100nada

Entre a cama e o sofá de pijama

(nem tenho sofá nem ando de pijama, mas adiante que ficou bem ali em cima)

Ora xacaver:

Seis episódios que faltavam do 24, primeira série; uma hora na mula a ver da segunda série, consegui desconfigurar tudo, perder os downloads que lá estavam a meio, agora está empancado, nada de novo, onde eu mexo, estrago;

Um filme a meio da tarde, com uma miúda americana a cair em casa do lord inglês pai dela e muita confusão que dali resulta, nem sei o nome, comecei a ver a meio;

Uns anúncios nos intervalos (merecem ser um item porque demoram mais tempo que o filme);

Dois CSI’s

Uma data de sestas, com o edredon até aos olhos;

Uma ida à rua para por o lixo, antes que ele resolvesse ir pelos seus próprios pés ou me entrasse pela casa a brigada anti qualquer coisa poluente;

Foi isto. Amanhã há mais, agora vou ver mais uns dvd’s e tomar mais uma dose de qualquer coisa (brufen ou isso).







Já cá canto

embora a canção seja um ai contínuo e muito agudo. Ou seria se pudesse uivar em paz e sossego mas infelizmente não posso: correria o risco de ter um coro de crianças e cães num raio de quilómetro e meio. Não me resta alternativa senão vir uivar aqui para o virtual, onde o som é mais abafado e, desligando as colunas, garanto que não me ouvem.

O caso é que eu tenho com os médicos uma relação socialmente cordata mas profissionalmente (da parte deles) muito má. Sou o clássico caso que se queixa sempre que, cada vez que entra num consultório, entra lá mais ou menos bem e sai de lá com uma vesícula a menos. Ou outra coisa qualquer. E, assim sendo, evito o mais possível sequer marcar consultas, que só isso me deixa logo doente.

Eu sei que isto não é uma relação fácil; mas eu para relações fáceis também não tenho a menor paciência. Claro, depois pago as favas e lá tenho que me aguentar. Sem sequer poder uivar, que é a parte pior.

É o caso. Neste preciso momento, em que descubro que a maior bomba que conheço e com a qual me tenho dado lindamente bem nas duas ocasiões dos últimos dez anos em que tive uma puta dor de dentes destas, não está a fazer efeito, estou a entrar em desespero absoluto. Quase a pontos de ir ali à cozinha e arrancar o dente com a faca dos bifes.

Em resumo: vou bater com a cabeça nas paredes até desmaiar, pode ser que ajude…

(nem vale a pena desejarem-me as melhoras: isto só tem melhoras quando aqui entrar uma broca; quero implantes em todos os dentes, quero dentes de ouro, quero ser uma velha desdentada, quero ter pontes e placas no copo ao lado da cama! Qualquer coisa, qualquer coisa é melhor, só pode!)



Há coisas que só se escrevem uma vez na vida

O meu Pai

O meu Pai é o homem mais direito que eu conheço.
Como é que se define, como é que se escreve um Pai? Como? Desaparecem as palavras à medida que as memórias se atropelam, não chegam a tempo as palavras porque já estou no outro lado do mundo.
Imagino, porque não sei se me lembro, não me lembro, mas vejo, é tão estranho, quase que poderia descrever a roupa, como as vejo a elas as duas tão pequeninas a fugirem pela pista fora, e eu, a mais velha, a ajudar a carregar um dos muitos sacos e a minha Mãe e as filhas a reencontrarem o homem da casa na primeira (não, não foi a primeira, mas é como se fosse) das centenas de despedidas e reencontros da nossa família; tinhamos vestidos côr de laranja de tricot feitos pela Mãe, com uma risca branca na bainha – e nas mangas? não me lembro, mas trocámos de roupa na casa de banho do avião e afinal aqueles vestidos eram quentes demais para aquele país, mas tinhamos chegado, estavamos juntos e o meu Pai estava lá, tinha ido primeiro

no livro de fim de curso há um verso que diz que iria para lá um dia

e foi.

Eram tão novos, meu Deus, mais novos do que eu sou agora.

Todos nós aprendemos desde muito cedo a despedirmo-nos. Habituarmo-nos à ausência e à constante presença na ausência. Não sei como é que os pais conseguem dar isso aos filhos, mas conseguem: que se sintam sempre seguros, sempre amados, que os pais estão lá sempre, mesmo que estejam do outro lado do mundo. No meio do turbilhão que foram quase todos os anos das nossas vidas, mesmo nas alturas em que me senti mais perdida, nunca me senti desamparada. E, no meio do mulherio, muitas vezes desvairado, o meu Pai era (e é) a presença sempre calma, sempre cerebral vá lá filha vamos lá ver isso com calma, vamos lá reflectir sobre isso; vamos.
(estou a misturar tudo, as palavras estão aqui e o resto já vai além): vamos falar sobre isso e depois pensas o que queres fazer, no fundo é isso. É tão simples: falamos e depois tu pensas.

O meu Pai fez de mim uma criatura independente. Ensinou-me uma data de coisas, sem precisar de dizer nada, só pelo exemplo: as obrigações e os deveres, o pensamento analítico, o valor da calma (que não domino nada bem…), o domínio sobre si mesmo. Ensinou-me a conversar e a desconversar, mostrou-me a ironia, o sentido de humor, a beleza das árvores, ensina o meu filho a plantar. Aprendi que o amor não precisa de ser dito alto, que pode ser um passeio por um caminho; às vezes em silêncio, outras a dizer estás a ver aquela, já tem trinta anos, não se nota nada, parece uma árvore pequena ainda, o miúdo é um bocado teimoso, tens de ver isso, já trataste dos impostos? ó filha, francamente.

O meu Pai é o homem mais direito que eu conheço. Tem tentado toda a vida fazer de nós pessoas direitas.

Obrigada, Pai.


Os comentários

Várias pessoas se queixaram não ser possível deixar comentos no blog. Escrevem, enviam e a coisa perde-se no validar. Lamento imenso mas parece-me que tem acontecido a vários blogs do weblog, contrariando aquele velho ditado do “enquanto mal nunca pior”.

O email aqui do tasco é: miragem at gmail dot com.