É um facto mais que confirmado pelos últimos tempos: nunca se sabe quando a crise bate à porta e qualquer criatura sensata deve ter sempre o seu pé-de-meia, as suas poupanças investidas em diversos cestos, uma diversificação de carteira com fim à minimização do risco. Há poupanças seguras, em produtos tradicionais e conservadores mas um aforrador, com um olho na crise e outro no futuro (nunca se sabe o dia de amanhã, por mais que hoje esteja soalheiro), pode sempre destinar uma parte – que até pode ser pequena ou mesmo apenas simbólica – em produtos de risco mais elevado, como a Bolsa.
Neste caso, aconselha-se.
É um facto mais que confirmado que qualquer gaja que se preze precisa de fazer os seus investimentos numa Bolsa que, vamos chamar-lhe assim, sem paninhos quentes e sem ser no título para não ofender sobrinhos mais novos e tios mais velhos: a Bolsa das Fodas (BdF).
A BdF é aquilo que é representado pela antiga agenda de telefones de contactos, que pode ser nossa ou das nossas amigas ou de amigas das nossas amigas. É sempre de desconfiar quando a dica de Bolsa vem de amigo. Os gajos, nestas merdas, não fazem boas recomendações. Ou porque são mais nossos amigos que os amigos cotados em Bolsa ou porque são mais amigos dos amigos cotados em Bolsa do que nossos ou porque também querem estar cotados em Bolsa e não querem cá concorrência. Uma dica de uma amiga é sempre mais de seguir. Uma amiga chegada que nos quer ver felizes ou uma inimiga figadal que nos deseja o pior deste mundo, têm sempre uma coisa em comum, em termos de recomendações de BdF: não querem falhar. É uma vitória pessoal juntar duas almas gêmeas, mesmo que seja só para copos e depoizes sem direito a pequeno almoço.
Deixando de parte estas considerações, vamos então ao que interessa que é analisar a BdF. A BdF é constituída por produtos cotados, disponíveis num mercado livre e que obedecem à lei da procura e da oferta. Ou seja, os mais procurados têm um preço mais alto e ninguém quer acções do Benfica, perdão, de losers. No seu todo, o PSI 20 (ou 40 ou 60, ou 4.000 conforme o número de amigas, amigos, dicas, contactos e sucesso nas redes sociais) sofre também com alterações estruturais, evidentemente. Se a maré está para a boa onda, ou porque é verão e tá calor, ou porque anda tudo contente, ou por qualquer outra causa misteriosa (sai um novo jogo de corridas de carros para as Playstations ou Portugal ganha o Mundial), lá sobe o PSI e é mais complicado encontrar investimentos que se consigam ajustar às necessidades. Se a coisa tá preta, é inverno, tá a chover, doem as cruzes aos produtos e os descapotáveis meteram água, o material escolar e as botas e mochilas dos miúdos caríssimas, tudo a descer: e é nessa altura que se conseguem produtos mais variados e mais em saldos, por assim dizer.
Claro que uma boa investidora não se deve limitar a seguir as recomendações das amigas. Para investir bem deve analisar o produto (ou produtos) onde quer investir. Vou dar exemplos: imagine-se um produto similar à acção da PT. O gajo BdF com perfil PT é um tipo bem cotado, com um preço alto, com boa procura. Um gajo a dar, portanto, todo giraço, uma criatura meio Hugo Boss já a caminho de canastrão mas ainda dentro do prazo. Parece um investimento simpático, não é? Pois. Mas vai-se a ver e ficamos a saber que, quando achamos que é um investimento seguro e o convidamos para uns copos e sabe-se lá mais o quê, o gajo saca do telemóvel e pede licença à mãezinha! “Ó mamã posso ir sair com esta menina? Uma simpatia, gira, bem educada…não, não é portuguesa, é estrangeira…hum, espanhola, acho. Não mamã! Não diga isso, as espanholas não são nada umas grandes putas, ó mamã deixe lá! Eu queria tanto! E já tenho idade para…ohhh…tá bem, mamã, eu não vou…fico triste…mas não vou, não se zangue mais…”
Já se for um homem BdF – BCP. Esse é uma criatura que em tempos era o tipo mais bem vestido da praça. Só se dava com gajos como ele, um tipo sério, todos os domingos na missa, depois desviou um bocado, passou a dar-se com gente menos… menos enfim, a cotação a baixar até chegar a um verdadeiro saldo de fim de época. Investimento mais ou menos seguro, naquela, realmente arranja-se por baixo preço mas depois nunca se sabe se murcha por completo ou espevita.
Por outro lado, um rapaz BdF Mota-Engil, todo engenheiro, de bota e camisa de ganga, a viajar pelo mundo inteiro enquanto fiscaliza a obra, não tá nada mal, para quem apreciar o género National Geographic e aventura divertida.
Penso que já me expliquei. De qualquer forma há sempre uma coisa a reter, nos investimentos que se fazem em Bolsa e a BdF não é excepção: só se factura quando se vende. Ou seja, mantêm-se aquele portfolio ali guardado, mas apenas quando for usado é que se sabe se se ganhou ou perdeu com o investimento. É muito importante esta regra. Não há cá “estou a ganhar imenso na BdF”: Só se factura quando a coisa passa de mãos. (ahn? Que conclusão estúpida, não era nada disto, mas é a conclusão lógica…caneco, esta parte não me saiu nada como era previsto…)