Ficou tudo escrito no desenho abaixo, agora é só colocar-lhe aqui uma legenda. Não há assim muito a dizer. Aquelas palavras são o que conta na minha vida. Também não há propriamente conclusões ou receitas, o que funciona para mim, pode não funcionar para os outros. Acho que é nesse lugar que me encontro, num certo distanciamento generalizado (é um facto) e uma maior concentração naquilo que me interessa, no que é realmente importante para mim. Não há dúvida que, não tendo qualquer problema em estar agora (provavelmente) a meio caminho da minha vida, há que começar a gerir o tempo que ainda sobra, destinando-o ao que – para cada um – vale mesmo a pena. Entendo agora que se deitem fora livros maus, entendo até que se larguem pessoas que não contam, porque o tempo é sempre curto demais, cada vez passa mais depressa e tem que ser bem empregue. A minha disponibilidade é, ao mesmo tempo, menor e maior, a mesma, mas mais bem organizada. E isso, parecendo simples, não é, há que se ser um bocadinho duro connosco mesmos, porque temos sempre tendência para nos perdermos no que não tem grande importância, em merdices e coisas que não valem a pena.
E é isso também, é o valer a pena. É saber (ou tentar interiorizar, pelo menos) que é isto que temos. Não há mais mas o que temos é imenso, é uma vida inteira (da qual já gastei metade ou assim) e dá para montes de coisas. Podem ser boas ou más, mas têm sempre que valer a pena seja por que razão for. Têm que ser intensas, têm que ser das que se agarram e apertam, das que se espremem, das que nos dão qualquer coisa, seja o que for, tudo conta no caminho para a sabedoria, tudo menos a mediocridade e as saídas fáceis. E temos que tirar alguma coisa delas, nem que seja saber apagá-las para todo o sempre, até pode bem ser. Mas um gajo tem que fazer alguma coisa pela sua vida, por si mesmo. Tem que ir lá, não pode ficar à espera que a vida aconteça, senão só acontece ao lado, aos outros, e um gajo sempre ali especado, feito parvo, a ver passar tudo e a queixar-se que a ele não. Eu não sou esse gajo, sou eu, outro gajo, gaja, pessoa, tanto faz, que adora esta vida, com tudo a que tem direito, nem que seja à biqueirada.
E são os outros. Claro. São, acima de tudo, os outros. São as pessoas importantes para nós, os que amamos, os que admiramos, os que nos servem de exemplo, os que nos ensinam, os que vão à nossa frente, são os que dependem de nós, os que protegemos, são os outros. Sempre. Eu gosto tanto de pessoas! Já sei, digo isto tantas vezes, chamem-me parva, lírica, confiante demais, acredito no pai natal, mas eu gosto de pessoas. Gosto delas genuinamente, acho sempre à partida que são riquíssimas, que valem a pena, acredito nelas, acredito no bem que as pessoas têm dentro. E, curiosamente (também digo isto muitas vezes) não me dou mal. Antes pelo contrário, tenho visto algumas bestas, até muitas, mas sinceramente? Passam por mim, de lado, mesmo que choquem de frente num dado momento. Acho que o facto de gostar tanto de tantas pessoas maravilhosas desfaz por completo o efeito nefasto momentâneo que uma ou outra – das más – produza. Se calhar vejo tudo a preto e branco, mas acho que não, acho que vejo as cores todas e escolho quais quero ver mesmo bem e quais ignoro e esqueço.
E acho que é por isto tudo que sou uma pessoa feliz e tenho tido uma vida estupenda, cheia de coisas boas, com imensa sorte, com imensa gente, com imenso tudo. E se pensar que ainda tenho mais outro tanto de tudo isto, é mesmo muito muito bom.