100nada

Ora então sai um même fresquinho!

A Cristina mandou-me um même que eu não sei lá muito bem o que é, mas isso também não vem ao caso.
(espera lá, está aqui explicado: (*) Um “meme” é um ” gene cultural” que envolve algum conhecimento que passas a outros contemporâneos ou a teus descendentes. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma”.)

Ideias, valores e afins. Ó para mim, criatura prática, a passar um memezinho de quase verão com conquilhas, salada de polvo, areia nos pés e qualquer coisa gelada que inclua lima e cachaça.

Sai esta mesa para o Miguel, a Rita, a Sofia, a Clara, a Pal, o , o jpt, o Carlos, o Piotr, o André e a Iana. Eram só seis?? Não são mais aqui que não tenho tempo para meter o resto! E tu, Cristina, não saias daí que o même também se aplica a ti!


Sou cá uma jeitosinha!

Um gajo não dá para tricotar pessoas. Nunca fui de lavores, espetava os dedos todos nos bordados, o ponto cruz sempre me pareceu coisa de doidos, picar os furinhos, ainda por cima os certos, o tricot de duas agulhas e o crochet de rendas, aquela porra que nunca mais acaba e que não serve para nada. Digo eu, já a ofender grandes amigas, mas evidentemente isso é outra coisa completamente diferente, o que não serve para nada é o eventual – e totalmente improvável – resultado dos meus lavores. E, isso tudo com linhas, com pessoas então, que são praticamente impossíveis de enfiar num buraco de uma agulha de coser ou passar naquele gancho das outras ou então, quase sem mãos e sem pés, tricotar sem rede, uns pauzinhos e uma linha/pessoa ali equilibrada e dali sair uma coisa com alguma forma? Impossível, totalmente impossível: só tenho polegares a tricotar pessoas. Admito que possa ser até engraçado, que produza coisas extraordinárias, mas eu, no tricot de gente, só chego àquele ponto de colocar os braços abertos e as mãos viradas uma para a outra. E, muito provavelmente, nesse dobar ainda consigo atar uma data de nós.


A minha primeira amiga

A fotografia está sempre ali, num cubo de plástico, tenho-a de tal forma desde sempre que nem me lembro dela *. São duas miúdas, uma de cabelo cortado à rapaz e cheia de sardas, a outra de cabelo pelo ombro e mãos enfiadas nos bolsos das calças. Adivinho que uma das pernas está subida, dobrada, para não se enfiar na corrente. A sardenta está de calções. Têm um mês de diferença e, aos dez anos, isso dá direito a talvez sete de eu é que sou mais velha que tu, não és nada é só um mês, repetido milhares de vezes. Contam-lhes que se pegaram ao estalo pela primeira vez ainda quase não andavam e isso cimenta uma amizade, a estalada, o empurrão, a discussão, as bicicletas, as mãos enfiadas nos bolsos e os sorrisos iguais que partilham na fotografia. Não me lembro de uma única conversa nessa altura mas lembro-me de quem acordava primeiro ir acordar a outra, de quem almoçava primeiro ir a correr ter com a outra, não me lembro de fins de dia nem de despedidas, só dos dias seguidos de nós as duas, sem eu ou ela, nós as duas.
É engraçado quando as pessoas ficam nós. Nem nos vemos muito agora, nem falamos quase nada, sabemos uma da outra, quase tudo, sabemo-nos uma da outra; somos nós, na fotografia, desde sempre; quase como se estivessemos agora à espera que os anos passem e daqui a muitos, somos nós outra vez na fotografia, duas bisavós, como as nossas foram, miúdas primas.

(* só me lembrei porque me perguntaram ontem “quem é esta menina que está aqui contigo?”)



Recuperar o espírito

(com um texto velho, repostando eu sei, mas que importa isso; preciso disto, de recuperar qualquer coisa que me falta imensamente é é tudo isto aqui:)

A descida

Está tanto calor. É Agosto e tudo dorme. Passo pelas ruas desertas, a loja fecha a esta hora, até o cão foi à procura de um sítio mais fresco para dormir. Eu pedalo devagar, para não me cansar na subida, tenho um saco pendurado no volante e lá dentro vai um caderno de folhas brancas, uma caneta, e um pão com manteiga açúcar e canela, o meu lanche favorito.

Chego ao cimo muito cansada. Estas bicicletas ainda não têm mudanças. São das com rodas grandes e bancos de cabedal e pesadas como chumbo. Nas subidas piores levam-se à mão. E ainda não consigo chegar bem com os pés ao chão, tenho que dar um salto quando paro. Mas leva-me para todo o lado.

No cimo vê-se tudo. Vinhas e pinhais e casinhas muito longe. Não olho para trás porque não me quero lembrar que logo tenho que voltar para casa. Ainda tenho a tarde toda!

Vou pela estrada até à descida. A descida…é uma das melhores coisas da vida. É enorme e direita e não tem ninguém a ver. Antes de lá chegar, ponho-me em pé e começo a pedalar cada vez mais depressa para dar balanço. E de repente respiro profundamente, abro muito os olhos e estou na descida.

Mesmo no meio da estrada. Não faz mal que não há carros. Sinto um barulho de vento na minha cara e o deslizar das rodas. Não vejo mais nada senão a velocidade. Apetece sempre gritar, mas parecia mal. E sinto que o mundo é todinho meu só porque também não há mais ninguém, não é? Tiro os pés dos pedais e penso ‘sem pés!’ mas nunca tenho coragem de tentar ‘sem mãos’. Quem me dera, mas acho que não sou capaz.

A descida chega ao fim. Lá adiante, no fim de uns caminhos que são só um risco onde passam os pneus, com as ervas a baterem-me nas pernas, depois dos pinhais, sei que vou encontrar um poço e ao lado um campo inteirinho de erva muito alta e que me vou deitar lá no meio a olhar para o céu e que logo a mãe me vai dizer que tenho o cabelo cheio de coisas, mas não faz mal agora. E vou ouvir uns barulhos e pensar, será um grilo não gosto de grilos são bichos mas gosto do barulho. E vou pegar no caderno e olhar para as páginas brancas e escrever coisas que mais ninguém vai ler, só minhas, e no fim vou pensar que quando for grande quero viver aqui sempre. E vou escrever também isso para nunca me esquecer.




O que é que fizeram às árvores do Campo Pequeno?

Não sei quando foi, mas deve ter sido recentemente. Vou eu ali a passar antes do semáforo para a Av. da República, olho para o lado, para aquele mini-jardim que tinha sobrevivido às obras do novo Campo Pequeno e, de repente, começo a ver que a fila toda mais perto da rua, só cotos de árvores cortadas. Cortaram as árvores! Não me interessa a razão, não me interessa se é para encher de mais betão. Selvagens de merda, país de cretinos, de amantes de betão, de rotundas, de falta de sombras, de ódio ao verde, enquanto não cortarem as árvores todas, não descansam. É uma miséria isto e só me dá vontade de chorar de raiva.



Tá tudo fodido

Quando uma gaja (sim, eu sei, costumo escrever “um gajo” mas, neste caso em concreto, é mesmo assim que quero escrever) passa um feriado agarrada ao aspirador e à esfregona como se não existisse amanhã e fica contente por ter uma casa toda (mais ou menos) limpa e a cheirar a detergente do chão, o caso é mesmo grave. Qualquer dia começo a ver novelas…