100nada

Porque é que lemos os blogs que lemos?

Ontem, depois daquela maratona de prémios e razões pelas quais leio aqueles blogs (sem qualquer desprimor para os outros que leio, mas que achei que nem eram dardos nem alvos), fiquei a pensar no assunto. E, a passear de link em link em blogs que não costumo ler, encontrei esta ideia (já fui à procura do blog, mas não encontro; quem souber, por favor diga-me, para aqui colocar a citação certa com a devida vénia): aquele blogger que ali escrevia, atribuía aqueles prémios não aos blogs amigos mas aos blogs que achava que deveriam receber o prémio.

Ora bem, não quero ser injusta para com essa frase, já que passei por ela a correr, mas partindo de um pressuposto, “não dar prémios aos blogs amigos e sim aos que merecem”, fiquei a roer a coisa. Sim, também eu dei os prémios aos blogs que me pareceram encaixar mais no perfil. Mas os blogs amigos não são menos merecedores de prémios, abraços, beijos e, principalmente (o que aqui interessa realmente) leituras. Todos os blogs que eu leio são, na minha opinião, tá claro, merecedores de leitura.

E fui roendo este tema do porque é que que lemos os blogs que lemos. Ou porque é que leio os blogs que leio; na primeira pessoa, que é a única que me responde enquanto escrevo.

Isto do tempo é curioso. Eu comecei a ler blogs porque comecei a escrever um (este ego e este feitio, vi dois blogs e pensei – ou melhor, pensaram por mim – vou abrir um blog (“devias era abrir um blog”). E, só depois é que os comecei a ler, seguindo os links dos dois que lia (um deles ainda leio, é um dos meus favoritos e ela sabe quem é; o outro é escrito por uma criatura inchada e fiquemos assim). Ao fim de uma semana de escrever os meus dislates (com mais rendinhas e folhinhos na altura), fui apontada como blog da semana ou do mês ou coisa que o valha e descobri a blogsfera. Fui ler.

Nos primeiros tempos, confesso, fiquei pasma com o bem que se escrevia. Caramba, afinal as pessoas escreviam mesmo num excelente português, desconhecidos totais que deviam estar em jornais (alguns agora estão, a blogsfera foi a segunda vaga de promissores cronistas, depois da vaga da revista K). E, não só escreviam bem como escreviam coisas giras. Bestial. Fiquei encantada com a coisa e lá fui andando e descobrindo mais blogs (não eram assim tantos) e achando tudo lindo (principamente o sucesso do meu, pois tá claro).

Mas são cinco anos. Mais até. Cinco anos a ler blogs. Aquele encanto da novidade, passado um tempo, começa a desaparecer. Começa-se a perceber que muito do que se escreve é outra vez a mesma coisa. Começa-se a achar que há realmente gente a escrever muito bem, mas espremendo, dá pouco. As ideias não abundam, é mais a forma. A rendinha e o folhinho da escrita ultrapassa o conteúdo e um gajo só consegue digerir uma certa prosa poética sem grandes pés para andar, até um certo ponto. Mudei de agulha, ou fui mudando até só ler o que realmente me interessava. Porque a bela escrita, sinceramente, a blogsfera literária convencida toda espremida dá menos que um capítulo de Philip Roth, John Updike ou Cormac McCarthy. Deixei-me de blog-literaturas e passei a blog-leituras.

O que me traz ao porque é que leio os blogs que leio. A razão principal é por sentir que são blogs “reais”. Têm gente dentro. Até podem ser um bocadito mal escritos, alguns deles, mas são honestos, mesmo que sejam totalmente inventados. São credíveis, são ligados ao mundo, são de pessoas, em resumo. Não são de bonecos falantes. (parênteses para a SOCA: quando escolhi quem lá participava, sabia que nem toda a gente estava ao mesmo nível na escrita, como é evidente; mas pareceu-me que todas as participantes eram PESSOAS, genuínas, com sentimentos fortes à flor da pele e sem precisarem de grandes floreados para passarem a mensagem.) A mim, em tudo, interessa-me muito mais o conteúdo. Para literatura, tenho que chegue e sobre, de escritores que têm tudo, conteúdo e forma. Claro que aqui o tempo também implica escolhas e, cada vez mais, é limitado para tudo o que quero e gosto de fazer; escolho isto. As minhas blog-leituras. Leio os blogs que leio e não tenho vergonha nenhuma de os ler. Nem sequer coloco a questão de não serem merecedores de prémios (como se estes prémios valessem alguma coisa, para além do divertimento) por serem blogs amigos.

Não é que se aplique a tudo, mas aqui na blogsfera, para mim, é assim: aquilo que eu escolho, aquilo que eu gosto é o que tem mais qualidade. Ponto final.

Adenda: também foi mais ou menos por aí que me deixei de merdas no que escrevo e passei a ser este gajo que escreve directo do cérebro para o editor de textos (passando pelos dedos, mas muito pouco pela reflexão e menos ainda pelos lavores)


No semáforo vermelho

(5 de Outubro)

Está um pobre aleijadinho a pedir. Sofre de uma canadiana, arrasta as duas pernas que entortam para dentro e de tremuras pelo corpo todo. Para além disso sofre de um caparro porreiro, barba por fazer e cara de quem arranca máquinas de multibanco só à força de braços, nas horas vagas. Estende as mãos para os carros, benze-se todo duas ou três vezes e depois, como ninguém abre a janela, faz outros gestos que devem significar uma praga qualquer por ninguém o acudir. Lembro-me logo dos pedintes mais conhecidos dos meus tempos de estação de comboios do Cais do Sodré, a caminho das aulas: o cego que saltava poças de água no inverno e o aleijado que sofria de uma perna das calças arregaçada.

Vá lá que o semáforo abre antes de chegar a minha vez de levar uma praga. Mas antes isso que uma canadiana pelo vidro adentro. Ou abrir a janela e ficar sem carro. Isto hoje em dia anda perigoso e já nem nos pobrezinhos coitadinhos podemos confiar.



Prémios Dardos e Prémios Alvo

Prémio Dardos

Prémio Dardos

Prémio Alvos

Prémio Alvos

O António Pais atribui-me o Prémio Dardo e o José Pimentel Teixeira atribui-me o Prémio Alvo, o que muito agradeço.

Isto de ter alteregas é o que dá.

Trocando os prémios por palavras com um máximo de três sílabas, tarefa difícil na blogsfera, mas cá estou eu para isso:
– o Prémio Dardo significa que um gajo (como eu) chaga a malta um bocado, mas vá, a malta atura porque acha graça.
– O Prémio Alvo significa que um gajo (como eu) chaga a malta um bocado e a malta embirra porque acha graça.

(in the eye of the beholder e essas coisas, afinal não tem a ver com alteregas; e, nos meus prémios eu é que sou o beholder, portanto eu é que acho graça, embirro, aturo, etc etc)

Ora então, segundo as regras, tenho que escolher 15 blogs dardos e 7 blogs alvos (não perguntem, não fui eu quem estabeleceu isto), o que me arranja problemas complicados: eu não sei se leio assim tantos blogs.
Mas vou tentar (por ordem alfabética, para não ofender ninguém e porque é a ordem que estão os meus blogs no bloglines, eu sou uma rapariga prática)

Blogs Prémio Dardo

Anarca Constipado: o Anarca é e continua a ser a voz mais sarcástica da blogsfera; “vale tudo mesmo tirar olhos” e “a situação é desesperada mas não é séria” são das melhores frases que se aplicam a tudo isto.

Apedeites V2: o JPG foi a primeira pessoa que me ajudou na blogsfera; tenho acompanhado aquele feitio truculento, quase amargo às vezes, mas sempre direito; não tem medo de nada aquele.

blogue dos Marretas: a rir é que se dizem coisas sérias e aqueles dois é sempre a aviar. Confesso que tenho uma predilecção pelo Animal, que conheci melhor nos comentos da Soca. Nunca vi tão pouca palavra tão certeira aos assuntos e ainda nos desmanchamos a rir.

Cabra de Serviço: estas gajas (que me perdoem os rapazes que as acompanham, mas para mim é o blog delas) atiram a matar para todo o lado. E quase sempre acertam. Além do mais, temos infância em comum, eu e a Teresa, embora indirectamente. Nestas coisas, isso conta.

Certamente! O Paulo é o Paulo e já escrevi muito sobre ele. Mau feitio, embirrante, polémico, talvez sim; mas um tipo impecável, no que a mim respeita. Além do mais, aprendo imenso no Certamente; o Paulo escreve sobre o que sabe, coisa que, enfim, é bastante rara na blogsfera.

Contra Capa: A Cristina tem um dos blogs mais generalistas que conheço, isto no melhor sentido. Tanto mete gajos giros como textos muito sérios que me deixam a roer uma data de coisas. É daqueles que leio alto a pessoas que nem lêem blogs. Muitas vezes me emociona, mas o que mais gosto nela é aquela inteligência cortante com que vai temperando o que escreve.

ContraFactos e Argumentos: O Pedro Fonseca tem este blog que é uma espécie de rede privada sobre a web e mais uns quantos temas. Apanha coisas incríveis e tem sido a “minha antena” para o que se passa no mundo. Para além de dar connosco – a mim e às minhas leitoras – em doidas com os loops…

Controversa Maresia: A Sofia Vieira é a Sofia. Não há outra. É a mulher com mais tomates que conheço. Fodida com tudo o que a tira do sério, apanha o ridículo das coisas como ninguém e (agora muito baixinho, para ninguém ouvir) é das pessoas mais humanas que conheço. Uma amiga a valer, daquelas que, não fossem os blogs, nunca teria encontrado. Algumas coisas boas há aqui, sem qualquer dúvida.

crónicas dos pequenos delitos O lado humano da Sofia Vieira é este. Não é o Um amor atrevido, esse é outro lado, o de dentro. Este é o das pessoas. É o blog que mais me fez chorar até agora.

french kissin’: Peguei-me com o JMF ainda a blogsfera não tinha dentes e era ele autor do Terras do Nunca. Respondeu-me que nunca tinha alterado um post e iria fazê-lo pela primeira vez. Nunca mais me esqueci por ter sido uma parva e ter cometido uma injustiça. Foi ele que me convidou para o gmail e o meu primeiro email do Miragem foi para ele. Não lê isto mas eu fui lendo sempre. Creio que alguma coisa o entristeceu em certa altura e o blog ficou ainda melhor. É tramado, mas acontece.

Ideias Soltas: O Carlos Alves é meu amigo há muitos anos. Fizemos umas coisas giras, juntos, demos cabo de algumas coisas institucionais, fartámo-nos de ranger dentes e rir ao mesmo tempo. O Carlos seguiu pelo caminho das pedras e das lutas contra o sistema. É um homem bom e mais não preciso de dizer.

Plexu: O Plexu finalmente abriu um blog onde atira duas linhas de cada vez e de cada vez que as atira, acerta em qualquer coisa. Ou em várias. Adoro aquele blog, nunca sei qual será a próxima coisa. Pena que não seja mais regular, mas não se pode ter tudo.

Vanus: A Vanus é uma pessoa complicada. É um poeta que nega a condição a cada passo e uma mulher sem medo de dizer o que lhe vai na alma, o que pensa, o que sente e o que é. O auto-realismo é moeda raríssima por aqui e, se alguma coisa exagera, é quando fala nela a dizer que é um traste. Não é, tá claro: é uma pessoa que, quando se vê pela primeira vez, apetece ser abraçada por ela. É isso, não sei explicar melhor.

Voz em Fuga: A Hipatia tem um sorriso enorme. Daqueles genuínos, com os lábios e os olhos. Isto lê-se nela, embora eu prefira mesmo quando se passa e vai tudo à frente, siga, nem se pára para respirar. Uma força da natureza, aquela rapariga e, no meio disto tudo, não percebo como consegue manter a sensatez, mas é um facto.

À Luz dos dias: Claro que o Aliciante é um Dardo por excelência, mas aqui a Madalena é a Madalena. Nunca me esqueço como começou o blog. Se há mulheres corajosas, esta é uma delas, em qualquer dos seus blogs. E depois, é daquelas pessoas com quem me sinto sintonizada. Não são muitas.


Prémios Alvo

(encomendados, agora passo a lê-los, não é?)
Quase em Português
A Barbearia do Sr. Luis

(os meus)

Apenas Mais Um: o defunto mais falador dos comentos; amua e fecha o blog, bate a porta e fica à janela, aposto que roído para postar. Ele vai dizer que não. Abre o blog, minha mula teimosa! (não se tratam todos os bloggers assim, mas eu e o Zé somos dois gajos amigos um do outro).

Caixa de Costura: como o André diz: partilhamos a mesma mulher. O que o coloca em lugar de Alvo, claro, já que nós gajas somos solidárias, sempre.

Fios Soltos: A @na tem a lata de me enfiar despertadores pelo blog fora e obrigar-me a ficar acordada a escrever esta porra toda em vez de estar a ver filmes de mantinha! Se isto não é de se embirrar, sinceramente não sei o que seja! E o Fios é a extensão dela. Socorro, que não sei se a blogsfera aguenta com tanto feitio de aspirante a cabra de halloween!

SDBlog: Se não embirrasse com o Miguel, não teria piada nenhuma, embora haja dias em que só ao estalo!

e finalmente todos os babyblogs (menos os das minhas amigas) que me tiram do sério: todos os só cor de rosa e cocós maravilhosos; todos os das mães que agora não têm tempo para serem mulheres; e todos os outros que não há saco para aquilo.

(agora dêem-me um segundo para explicar porquê, blog a blog…uff! Tá feito!)




E, no entanto

(não que fosse necessário escrevê-lo)

Há algumas coisas que não estão destinadas a acontecer. Oh, tantas, na vida! quem não passou, passa, irá passar, por elas? Lembra-me aquela primeira tira (num balão? não; num quadrado) daquela personagem de BD, piloto, esqueço-me do nome, já aparece, numa das histórias, a da rapariga que era preciso salvar, afinal um fantasma, os encontros que não são para acontecer (e, no entanto, acontecem, nem que seja assim, o piloto e a rapariga morta, porque estão – estariam – destinados, fosse a história outra). E eu, miúda, no tempo em que se escreviam diários, começo os meus livrinhos sempre com aquela frase, podia ser Proust, não era? Mas era Christian Godard (Martin Milan, cá está o nome do piloto, apareceu agora) e o album Une ombre est passée

cá está

C’est drôle la vie! Combien de harzards faut-it pour que des destins que tout separe finissent quand même par se rejoindre?…C’est drôle…car dans cet etrange ballet hazardeux, il suffit d’un grain de sable, un seule, pour que deux destins fait pour se confondre se croisent sans le savoir. Et pour que jamais, jamais, la rencontre ne se produse. C’est drôle la vie…

(aposto que o texto tá cheio de erros que eu tou cheia de sono…)

era miúda, mas estava careca de saber. É o que dá ter como complemento educativo literário a revista Tintin.


Não costumo escrever coisas sobre a família

ou escrevo, mas são vagas ou desviadas ou são histórias que podem ser sobre qualquer família.

Mas hoje guardo aqui que, no almoço dos noventa anos da avó, esteve um dia lindo. Que a avó estava muito contente. Que estivemos todos no jardim e que havia senhoras ainda mais velhas, todas elegantes. Que havia todas as gerações, de filhos, netos e bisnetos e sobrinhos e sobrinhos netos e sobrinhos bisnetos e primos e primos netos e primos bisnetos. Que estavam três primas grávidas (acho eu! ou havia mais alguém?!) e montes de miudagem a correr por todo o lado. Que eu bem digo que a família lê silenciosamente mas algumas pessoas me dizem, antes do olá, “o que me ri com a cabra cortada ao meio!” (e já ninguém sequer refere o vernáculo…). Que o tio Z.C. foi amabilíssimo e trazia no bolso uma pen para me emprestar, com a cópia da árvore geneológica que, no verão, lhe tinha dito que gostava muito de ter. Já não há desculpas para não saberem como é que somos todos primos. E, já agora,fica aqui uma ideia e um recado: digitalizar as fotografias antigas e distribuir por toda a gente, que tal? De preferência com legenda de quem é quem!

Post para a família, comentos ao vivo ou para o telefone.


Notas breves

(para escrever posts depois)

A Sofia Vieira escreve sobre o fim dos blogues colectivos e a SOCA, aquele blog sensacional onde escreviam uma data de autoras minhas amigas que me moíam o juízo 80% do tempo
(olha, vi agora, o 5 dias quase acabou mas abriram quase todos um blog colectivo ao lado! Afinal não gostam é do Luis Rainha…vamos a apostas: 6 meses? 4? Hum, 3 meses máximo; depois alguém que me avise, que eu não leio nada daquilo!)

o JPT dá-me um prémio Alvo (blog com o qual se embirra ou, nas palavras dele “o arquétipo da malevolência blogofeminina”, coisa que acho linda! embora esteja cheio de palavras com montes de sílabas)


Escaldão

Enquanto Lisboa era sítio onde carros boiavam com água até meio dos vidros, a menos de 300 km para norte, eu apanhava um valente escaldão nos braços, num sábado de um dos melhores fins de semana de verão deste ano (tirando os 14º nocturnos).

De tal forma anda o Outono trocado, que liquidambares estão a perder as folhas e nem todas ficaram completamente vermelhas. Mas um espanto, aquelas cores.

(e a preto e branco, também: normalmente, quando chego, as folhas já foram varridas; desta vez, o saibro branco coberto de folhas escuras, iluminadas pelos faróis, lindo)