Tenho os elefantes a voar sobre a segunda circular. Tentei transformá-los em pássaros de longas asas, em voos elegantes, circulares também, talvez até umas torres envidraçadas, mas não tive qualquer hipótese; os elefantes prosseguiram como se nada fosse, como se não notassem o esforço da mão que carrega no delete. Elefantes, pensei eu, enquanto iam passando muito sérios, quando decidem qualquer coisa, incluindo serem alados sobre uma estrada de três ou quatro faixas, não há quem os demova. Deixei-os para trás, ainda a vê-los no espelho retrovisor, trombas esticadas e corpos em balão a pairarem agora, sempre em fila muito certa a uns dez metros do chão.
Ok, digo eu, eles não estavam realmente lá. Mas continuam e eu não percebo porquê que ficaram a pairar. Um pouco como as lâmpadas dos candeeiros, aquelas que se acendem no momento exacto em que estamos a passar. Coisas que calham e cujo sentido tentamos encontrar de qualquer forma, porque raio se acende aquele candeeiro naquele preciso segundo, porque diabo tenho eu os elefantes a pairar quase ao lado de uma daquelas pontes de atravessar. A única coisa que sei é que são meus, estes elefantes, só meus, pela simples razão de os ter escrito, de os transpor para a realidade. Mas não sei se gostam, se ficam felizes; se é alguma coisa que um elefante que consegue voar queira, ser transformado em letrinhas.
Suspeito que não.