100nada

Anjinhos de Natal

Este ano não escrevi nenhum post sobre os Anjinhos de Natal. Sim, o link vai dar à página do Facebook, foi por aí que (no meu caso e falando do FB no geral), divulguei mais. E na página do FB está tudo explicadinho.

E no blog da Ana Almeida, está o dia a dia da pessoa que nos inspira a todas, posts e posts sobre Anjinhos. Sozinha, já distribuiu quase 800 este ano e os emails com mais pedidos continuam a chegar. Aqui fica, em post, aquilo que já escrevi na página dos Anjinhos de Natal: o meu OBRIGADA.

A pessoal principal dos Anjinhos de Natal

Não, este não é um texto sobre as crianças que, obviamente, são as principais, aqui e sempre. Este é um texto escrito por uma das renas desta iniciativa e, desta vez, quero falar sobre a pessoa que nos pôs a todas a entregar, angariar e divulgar a iniciativa dos Anjinhos de Natal – a Ana Almeida.

A Ana Almeida é a pessoa por detrás destes Anjinhos. Não é de todos os anjinhos e os Anjinhos são do Exército de Salvação e a iniciativa é deles, sem qualquer dúvida. Mas a Ana Almeida é a pessoa que, ano após ano, tem vindo a divulgar e fazer tudo o que pode para conseguir que mais meninos tenham a sua prenda de Natal. Eu, que aderi há dois anos, vou assistindo, todos os Novembros/Dezembros ao enorme esforço e dedicação que a Ana, de quem me sinto infinitamente orgulhosa de me considerar amiga, vai fazendo, dia após dia.

A Ana é voluntária nesta causa, como somos todas, mas com uma entrega absolutamente heróica. Vai a todo o lado, insiste, manda informação, distribui TODOS os Anjinhos que o Exército de Salvação lhe vai enviando. E quando eu digo distribui, isso significa receber todos os emails, responder a todos os emails, fazer uma base de dados dos anjinhos já enviados e a quem, todos os dias, à noite em casa. Depois de um dia de trabalho, depois dos afazeres de dona de casa e sempre do seu papel de ser mãe de duas crianças pequenas. À hora a que estamos sentadas no sofá a ver séries ou a conversar nas redes sociais ou a dobra meias e a suspirarmos que estamos cansadas depois de mais um dia a correr, a Ana senta-se ao computador e responde a centenas de emails. Felizmente são cada vez mais, felizmente a adesão e a solidariedade das pessoas cada vez se revela mais extraordinária. Felizmente há cada vez mais gente a pedir Anjinhos. Mas a Ana é só uma, uma pessoa igual às outras, tirando este seu lado de heroína.

Depois, daqui a umas semanas, a Ana Almeida há-de pegar no carro e, com a ajuda de mais algumas renas que também ajudam, irá andar a correr país acima, país abaixo, aos fins de semana, para ir buscar os presentes e entregar ao Exército de Salvação. Há-de andar a verificar se está tudo em ordem e dar em doida com a parte dos níumeros de referência que algumas pessoas se esquecem de colocar nos presentes, a tentar perceber, entre centenas de embrulhos, para quem será aquele. Há-de completar presentes e dar mais uns anjinhos porque afinal algumas pessoas roeram a corda e aqueles meninos não vão ficar sem prenda.

A Ana Almeida chegará ao Natal, arrazada, cansadíssima, por ter feito um esforço imenso que, de ano para ano, é cada vez maior. E há-de dizer, como diz todos os dias “que bom! Mais gente para os Anjinhos! Vale a pena, só de saber que estamos a conseguir colar tantos sorrisos!”

Em mim, que sou adulta, já colou o meu, com o exemplo que nos dá a todos. Aqui fica o meu enorme OBRIGADA, ANA.


O Albergue e os comentos moderados

(Muito) de vez em quando, comento o Albergue Espanhol. Hoje, mais uma vez, lá deixei a minha opinião num post da Marta Elias. O post era sobre a educação e o sucesso e causas da educação das crianças, grosso modo e, ao ler, lá me veio o lado babyblogger e deixei um comentário.

Mas este prólogo é apenas o prólogo do post e não o tema: o tema está lá no post da Marta Elias. Infelizmente, sendo até um tema muito interessante, não há grande hipótese de diálogo válido. A Marta Elias não tem culpa nenhuma, coitada, a política de moderação de comentários é que tem. Oh, eu sei, já ouvi milhares de vezes os argumentos contra e a favor da moderação de comentos, que é aborrecido ter gente a chatear, bem sei disso. Só neste blog, para onde migraram conteúdos de outras versões de 100nada com comentários que se perderam nas mudanças por serem apps independentes, tenho mais de 31 mil comentos, não contando com os comentos noutros blogs onde fui editora “chefa”, como o Geta e o Sociedade Anónima (neste último, tirei todos os comentos quando o fechei, para deixar apenas a memória dos textos).

Há largos anos que a “moderação” dos comentários dos meus blogs é feita da seguinte forma:

1. Por mim apagando comentários sem conteúdo: spam que escapa aos akismets e quejandos, anúncios de vendas e afins e alguns insultos do género “ó minha puta, um dia destes faço-te uma espera à porta de casa”.
2. Por mim e pelos outros comentadores, respondendo ou ignorando provocações, insultos e outras amabilidades, daquelas escritas por quem não tem que fazer e já esgotou a quota de alarvidades nas janelas de comentários dos jornais online.

Dá trabalho? Bem, já deu. Tudo é relativo. Durante um tempo havia coisas que me aborreciam e incomodavam, claro. Depois deixaram de me incomodar e aborrecer, que uma pessoa se habitua a encolher os ombros e, quando muito, pensar “olha, mais um palerma”. Além do mais, chega uma altura em que se atinge o auge de comentadores marados (como o tal que me ameaçou de morte e que levou ao fecho do meu babyblog) e, depois disso, tudo é peanuts em comparação.

Mas dá trabalho, obviamente. Mais trabalho do que moderar comentários moderados, até porque os blogs com comentários moderados acabam por tender a não ter comentários nenhuns que sejam precisos moderar através desse mecanismo de autorizar (ou não) a publicação de determinado comentário. Também tenho a minha filosofia de liberdade de expressão que não é “valer tudo” mas “valer uma grande parte, mesmo aquela em que as pessoas demonstram ser umas palermas”, mas nem vou por aí, porque essa é apenas a MINHA filosofia e, por cima dela, à laia de lei orçamental que fica acima da lei geral, há o princípio de que cada blog é do seu autor e cada autor decide o que quer do blog e como, incluindo os comentários: se os quer, se os quer moderados ou se quer uma grande berraria totalmente aberta nas caixinhas de comentos. A minha é aquela, cada um decide a sua e os defensores da “total liberdade de expressão nos blogs dos outros” têm bom remédio: abrem um deles e respondem em post.

Não é também por aí, portanto. Mas há uma parte nos blogs com comentários moderados que se perde quase por completo e que é uma boa conversa/discussão sobre aquele tema ali (d)escrito, na caixa de comentários. Quando os comentários de um blog estão sob esse formato, um comentário cai ali de pára-quedas, apenas no contexto de resposta ao post, dado que só é publicado quando o autor lá vai publicar os comentários que estão em fila de espera. Depois, se e quando lá voltamos, uns dias depois, vamos apenas ver (se tivermos pachorra) se o comentário apareceu e se alguém respondeu; eu, sinceramente, nunca me dou ao trabalho e é um pouco como atirar a minha opinião para ali, olha toma lá o que eu penso e siga para outro lado. E, às vezes, se e quando lá voltamos, lemos uma cacofonia de comentários, todos dispersos, seguidos mas sem seguimento, todos a dizer qualquer coisa sobre o texto mas sem nexo em relação aos outros; cada um é só um comentário, nada mais. E as caixas de comentários têm a potencialidade de serem muito, mas muito mais ricas do que isso.

Deixo aqui o exemplo oposto ao Albergue, que são as caixas de comentos mais alegretas e alucinadas da blogsfera política (que eu leio): o Blasfémias, onde toda a gente diz o que apetece, responde ao de cima, ao 21, ao 57, discute-se, conversa-se, berra-se, insulta-se, não interessa, trocam-se ideias. Trocam-se ideias sobre o tema. Os autores aparentemente estão-se nas tintas se a conversa fica azeda, comentam também se lhes apetecer, se não apetece não dizem mais nada.

Respeitando qualquer um dos modelos e gostando dos dois blogs na mesma medida (alguns autores gosto de ler, outros acho que são uns tolos e às vezes uns e outros até me surpreendem), este último, não sei, parece-me menos empertigado e mais saudável.


Ah metem-lhes bombas?

[antes que chova por aí uma catrefada de politicamente correctos a perguntar se eu defendo o uso de explosivos contra inocentes (e até menos-inocentes), disclaimo já que essa malta bombista merecia era toda ser cortada às postas; siga o post]

Semáforo verde, cruzamento cheio. Páro na faixa do meio, antes do semáforo – verde – para não entupir o cruzamento. E começa um cabrão a apitar. Olho para trás, não é esse carro, é o que está na faixa da esquerda. E eu, mas o que é que este gajo quer? e entretanto vejo que tenho espaço para avançar e avanço. O referido cabrão, avança mais depressa, ultrapassa-me, enfia-se à minha frente e trava de repente. Mesmo à filho da puta, a ver se eu lhe bato. Eu travo, empato o cruzamento, claro, mas lá avanço depois. Entretanto, o tipo afinal o que queria mesmo era atravessar-se à minha frente para passar para a faixa da direita, porque não podia esperar que eu passasse. Claro, ia com pressa, ele e mais o seu bólide com matrícula CD. Para demonstrar que não são só os portugueses os selvagens na estrada.


O OE e o FMI trocado em moedas de cinco cêntimos

Antes do mais, recomenda-se a leitura deste meu post, para se perceber o que é o défice.
Depois faz-se aqui um disclaimer, que esta é, como sempre, a minha opinião absolutamente pessoal.

Segue o OE num parágrafo e o resto em mais uns quantos.

o OE (Orçamento de Estado) é exactamente a mesma coisa que todas as minhas caras leitoras, no seu papel de donas-de-casa, fazem todos os meses, com a diferença que o Estado é a Casa delas e portanto fazem o OC. De resto é igual: entra dinheiro de várias fontes – receita – e sai para vários lados – despesa. Receita, no OC é salário+/ou outras fontes de rendimento, no OE é impostos + NADA; despesa no OC é pagar contas e no OE é pagar contas. Qualquer dona-de-casa eficiente faria uma melhor figura a gerir este país que este conjunto de nabos, mas isso já são considerações de ordem subjectiva, que vou tentar conter, mas ainda farei mais uma: sabem as caras leitoras quando se vêem a braços com aquelas situações em que ainda falta pagar a conta da água e da mercearia e aparece o parceiro com quem se divide receitas e despesas, todo contente com um saco de dvd’s, livros para acrescentar à pilha e mais umas quantas merdas de bricolage, decoração e animação automóvel? Trocado em OE’s, esses saquinhos de bens não essenciais, são submarinos e TGV’s: brinquedos de gajos. Lá está. QED e siga para o FMI.

Escusado será alongar-me na parte em que se indica que
– o OE proposto é uma merda
– Os gajos não se entendem
– Misturar política com economia só dá porcaria
que isso toda a gente já sabe.

Vamos lá então para o mito FMI.

Só vamos saber se o OE é aprovado daqui a uns dias. Entretanto toda a gente (incluindo os portugueses) já percebeu que isto não está grande espingarda e digamos que a confiança, quer interna, quer externa, está pelas ruas da amargura, sendo que está última é inversamente proporcional ao estado da dívida pública. Uma desce, a outra sobe: se parece que não conseguimos pagar a conta, os juros sobem, porque o risco aumenta, obviamente. As caras leitoras emprestariam o melhor par de sapatos a uma amiga que o devolveria em estado impecável e a amiga oferecia uns chocolates como agradecimento, mas se soubermos que a amiga dá cabo deles, se calhar dizemos-lhe, olha filha empresto-tos mas empresta-me aí esse casaquinho entretanto, que se os sapatos vierem todos lixados, vês o casaco por este canudo – esta é a posição dos investidores estrangeiros, a dívida externa é exactamente a mesma coisa: se a malta não paga, pois obviamente que dá em troca o casaco. Neste momento estamos na fase de até já dar as cuecas, ou inclusive baixá-las. Financeiramente falando, claro.

Face a isto temos três hipóteses: ou há OE ou não há. A terceira (que é separadas das duas primeiras, porque havendo ou não havendo OE aprovado, a verdade é que o FMI vai começar a falar mais em português e eu não acredito em coincidências e sim em circunstâncias e planeamento) é o tal do FMI que está para os portugueses como a Nossa Senhora de Fátima. Entra por aí fora a pedido e preces, faz uns milagres e isto fica tudo lindo. Era bom, mas não é nada assim, minhas amigas.

Primeiro, um país que não consegue ter um OE aprovado, é uma vergonha. Todos sabemos, mas isso tem um preço. Ok, pois o brio deste país não vale porra nenhuma, adiante, esqueçam, somos incompetentes e atestamos com um chumbo no OE que de qualquer forma é uma merda. Venha o FMI, vamos supor.

O FMI chega e endireita? Diz-se em jeito de mesa de café, que venha, endireita este descalabro todo de uma vez, já que ninguém consegue. Eu também, confesso, tenho esse meu lado de pastorinho à beira da oliveira. Mas agora, mais que nunca, temos que pensar friamente. O FMI chega, analisa e corta. Sim, a dívida externa baixa. Sim, endireita qualquer coisa. E sim, corta a direito. Corta a direito, perceberam? Não há mais conversa, discussões sobre o preço da margarina ou sobre gente a comer de caixotes do lixo. Corta mesmo onde for preciso. E depois, dá o dinheiro a quem? Ah a quem governa. Pois é. Naquela, corta-se aqui e tomem lá mais, agora ganhem juízo. Alguém acha que isto resulta?! Eu tenho algumas dúvidas. Tenho sempre dúvidas quando é preciso tratar os países como crianças mimadas que partem os brinquedos e pedem outros, porque não tenho a certeza que cresçam se lhes derem um raspanete e brinquedos novos. Queria muito – de mãos postas – que o FMI resolvesse todos os nossos problemas. Mas infelizmente, parece-me que também não é por aí.

Soluções fáceis? Não há. Há e vai haver um país pobre a levar cada vez mais pancada até mudar de hábitos. Até nos convencermos todos – todos – que assim não vamos lá. Até nos convencermos que temos que fazer mais, muito mais, gastar menos, muito menos, a troco de ainda menos. E essa porra custa. A única razão que me leva a isso, que me motiva é só uma: é o MEU país. É o país dos nossos filhos. Ainda é, pelo menos. É um bocado de brio e teimosia e ainda acreditar que há gente decente.

E este post virou lamechas e irracional, portanto fica já por aqui com uma nota final para reflexão: não há milagres grátis.


Anti Crise Portugal

Não sou boa da cabeça…então ainda não meti aqui publicidade para este novo, extraordinário, fantástico, maravilhoso blog novo, que é o Anti Crise Portugal? É um blog colectivo, com dicas das mesmo boas para sobreviver à crise. A sério. Estou farta de aprender coisas úteis, mesmo boas. Ide ide, clicai, siga. E, se quiserem por lá publicar alguma dica, é só mandar-me um emailo, que queremos sempre mais autoras/autores.


O dinheiro desaparecido – Economia e Finanças para totós

Toda a gente fala muito sobre não haver dinheiro (e não há), que é preciso ir buscá-lo, caríssimo, ao BCE (e é) e que esse facto tem por consequência o não haver dinheiro (a tal falta de liquidez) que por sua vez causa o aumento do preço (taxa de juro) do dito dinheiro. Se o dinheiro está caro, é difícil adquiri-lo para depois poder dar largas ao consumismo (não sobrando para poupança).

Mas porque raio está o dinheiro caro por ser escasso? Porque é que é escasso? Para onde é que ele foi? É que temos sempre esta noção – errada – que o dinheiro muda de mãos, mas circula sempre, se não está aqui no nosso bolso, há-de estar noutro bolso qualquer. É com essa noção que depois se consegue enganar meio mundo, acusando alguns de o acumular depois de o roubar da nossa mão. E também acontece, evidentemente, mas não explica o desaparecimento do dinheiro no seu todo.

Pois eu, caríssima leitora, estou aqui hoje para desvendar o mistério do dinheiro desaparecido da economia, porque, lamento imenso dar-lhe este choque, esse tal dinheiro desaparecido, foi a cara leitora que o deitou fora. Eu?! gritam as minhas amigas desesperadas, como?! eu deitar dinheiro fora, quando ele já é tão pouco?! Impossível.

Infelizmente não só não é impossível, como é o que realmente aconteceu. Ora sigam lá o rasto do dinheiro desaparecido comigo e vamos ver onde se ele foi parar ao lixo ou não: como exemplo, vamos utilizar a cara leitora (salvo seja) e uma quantia de vá, 1.000 (mil) euros.

Os mil euros saíram do Banco Central Europeu rumo a um qualquer banco português, onde a cara leitora os foi buscar, em troca da promessa de os pagar em suaves prestações mensais e pagando um preço que é a taxa de juro. Ou até entraram nesse banco português e saíram para a carteira da leitora sob o formato de salário. Para o efeito tanto faz.

A cara leitora pegou nos mil euros e gastou-os da seguinte forma (muito resumida):
1. Pagou 300 de prestação da casa
2. Pagou 100 para escolas, livros, almoços de cantina e fatos de treino para a sua prole
3. Pagou 200 de contas de electricidade, água, telefone, gás, etc.
4. Pagou 200 em supermercado
5. Pagou 50 de transportes
6. Pagou 150 por uma televisão nova

Vamos ver para onde foi este dinheiro todo. E vamos pensar nisto a preto e branco, deixando os cinzentos para outro dia: ou o dinheiro volta para a economia ou vai para o lixo. É evidente que todo ele, de uma forma ou de outra, está a pagar por coisas, bens ou serviços, e regressa à economia, a quem forneceu esses bens e serviços. Mas o seu, cara leitora, em si mesmo, não volta para lado nenhum, tirando o investimento no ponto 1 (investimento em bens imóveis) e, de uma forma mais incorpórea, em 2 (investimento na educação das crianças, a caminho de um brilhante futuro de desemprego, desespero e piromania automóvel).

O resto vai para o lixo. A electricidade e o gás volatilizam-se, a água segue para o esgoto, o cabaz de compras segue para o mesmo cano e por aí fora. A televisão há-de seguir o caminho do aterro daqui a uns tempos, embora nos digam que será reciclada, os transportes usam-se e aquela viagem já não se usa mais.

Percebem? É tudo coisas que desaparecem. Assim como o dinheiro que as pagou. Serviu para alguma finalidade? Claro que sim, manteve-nos vivos e, de preferência, de boa saúde e devidamente acolchoados em autocarros e programas de televisão. E o dinheiro, foi para algum lado? Foi, regressou à economia, de facto. Mas há esta parte que se perde, no último utilizador do bem ou serviço. O dinheiro foi, no final do caminho, para o lixo.

Perceberam?
É uma teoria bem esgalhada, não é? Pois. Mas é tudo tanga. :) (desculpem, mas não resisti…:D)


Sopa de Pedra à politicamente portuguesa

[ou Post onde se troca a política por moedas de 5 cêntimos, para totós que não são os que mais parecem]

Hoje, dia seguinte ao centenário da República e sem ter nada a ver, mas só para situar a data historicamente, deu-se um facto curioso: em vários jornais e no meio de notícias de agoiros do FMI sobre a situação económica do país, aviões a voarem de cartolas de compras do Estado e o líder da oposição a queixar-se que o OE é “mau”, apareceu a expressão “futuro líder do PS” a acompanhar as declarações de António José Seguro. Este possível sucessor de José Sócrates atreveu-se a dizer que “é inaceitável que quando se pedem sacrifícios aos portugueses, não sejam todos, em particular aqueles que mais têm, a dar esse exemplo e a fazer mais sacrifícios”. Assim, trau, a seco. E os jornais a agarrarem a frase e a aplicarem-lhe logo o logotipo -> Olháqui o novoChefe.

Isto é o facto político mais importante da próxima década. Porquê, perguntam as caras leitoras e mais os lurkers que nunca me comentarão (esses não perguntam mas eu respondo à mesma): porque das duas uma: ou António José Seguro está a pedir que o defenestrem do PS (uma volta pelos comentários à notícia e o tom era o mesmo: “epá tens razão mas tás lixado que te fazem a folha num instante” e eu gosto muito dos comentadores dos jornais: são uns cromos termómetro do povão) ou então, muito mais provavelmente que me parece ser um rapaz sério e ponderado, já reflectiu tudo e este é o primeiro passo para defenestrar ele o período socratiano da nossa história. E isso contribui para a nossa felicidade como? Bem, não contribui em nada, claro, que a felicidade não são valores materiais e cada vez mais nos temos que convencer disso e viver de acordo com uma espiritualidade mais coiso e menos consumista mas isso são outros trezentos e apenas um parênteses Paulo Coelho para o gajedo não fechar a janela do blog. Adiante.

Não contribui para a nossa felicidade, mas contribui para o enquadramento do futuro político português. Porque, minhas amigas (e meus caros e silenciosos leitores), o José António Seguro é o Passos Coelho do PS. É igualzinho, tirando que é mais giro. E, fosse ele feio, era igual. Não igual a PPC, mas era igual para o que aí vem: porque, vamos lá a ser realistas: não obstante o desgoverno que nos caiu na rifa, não se pode dizer que a diferença em sondagens/percentagens seja já o fosso das favas contadas para o PSD. A coisa, a ser, está renhida e o ênfase tem sido sempre na diferença do líder. Porque nas políticas, vamos ali e já voltamos, o centro é todo o mesmo, mais imposto, menos investimento, mais escola aqui, menos hospital ali. O resto é, conforme vamos sentindo na pele e na conta bancária, conversa: o país (sem extras colonais) nunca foi rico e agora está a modos que pobre. O que é uma grande chatice e nem digo que a maior chatice seja o facto em si; as pessoas é que não se convencem disso e vão consolando a crise com mais um LCD, um par de sapatos, uns aviões, um TGVzinho, uma ponte, coisas assim.

Voltando à diferença da liderança. Eu até gosto de PPC, gosto e não é por ser girinho, que nem faz o meu género. Gosto porque é sangue novo, é ingénuo e bem intencionado e sério: ou pelo menos parece. Aplicando o teste, emprestavas 100 euros ao gajo? Na boa, com a certeza que mos pagaria assim que pudesse. O que, convenhamos (embora isto seja triste) é quase um teste do algodão não engana, coisa rara, gente honesta. E tem sido esta imagem que o PSD tem vendido senão vejamos: se fosse para vender ideias, então a MFL que afinal tinha toda a razão quando agoirava desgraças, agora reapareceria montada num cavalo branco a pisar pétalas de flores e sob uma enorme ovação; mas não vi ninguém ir lá buscá-la do baú das recordações. É a imagem de PPC que vende: o tipo novo aqui, que tem uma cara política lavada e vai trazer a salvação. O homem nem sequer se queima na AR, manda dizer o que tem para dizer e vai dizendo ele mesmo à comunicação social. Quando é ele a falar, a coisa safa-se bem; quando são os seus turquinhos, já a coisa nem sempre corre da melhor forma e se o Miguel Relvas não deita mão àquilo, está tudo lixado. E, perguntam as caras leitoras que ainda aqui estão a ler isto, quem é o Miguel Relvas? Pois é o único que consegue ter mão na rapaziada. PPC tem uma outra enorme vantagem: é esperto e soube rodear-se muito bem. Vá-se a ver o Professor, não, não é o das notas: é o António Nogueira Leite, esse com maiúscula que não dá notas, dá cartas (azes, valetes, orçamentos alternativos, posts e desconfio que mais trunfos).

Parece ser uma equipa ganhadora. Até hoje. Hoje há um possível futuro líder do PS e tem nome e cara e aposto que se vai desmarcar muito do actual líder. Para além de ficar mesmo curiosa de saber que para que lado se viram agora os pêéssinhas (devem estar todos baralhados), é uma incógnita política. E as incógnitas são perigosas, porque nunca se sabe o que vai sair dali depois. Se eu sacasse agora da minha bola de cristal e lesse umas folhas do ice tea, diria assim qualquer coisa como: uma posição muito firme do PSD sobre o orçamento mau e feio, era capaz de sim, criar uma crise política e daí? Vai andar tudo mais que ocupado a contar o tostão e uma crise alavanca a coisa: se PPC avançasse, da forma que as coisas estão, se não fizesse grande espingarda, também não se lhe pediria muito mais; além de que, a fazer merda, é tão novo que daqui a dez anos podia ter mais uns trinta de futuro político brilhante. Se esperar muito, aparece um novo D. Sebastião, desta feita do PS. E, como todos nós sabemos, isto do nevoeiro, esse já cá está, mas choverem Dons Sebastiões já não serve para nada.

[post em stereo no 31 da Sarrafada]


Economia Paralela? É o liberalismo, estúpido!

Não vou comentar as medidas *, que estão a ser amplamente divulgadas e dissecadas por quem tem mais tempo e menos tendência ao vernáculo que eu.

Nada disso. Eu vou dar SOLUÇÕES. Porque temo que, a partir de agora, o último bastião do verdadeiro mercado livre e liberal esteja na economia paralela. Sim. Eu, a criatura que acha sempre que as instituições serão capazes de encontrar soluções, que se deve sempre pedir factura e pagar impostos, eu, cumpridora zelosa de todas as obrigações fiscais (menos a entrega do IRS a tempo), defensora da justiça, das finanças e dessas porras todas, a apelar “todos ao mercado do relógio”. É triste, ao que um país nos leva. Mas a malta tem que salvar qualquer coisa, nem que seja a pele, que o resto já era. Para o peditório do contribuinte, já dou e dou a doer, fiquem lá com isso e o resto, vou pelo caminho, não mais fácil que dá uma trabalheira, mas pelo mais barato. Tem que ser. Há crianças para alimentar, educar e preparar o melhor possível o caminho da emigração futura para essa geração.

Medidas de combate ao IVA:

1. Compras Online na UE. Se se paga o IVA de um lado, não se paga do outro e os portes compensam amplamente . E não, não estou a falar de livros e CD’s na amazon.co.uk. [ADENDA: a amazon.co.uk afinal cobra o IVA do país de destino, só serve porque muitos dos preços são mais baixos]. Estou a falar dos sapatos e roupa e malas e mochilas e psp’s e a pensar em dar um saltinho ao ebay para começar a planear o Natal.

2. Compras em mercados de rua, feiras do relógio, pagamentos a dinheiro sem factura ao dentista e ao electricista. O melão à beira da estrada, a camisa da moda, o cachecol do Sporting a sete euro à porta do Estádio. Vamos dar uma oportunidade aos verdadeiros empreendedores deste país, os que seguem à risca as leis da oferta e da procura, a seteuro o cachecol antes do jogo, a três no fim do jogo, depois de mais um empate psicológico.

3. Não tem mercado, faça o seu e está na hora de, recorrendo às redes sociais e às nossas amigas, juntarmo-nos todas de vez em quando e, enquanto a miudagem joga à bola (oferecida por um operador de comunicações móveis ou isso), o gajedo abre as malas e vendemos umas às outras tudo o que já não serve / já não gostamos. Tenho uma data de caixas de vestidos lindos para cabras magras e prometo não cobrar IVA.

Agora assim de repente não me lembro de mais nada, mas está na altura de usar a imaginação. Sugestões são muito bem vindas. De sítios e sites e de ideias para combater esta merda desta situação, de preferência sem ser à pedrada. Sim, apetece, é um facto, mas não adianta…

[* não é que as medidas não sejam necessárias; estas e outras ainda mais duras: eu é que não confio na gestão das moscas]


Não estou grandemente para aqui virada

ou melhor, até estou, mas não é neste registo. O último draft é sobre Moçambique…portanto já se vê que há aqui uma nítida confusão entre o dia e a noite, um não conseguir desligar daquilo que digo que é demais e me põe doida e a dizer palavrões e aos berros mas no fundo, no fundo, me motiva e entusiasma e que faz parte do meu dia-a-dia em work-mode. A verdade é que me apetece escrever coisas que, se calhar talvez fossem úteis, trocar por miúdos coisas que parecem complicadas, dar dicas, explicar coisas que deveriam ser básicas e que acho que ajudavam, mas isso seria misturar as coisas e toda a gente sabe que eu não misturo trabalho e conhaque, para além do meu imenso horror à difusão generalizada daquilo que faço e que considero que é privado. Giro isto, o blog é que é privado, mas privada aqui é a minha vida profissional. Adiante.

Mas caneco, que me lixa depois este coiso do pulise, pá. Sim, touta dedicar o postal, ó melguça! Agora querias aqui um semáforo vermelho ou assim? Eu também queria, pois claro que queria. Até vou escrevendo os meus posts nos semáforos e em tantos outros lados, ali, na minha cabeça, enquanto espero que mude para verde ou a fila do supermercado avance ou o médico atenda ou a coisa ande. A coisa anda e eu escrevi, interrompi, andei. Um gajo anda anda anda anda vai-se a ver, fez sete máquinas de roupa e alapou com vários sacos de supermercado e anda anda anda e depois na verdade está sempre no mesmo sítio, é como as camas, que detesto fazer, porque todos os dias se desfazem e nunca se faz senão a cama e desfaz-se e torna-se a fazer. Não, não me queixo da rotina nem da vida que é, no geral, boa, não me queixo de nada, aliás, que não há razão. Mas a vida é real, é muito real, é real demais até, não tem espaço para flores ou mesmo espinhos literários sobre a porra dos semáforos. Não há nada nos semáforos senão gente que anda a pé e gente que não anda a pé, mais umas motos, poucas bicicletas, uns carrinhos de linhas, umas formigas em filas e os tipos que se vestem com placas de jornais gratuitos. Não há nada a dizer sobre essa gente toda, há a escrever na cabeça e depois publicar na cabeça o draft e nunca mais lembrar da coisa. O meu blog é o meu disco feito de mioleira e, ao menos esse, esse apaga-se mesmo. A malta depois de escrever na net, parece que aquilo ali não ocupa espaço, parece até bonitinho inserido no template e tudo. Ao menos, quando era papel, mesmo que não se rasgue, que é tão mais fácil, ao fim de uns tempos a letra já não se percebe. Pelo menos a minha, que levei anos a aperfeiçoar uma letra de médico que fosse mesmo fixe e longe das vogais redondas de miúda parva. Em certa medida, consolo-me: a escrita ilegível, consegui manter aqui.