(imagem daqui)
Não escreves nada, dizem-me, deve ser desse twitter. Como não escrevo? ainda ontem, sim mas foi sobre o twitter, o que é que isso interessa, perguntam-me amigas. E eu, pois se calhar. Como respondo sempre “tudo fino” quando me perguntam como estou. É mais simples. É o twitter e tá tudo fino. Não me consigo livrar de estar tudo fino sempre, porque a verdade é que está, tudo fino, tudo sem qualquer problema de maior, um espirro aqui, mais um ano de IRS por entregar ali, a bimba debita sopas e eu vou perdendo tudo o que vou arrumando, aos poucos, arrumo no sítio e perco, porque depois só me lembro que estava ali, em cima de qualquer outra coisa também fora de lugar e é assim que funciono. Com as coisas arrumadas fora de lugar.
É é também assim que escrevo. Com as coisas fora de lugar a arrumarem-se sozinhas. Não era nada disto, nunca é, mas depois caem papéis por cima e uma pessoa apanha-os e empurra-os para um sítio qualquer, um texto qualquer, que não era nada daquilo. Mas vai lá parar, de qualquer forma. Já sei como. É empurrando os papéis todos para o lado. É isso. Tudo para o lado para arranjar um espaço vazio. Sem papéis, sem letras. Vazio.
É onde estou. Teoricamente, claro, porque depois a sopa apita que está pronta e chovem mais umas folhas e coisas, mas é onde estou, mesmo assim. Ou onde preciso de estar. Num espaço artificialmente vazio, uma bolha no silêncio que só se encontra no mais profundo caos dos ruídos.