui, o que já ouvi de evangelizadores…;)