100nada

ora então, varrer isto um bocado

Está na altura de mudar o blog todo. Já não o posso ver. Tenho a sensação que tem cotão nos widgets, pó agarrado ao tamanho e cores das letras e teias de aranha na imagem. Antigamente, as coisas eram assim, um gajo mudava aqui e ali e ficava com ar mais novo, mas agora não é. Não basta mudar os móveis de sítio e dar uma varridela para debaixo dos sofás. Quero tudo novo, pintado de fresco, com janelas muito rasgadas e cortinas abertas ou fechadas. Já passou a fase confortável, um blog para meter os pés em cima da mesa, agora é um blog arreda as pilhas de lixo para meter os pés. Pelo menos é como o vejo. Claro que o leio (ou não, que não releio) da mesma forma, atenção! Não tenho cotão, pó ou teias de aranha no cérebro e nos textos. Ou se tenho é por variarem pouco, já que pouco o actualizo. Preciso de mudança estética a ver se me empurra a escrita. Em breve, em breve.



Offline e seguindo assim

Estive (praticamente) offline durante uns dias, com acesso a net mas sem vontade sequer de usar, limitando-me a ver emails no telemóvel uma vez por dia. Umas férias bestiais. Vou prosseguindo assim, que não me fez grande falta e tenho muito que fazer, a começar por abater as trombas que me aparecem sempre no caminho de volta. E não, não é pelo fim das mini-férias, é mesmo por sair de lá, seja férias ou fim de semana. À chegada, aí a uns 20 km, cheirei o asfalto e os escapes e pensei que já cá estava: esperam-me semáforos, filas de trânsito, secas para estacionar, correrias diversas e ainda caiu uma porta de um armário da cozinha. Vou fazer uma máquina de roupa, enfiar as hortenses numa bacia e, basicamente, seguir para a rotina em passo lento, a arrastar os pés e a contar os dias para voltar. Isto de uma pessoa ter o campo dentro, é uma chatice das grandes, quando tem que levar com a cidade em cima. (escusam de me dizer “muda de vida” que a malta tem que a ganhar, à vida, e é aqui).

De trombas portanto. Logo me passa.


Da ausência de receitas

[rascunho de ideia vaga]

Na verdade, são duas, as ideias vagas: uma mais ideia, a outra mais vaga. Esta última sob a forma de vontade quase irreprimível de ter escrito um post psico-culinário, que consistiria na descrição completa da minha tarde de domingo na cozinha, misturando chocolate, claras batidas em castelo, nevoeiro a cair de repente e considerações várias sobre a vida, a utilização de bimbys, a maneira mais simples de partir ovos sem deixar cair cascas para dentro das claras e de agarrar formas de silicone sem entornar o conteúdo: receitas, enfim.

Não o escrevi, mas terei ficado com essa parte das receitas em banho-maria, por assim dizer, o que me levou à outra, a ideia. Essa não foi, de todo, vaga, sei exactamente quando é que me caiu em cima: enquanto descia umas escadas para ir tomar café à esplanada com vista para o estacionamento, onde na mesa ao lado se bebem martinis a meio da manhã e o arroz é com pato.

Lá por me ter caído a ideia em cima, não quer dizer que viesse já com todas as palavras, como é evidente. As ideias não são assim, mesmo quando são directas ao nervo do formigueiro nos dedos. Caem e depois um gajo que se lixe, a tentar que não fiquem todas coladas às sinapses, como se fossem pastilha elástica, um bocado em vão, porque a única forma de as arrancar dali para fora é – para mim – enfiá-las em qualquer lado, traduzidas em letras e frases. Normalmente a amiga mais perto leva comigo em cima, mas algumas são mais de se escreverem. Enquanto aqui engonho e já lá vão três parágrafos, as ditas começam a parecer-se mais com coisa passível de escrever.

Vai tudo dar às receitas. Ao mesmo tempo que a mim me apeteceu escrever sobre um domingo na cozinha, coisa palpável e realizável, que se come inclusive e que se faz seguindo (mais ou menos) uma receita, a coisa que me ocorreu ali naquelas escadas, é que eu estava – estou – virada para a realidade das coisas existentes, dos assados e bolos (sempre fui mais bolos) [quer na escrita, quer na leitura aliás]. Ou – e aqui está a ideia, de repente tão clara – teço realidade seguindo receitas, mas para o resto não há. Não há receitas. No que escrevo, não há receitas, na vida não há receitas, tirando as dos bolos e das nódoas mais chatinhas. Nem no que os outros escrevem, pensei eu melhor e nessa altura já estava a pedir uma bica e um copo de água, nem no que os outros escrevem há receitas! Tanto faz eu escrever sobre a nuvem que passou pela janela, responsável por uma taça de claras cheia de cascas, como escrever sobre a imensão de sentimentos que se nos atravessam em momentos de lucidez abstracta iadaiada, porque não há receitas. Nem respostas sequer.

O que pode eventualmente haver é consolo. Solidariedade em coisas parecidas ou aparentemente semelhantes. Não há setas apontadas a dizer “vai por aqui”, só há, quando muito “eu fui por aqui e resultou assim”. Coisa que é perfeitamente inútil para quem procura uma direcção, porque cada um tem as suas, que não são de mais ninguém e até me parece um bocado perigoso dizer “vai por ali que vais bem”. Sei lá eu. Mas também não sei, a verdade é essa, se há pessoas que precisam mesmo de saber que por ali vão bem. Ou por outra, sei que existem, sim, muitas. É mais simples. É menos responsabilidade que se toma, se forem os outros a aconselhar. Custa menos na altura, é um facto. Mas não significa que seja realmente o caminho certo. No fim, provavelmente, custa muito mais.

Peguei na receita do bolo de chocolate e fiz outra coisa com ela. Parecida, sim, para primeira vez, para ver como é que ficava. Resultou, podia não ter resultado. Depois caiu o nevoeiro que estava antes sobre a outra margem. A temperatura desceu abruptamente, dez, quinze graus e lembrei-me que ainda faltavam os morangos. Um silêncio quase absoluto em casa, com sestas e jogos amenos de dia de repente cinzento mas nem por isso menos de verão. E agora reconcilio-me com a minha escrita desprovida de respostas. Não as tenho, ninguém tem. Por mim tudo fino, que haverá sempre mais bolos, caixas de cerejas, água a correr.



ah mas já que estou com a mão na massa

Deixo aqui uma mensagem daquelas que vai tudo raso. Lembrei-me agora.

Isto do Expresso foi engraçado. Gente que não me grama nem um bocadinho, fez questão de me dizer publicamente que é tão minha amiga, que eu estava tão gira, que bela reportagem e mais um par de botas. Pois aqui, também publicamente, só tenho a agradecer (porque sou bem educada) e a responder idebusfudere.
Espero ter deixado o recado bem claro.


Desinspiradinha da silva

Não é bem. Queria ter escrito um post. Tinha a coisa bastante alinhavada até. Daqueles que se escrevem sozinhos quase. E está-me aqui atravessado. Uma vontade das grandes.

Mas pensei pensei pensei e não. Isto é um blog e é um blog de uma certa maneira, não é um blog de outra maneira. E, principalmente, é um blog onde tudo o que escrevo, escrevo sem medir palavras. Se é para medir e pesar, mais vale nem escrever.

Agora a ver se me passa o formigueiro nos dedos e o bloqueio.


No semáforo vermelho

Para peões. No semáforo vermelho para peões e verde para os carros, a subir a João XXI, que é uma coisa que se faz dando algum gás, atravessa-se à minha frente um velho, que não só é lento, como cego à cor do semáforo para peões. Como cereja no bolo, traz muletas. Um velho de muletas a atravessar uma avenida de duas faixas, no semáforo vermelho para peões, com os carros a abrirem por ali acima.

Há gente que quer mesmo ficar debaixo de um carro.