Às cinco e meia em ponto, nunca pensei ver tanta gente. Afinal na NZ há mais gente do que eu pensava, que estranho. Por que portas entrará esta gente que eu nunca vi, não sei quem são; mas se cá estão, alguma coisa haveremos de ter em comum, pergunto-me o quê, não sei. Talvez um guarda-chuva perdido no dia em que a chuva parou, talvez nada mais nos ligue, um cabo, umas varetas, um pedaço de pano impermeável. Coisa pouca realmente. Mas a NZ é grande…porque é que faço esta ligação? Também não sei. O bom das viagens é não ser preciso fazer perguntas, só tirar polaroids com má luz, fotografias imediatas e únicas em papel cuja maior qualidade é que se vá esbatendo com o tempo.
É a praça dos meus dejá vus todos, sei exactamente que ruas daqui partem, vejo-as sempre, já sei onde são. É engraçado que a NZ que aqui pinto se pareça tanto com essa terra que nunca vi senão nos sonhos recorrentes das mulheres que partilham o mesmo nome que eu.
Eventualmente há-de aparecer uma onda, mas isso será mais tarde.
Por agora, são cinco e meia e eu aguardo a chuva de guarda-chuvas perdidos, sentada no último degrau do escadote que aluguei. Não fui a única: pelo meio da multidão há outros escadotes, os degraus todos ocupados (também emprestei os restantes degraus, reservei-me o de cima, não sou criatura alta)
começa a chover.
Assim, de repente, sem aviso, sem se ter dado por nada, sem aviso de nuvens no céu. Só água, água, ficamos encharcados num segundo, cabelos colados, caras para cima, olhos fixos não se sabe em quê. Perguntei antes de que se tratava afinal? Ninguém me soube responder, creio que apenas se vê uma chuva de guarda-chuvas perdidos uma vez na vida. Ou então há outras, segredadas entre os iniciados.
Não sei como, a chuva fica às cores, lá em cima. Manchas de cores a voar. E começam a cair. Todos os guarda-chuvas que perdemos na vida, todos os que nos esquecemos nas entradas de casa de alguém, nos cantos dos cafés, nos carros dos amigos, todos os que emprestámos só para aquela chuvinha, todos os que nos desapareceram inexplicavelmente. Todos os guarda-chuvas que já nem nos lembrávamos que existiam.
O mais curioso é que já não os queremos.
Acabamos a trocar guarda-chuvas, como se trocam histórias.
Dadas.