100nada


Urban Paranoia

Quando parei no semáforo, a minha vida virou filme de suspense e terror. Claro que o mundo estava na mesma, mas já hoje de manhã tinha visto uns sinais: o trailer da coisa. Aconteceu quando encontrei um lugar para o carro à porta do sítio onde tinha de ir. Isto é estranhíssimo, pensei eu e fiquei a olhar à volta, mas não havia nenhuma grua a largar um pedaço de betão armado exactamente naquele lugar nem me pareceu ver nada no chão que pudesse indicar uma mina ou armadilha: estacionei. Mas a medo. Fugi do carro pela rua acima, sem olhar para trás, sempre à espera de ouvir a explosão. Não se ouviu nada e quase que me senti pior. Sabia que, não sendo naquele momento, seria mais tarde. Mas quando voltei o carro estava na mesma e não explodiu quando abri o cinzeiro. Pelo sim, pelo não, não abri o porta-bagagens. Mais tarde, de certeza que seria mesmo mais tarde.

Foi quando parei no semáforo. O homem gordo de camisola suja começou a andar na direcção do meu carro. Suspeitei logo dele porque trazia uma camisola grossa e, com o calor que estava, só podia ter alguma coisa por baixo, para além da enorme barriga. Quando estava quase a chegar ao pé da minha janela – subi o vidro – desviou e disfarçou e foi meter alguma coisa que trazia na mão (não consegui ver bem o que era, por não querer olhar directamente, mas pareceu-me um papel) num caixote do lixo ali perto. Era de certeza um envelope com indicações secretas, amachucado para ninguém desconfiar. Depois passou muito devagar por trás do carro e atravessou a rua. Continuei a vê-lo pelos espelhos, alternando entre cada um dos dos lados e o do meio e quase falhei o contacto que entretanto já estava na mesma esquina onde o homem gordo tinha parado primeiro. Este era totalmente suspeito: muito magro, com uma barba ruiva, cara de eslavo (mafia russa? as ligações do futebol, está tudo explicado, pensei eu, está a soldo do caramelo dono daquele clube que me escapa o nome agora, cujo treinador é aquele homem giríssimo do casaco armani); tinha vestido um fato de treino castanho claro, com meias beje e All Stars nos pés (a bota não dizia com a perdigota, como se nota). E um boné com a bandeira de Portugal. Um eslavo com as quinas coladas à testa num dia como o de hoje? Hum…só undercover, no mínimo.
Quando se virou a falar ao telemóvel (um gizmo dos que se abrem, última geração, com máquina fotográfica, equipamento de escuta, gps, ubp, xvo e raio laser), saltou um imenso fio de ouro da gola. Uma corrente grossa e comprida, completamente arma branca (de certeza que o fecho era em bola de metal com picos mas não se conseguia ver). Comecou a andar em direcção ao carro e eu a tentar olhar para todos os lados ao mesmo tempo. Atravessou a rua tal como o homem gordo, no mesmo sítio. E, enquanto o semáforo não mudava e eu o ia vendo, tal como ao homem gordo, no mesmo sítio, a ligar outra vez e a fazer outro telefonema, vi à frente, na mesma esquina o terceiro do grupelho: sei isso porque apesar de estar muito bem disfarçado de pessoa normal, com um fato verde vómito e uma gravata meio dourada a brilhar de fibra sintética ao sol, atendeu o telemóvel. Tive então a certeza absoluta que o dia ia correr mal. Arranquei assim que o semáforo dos peões mudou para vermelho, só queria era pirar-me dali para fora. Mas tenho a certeza que o Honda Civic que veio sempre sempre sempre atrás de mim na fila e que tinha dois homens de fato escuro e camisa branca no banco da frente e duas raparigas no banco de trás e os quatro estavam todos a mastigar pastilhas com as bocas a ruminarem em movimentos iguais (o do lugar do morto tirou também uns macacos do nariz, olhou para eles, abriu a janela e deu um piparote para o ar, mas ficaram colados ao dedo e esteve a abaná-lo um bocado). Nunca mudaram de faixa e viraram para o mesmo lado que eu.

Quando estacionei à porta de casa vi o último sinal que me deu a certeza absoluta: havia um vizinho a passear o cão; o bicho fez os seus cocós na rua e ele não apanhou nada: isso não é de estranhar, o que é de estranhar é que fosse ao fim da tarde quando eles e os cães só aparecem depois da meia-noite.

Sei que está qualquer coisa para acontecer, com todos estes sinais. Não sei o que é. Tranquei as portas e fechei as janelas todas. Daqui a bocado vou buscar a Uzi e despejar uns cartuchos pela varanda. Pelo sim pelo não.


De boas intenções e essas coisas todas…

(faz-se um gajo de forte para não se transformar numa miúda pequena de lágrima ao canto do olho – ou até já tendo encharcado um lenço ou outro – só a pensar, que queridos, que queridos)

É minha séria intenção (e aqui o anuncio solenemente) escrever um post de agradecimentos como deve ser. Eu juro que vou tentar. Com links, com comentários, com respostas, com tudo e tudo e tudo. Juro que tento. Palavra. É o mínimo não só da boa educação, mas principalmente por terem sido todos tão amáveis, queridos, simpáticos, ah sei lá, já estou a atrofiar…

(lá para o Natal é capaz de ficar pronto)

Mas agora mudemos de assunto:

Hoje mostrei o DN aos meus pais. Ao mesmo tempo contei sobre o sucesso do post ali de baixo, aquele que tem um tudo nada de palavras menos próprias…o meu pai só me disse ‘setenta e duas vezes?’ e a minha mãe fez de conta que não tinha ouvido nada ‘filha, agora estou a ler isto…’.
É o que me vale.

Nota: não deixar o miúdo ler o blog antes dos 18 anos.



The meaning of life and blogging against time

Menos de meia hora para escrever um post fresquinho, cheio de significado, que não é todos os dias (nem todos os blogs) que chegam aos dois anos e eu paradinha da silva a olhar para o MT com cara de parva a pensar, que raio escrevo eu agora?
É a vida de um blogger, ao fim de dois anos: que raio escrevo eu agora? que não tenha escrito antes, que não tenha sido escrito antes. É o problema dos blogs generalistas, intimistas, diarísticos, o que lhe queiram chamar. Uma pessoa vai escrevendo por ali fora, mas pensa muitas vezes, o que é que eu escrevo agora ou a outra versão mas que coisa é que eu estou a escrever agora? Um pouco uma inutilidade, no fundo, um exercício de futilidade, manter um blog como este, onde parte dos dias andei a matar a cabeça para conseguir escrever mais uma banalidade que tivesse um mínimo de originalidade, de graça, de sentido ou de falta dele, que tivesse qualquer coisa parecida com interesse. E que fosse a coisa mais simples do mundo, eu e o meu culto do minimalismo, da coisa que parece fácil, de olhar para mim e para o mundo com algum riso sempre à mistura, de tirar partido do lado ridículo, do lado parvo de tudo. O meu blog e os dois anos na blogsfera permitiram-me isso, todos os exercícios de escrita que me apeteceram, todas as gargalhadas que dei a escrever as maiores alucinações, todos os pontapés que dei no blog e na vida. É giro.

E, no entanto, um blog é uma coisa séria. Cresce e aparece e torna-se um grande chato, uma entidade com uma personalidade sua que não é bem a nossa, é assim mesmo ali ao lado, mais um certo tom que o mesmo som. A porcaria da coisa foge um bocado ao nosso controlo, ganha vida própria, quase que se escreve sozinha. Não me admiraria nada de tirar férias e no regresso encontrar posts 100nada escritos por criaturas (minúsculas, vestidas de verde, com capacetes com antenas e rádios às costas) que vivem nos editores de textos, escondidos entre os posts. É um assunto sério, este, tema para um post que agora até me estava a apetecer escrever, que já estou cheia de ideias sobre isso. Mas lá terei de gramar escrever este post e colocá-lo exactamente à meia-noite (e quem diz exactamente, diz mais uns minutos que qualquer coisa há-de correr mal, é típico) e os meus leitores terão de gramar com a leitura da coisa (ou fazer de conta) e alguns até creio que possam tentar encontrar alguma coisa obscura escondida pelo meio das letras. Não posso dizer se há ou não: nunca sei onde vão parar os meus posts. São escritos na ponta dos dedos. E como sou eu que os escrevo, também tenho a parte boa de não os ter de voltar a ler (salvo excepções em casos concretos que a isso me obrigam). É que, até agora, tudo isto sempre teve uma característica que a mim me agrada: é imediato e efémero, é um risco na areia molhada, um desenho que se desenha sabendo que passa e que se pode arriscar (e bem faço um esforço para não ter medo das palavras, de algumas que me assustam, por me soarem a falso, a enfeite, a pechisbeque pires, quando talvez não fossem se estivessem num contexto certo, mas enfim…)

0:00 – 19.05.05

Curioso. As coisas que acontecem em dois anos e que passaram também por este blog. Estão cá todas escritas embora já nem eu as entenda quando as leio.


Aiiiiiiiiiiiiiiiii! Outro não, outro não!

foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se foda-se quem é esse gajo bezerutsinifnitcaralhososfodamtski hã? quem é esse gajo zirkonadafamiliatodaov hein? que caralho é esta merda? três? quem foi o estropício agora? Onde está o Ricardo? Para que raio eu me preocupo? Wagner Love os tomates!!!!
Crlho, tamos fodidos, é o que é.


Sinais estranhos de clarividência

Está a acontecer-me uma coisa esquisitíssima: entro em blogs que não estão actualizados na minha lista, leio o último post e, quando volto à lista, vejo-os a actualizarem-se no minuto seguinte. Já é o terceiro ou quarto que acontece…ó meu Deus, estou a adivinhar coisas, estou a adivinhar coisas! (já venho, vou só entregar o boletim do euromilhões.)