100nada

CD de "música pra gajas"

Ora bem. Eu quero fazer a surpresa (que deixou agora mesmo de ser surpresa…) de gravar um cdzinho para as minhas amigas, só com música para gajas. Leia-se gajas que gostam de música que continua a ouvir-se, mas não tem que ser (embora possa ser) recente. Não preciso de dizer mais nada, pois não? Já sei que as minhas leitoras perceberam exactamente a que olarilolés me refiro.

Tenho algumas ideias mas se me deixarem sugestões, eram umas queridas. E quem quiser, depois avisa que eu mando cópia. Depois podemos reconhecermo-nos todas nos semáforos, dentro dos carros “Olha aquela está a ouvir a colectânea gajas 100nada!”

Vá, digam o que vos parece imprescindível uma gaja ouvir quando está parada no semáforo (banda sonora do Mamma Mia), a descascar batatas (US3 – Hand on the Torch), a escrever posts (Moby), ou outra coisa qualquer.




Resvés (iadaiada pardais ao ninho)

Percebo muito bem a vontade de parecer (publicamente) alguma coisa. E também percebo muito bem a vontade de (privadamente) desfazer essa impressão do lado onde possa existir risco de. Entender perfeitamente não é sinónimo de acatar. Há pessoas que não têm esses vários lados, de manutenção da imagem de egos mais tremidos. Mais: se os suportam em geral, não os admitem em certos casos. E a total falta de noção não é – de todo – desculpa.


Era eu, era

Também te vi. Apareceste de uma esquina e travaste para me deixar passar. Vinhas da esquerda e que não viesses, darias sempre prioridade a uma senhora. Naquele segundo percebi a tua incredulidade, o reconhecimento, mas sabias tão bem como eu que alguma vez nos haveríamos de voltar a cruzar. Talvez não tão literalmente, ali num insignificante cruzamento de cidade, terás imaginado um jardim (sempre tiveste essa mania) e eu mais que te atravessarias fora da passadeira para te tratar da saúde de vez. Não te podias escapar e lá vieste, meio aos solavancos, atrás de mim, nem deixaste passar mais carro nenhum, as tuas prioridades esquecidas já, naquela de me perseguir (sempre tiveste essa mania). Tive mais sorte que tu, porque apenas me vislumbraste e eu pude admirar as tuas enormes bochechas no espelho retrovisor. Claro que envelhecerias mais ainda, embora não tivesses muito mais espaço de alma para isso, mas nunca pensei que fosses engordar. A andropausa é mesmo fodida, não é? Eu faço ideia do que não sofrerás a olhar para o espelho, a barriga, meu Deus, agora deves ter mesmo uma digna de referência. Já não és o homem ainda rapaz vaidoso de corpo e velho rezinga de alma, serás um barrigudo de bochechas caídas. Pelo menos ficam a condizer com outros lados, que temias caídos (“acho que estou a ficar com os tomates descaídos, não achas?”) e que devem estar completamente pendurados.

Não é que eu seja uma ingrata e se aqui estou é por tua culpa ou causa. Mas há muito tempo que te deixaste de atravessar fora da passadeira da minha imaginação. Para te dizer com franqueza, nem me lembrava que existias. Teria sido escusado que eu te tivesse sabido agora com bochechas descaídas, mas o tempo passa e não perdoa: os desistentes não merecem muito mais.


Ninguém pega "naquilo", o problema é esse…

Hoje, por mero acaso, passei por um blog que já não via há quê? Dois anos e muito, talvez. Fiquei admiradíssima de aquilo ainda mexer e fui lá ver (ler é quase impossível). E não é que estava exactamente na mesma? Actualizado, claro, posts todos os dias, durante estes anos, imagino eu, que só vi aquela página de início, mas tinha os arquivos todos ali ao lado. Uma coisa absolutamente confrangedora: acreditam que aquela gaja, autora daquilo, continua por ali fora a gemer e a torcer-se, a meter fotos de modelos lindas com umas citações romântico-misteriosas, a choramingar-se que não arranja homem?! à mistura, lá estão as citações todas dos peixes-boi da blogsfera, aqueles casadinhos da silva que, entre o zapping, o chinelo e “agora é a tua vez de ires aos miúdos”, coçam as micoses nos seus romântico-misteriosos blogs

vi-a apenas de longe, assim, como se a luz se coasse no novelo das sombras que levantava no pulsar dos cabelos soltos

merdas assim, a ver se lhes calha alguma romântico-misteriosa encalhada blogger, que os linka até ao comento, ao email, ao café, a mãozinha dada às escondidas

aquelas mãos, nuvens leves como o meu pobre pensamentos livre dentro da tempestade da prisão que carrego na rotina (há-de escrever ele depois, nessa noite)

e ela de tal forma se entusiasma que não tardará um mês a aliviar aquele sofrimento todo num quarto de hotel 3 estrelas à beira de uma autoestrada

(“querida, hoje tenho uma reunião e volto mais tarde”, diz ele em casa, enquanto ela confidencia às amigas e ao blog, “será ele? Ele de maiúscula erguida, Ele o tal por quem tanto espero e me martirizo”)

até ao próximo blogger.

Agora gajo mesmo, pelos vistos não arranjou nenhum. É tão patético que nem daria vontade de rir, mas desatei às gargalhadas à mesma.



3. A crise financeira trocada em moedas de cinco cêntimos – Intervalo para Reunião de Emergência de CA *

[* Conselho de Administração, já não cabia no título]

– QUEM É QUE BANDOU BETER HORBODAS NOS FRANGOS?

berrou a Presidente do Conselho de Administração da Empresa Primos SA, ainda não estavam todos sentados e imediatamente os três outros primos olharam para o Dr. Santos. O Dr. Santos, CEO, aguentou o olhar dos quatro ao mesmo tempo e respondeu:

– Se a Maria queria frangos maiores à força de milho biológico, esqueceu-se de me dizer a marca…

e a ordem foi restabelecida na sala.

É nesta primeira crise da Empresa Primos (esqueci-me do resto do nome) SA que se começa a ver o calibre de accionistas e gestores executivos. A crise é deveras grave:

Por um lado, não só temos algumas verdades a correrem pela Rádio Alcatifa (que, como toda a gente sabe, é forma de comunicação mais rápida que a velocidade da luz) que acabam por sair das portas da empresa (realmente os frangos estão alimentados com hormonas), como alguns boatos que foram crescendo:a Maria só tem uma gripe e as alfaces estão amarelas, para experimentar uma variação de cor no mercado; infelizmente o director de Marketing teve um ataque de qualquer coisa que não quis dizer (mas que tem aberto todas as emissões da Rádio Alcatifa, incluindo marcas do que lhe foi receitado e como e onde e quantas vezes aconteceram para ter adoecido daquela forma), esqueceu-se de dar andamento à campanha publicitária e os seus colaboradores estão a aproveitar aquela aberta para se actualizarem na net (e jogarem patos e loops o dia todo). Estes factores, em conjunto, quando saem da porta da empresa e entram no circuito da comunicação, já não interessa se são verdade ou se não são: os compradores e vendedores de acções são pessoas que reagem muito depressa. E, uma vez em queda, há sempre um efeito bola de neve.

Por outro lado, pela primeira vez na vida daquela empresa, aquele conforto relativo de domínio de mercado, está ameaçado pela concorrência. Não é uma concorrência qualquer. É que na Aldeia Global cabe toda a gente, incluindo aquela que produz a custos muito menores. E, se o consumidor é capaz de pensar duas vezes na qualidade daquilo que lhe custa uns valentes patacos, nos produtos mais baratos, prefere sempre o mais barato. Afinal, caramba, qual é a diferença entre uma alface verde produzida numa empresa que tem custos de produção e mais aquelas alcavalas todas de subsídios e planos e horas extraordinárias e descontos para o fisco e segurança social e outra alface verde que é produzida numa empresa que não terá senão os custos de produção? A única diferença é que a primeira alface é produzida na Aldeia Básica nº1 (e arredores) e a outra é produzida na Aldut Basikinchin I. E quem compra as alfaces, escolhe a alface que quer na sua salada.

O problema é que, se as alfaces conseguem ir de um lado para o outro, já os moradores têm mais dificuldades (embora eu desconfie que os moradores da Aldeia Básica nº 1 não estejam muito interessados em ir viver para a outra, quanto mais não seja porque na deles têm as tais alcavalas e na dos outros nem por isso). E mesmo que a livre circulação de pessoas fosse absoluta e total, a verdade é esta: ambos os moradores das duas Aldeias escolhem as alfaces provenientes de Aldut Basikinchin I.
As alfaces da Aldeia Básica nº 1, aka da Empresa Primos SA, estão condenadas.

E aqui os sócios têm várias alternativas:

A mais fácil para o problema da Bolsa é pedirem mais umas coroas emprestadas e comprarem eles umas acções. Um valente lote de acções da empresa. Isso fará com que a queda daquele título possa ter uma recuperação e os investidores (os donos das acções da empresa) vêem a tendência virar, ficam mais tranquilos e o mercado acalma.

(esta explicação é tão simplista que até dói à Maria, mas adiante;) entretanto ela fica boa da gripe, o que será visível e o Press Release sobre as Alfaces Cor de Sol Para Alegrar a Sua Salada de Inverno é finalmente divulgado, o que será tomado como desculpa, mas as alfaces até são giras e lá se vendem e são diferentes das outras verdes da concorrência. A Empresa diversificou a sua produção e já pode concorrer, durante uns tempos, com aquelas alfaces.

[Nota do autor: por favor não perguntem pelas maçãs, coelhos e galinhas e imaginem maçãs azuis, coelhos e frangos congelados e já temperados ou outra coisa qualquer; a empresa adapta-se e sobrevive]

Outra alternativa, que um dos primos da Maria está agora a propor é mais complicada. Na realidade, este primo está farto de alfaces, maçãs, galinhas e coelhos e sente que nunca tem tempo para tirar férias numas ilhas paradisíacas. A ele parece-lhe que a empresa está completamente condenada e, antes que a coisa fique mesmo preta, o melhor é salvarem o deles. Se calhar podem aumentar as despesas de representação, não? E mais uns pozinhos aqui e ali que não se notem muito e que vão parar a umas contas offshore em qualquer lado onde não sejam feitas muitas perguntas (verdade seja dita, cada vez mais difíceis de encontrar). Depois, quando a empresa falir, logo se verá…mas o que é certo é que os últimos a receber o que sobrar depois de se pagar tudo o que se deve, são os accionistas, só que nessa altura já estamos todos em Honalututu, a beber margaritas.

(esta é mais difícil de implementar, já que a supervisão das empresas cotadas em Bolsa é mais apertada, como todos nós sabemos…)

Mas a Maria não aceita esta proposta. Fartou-se de dar o litro pelas alfaces (e pelo resto), está com gripe, dói-lhe a cabeça e nunca foi muito à bola com aquele primo. Decide que se viabiliza a empresa, com diversificação de produtos em nichos de mercado que ainda não estão preenchidos (são os primeiros a ter alfaces amarelas) e manda o primo estudar a possibilidade de futuras alfaces vermelhas para a Patagónia. Assoa-se mais uma vez, pergunta se há mais alguma coisa, diz ao Dr. Santos que depois logo conversam sobre umas quantas coisas, levantam-se todos e nessa altura

entra o secretário da comunicação na sala, esbaforido, e exclama:

Meu Deus! A Empresa Couves Roxas e Irmãos, SA, está a anunciar que compra todas as nossas acções a 10% acima do preço da cotação média dos últimos 3 meses! Nunca se viu nada assim! E agora?! O que é que fazemos?!

A Maria, calmamente, arruma os lenços de papel na carteira e responde:

– Vocês não sei. Eu vou para casa tomar um chazinho com mel e limão e dois paracetamóis a ver se amanhã tenho cabeça para tratar dessa OPA HOSTIL.

(à suivre)

[Nota final do autor: nem todos os procedimentos deste texto são legais; mas serão possíveis]



Ainda os Loops of Zen

É oficial: estou agarrada. Esta noite sonhei que estava a tentar rodar aqueles tubos até conseguir acabar o puzzle. Completamente desesperada, como tinha estado antes, na fase acordada. Zen aquilo só no nome mesmo.

Vou tomar café e, enquanto isso e, se não tiverem nada que fazer, cliquem no Loops e digam-me se não é assim…