100nada

Um barco afundado em terra

Elefantes voadores, ilhas e barcos. Como se a vida fosse água e não um mar de cimento ainda por secar.
Escrever o que vai na alma, pois está bem, mas só há o onde, esta folha vazia que merecia mais. Mas vamos amontoando cenas, nunca calha. Quando era miúda não tinha vergonha de nada, agora neste tempo de imagem, as palavras são antigas, não há espaço, não há lado de dentro. É preciso coragem, não sei se tenho. Quando era miúda não tinha medo de nada, agora só do ridículo cada vez que
Parece que um gajo deixou a alma lá atrás em qualquer lado
Há uns anos um amigo também antigo, antigo amigo de anos, antigo também no cansaço, no já passámos por tanta coisa, disse-me uma frase, assim, atirada no meio de uma conversa
Mas fiquei a pensar
Na altura respondi estás enganado
E ele nem sei o que disse depois mas transformando a conversa em ficção (ele não se importa de certeza)
E se não disse podia ter dito
Então enganamo-nos a nós mesmos
Mas agora – nisto que já sou eu a pensar numa conversa imaginaria – não sei se nos enganamos para sim ou para não
Já não temos idade para nos apaixonarmos
Disse ele
E eu, tanta coisa que sinto tanto e não acho que tenha a ver com a idade
Mas pode ser cimento.
Ou ridículo.
Ou qualquer merda que nos ata.

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5 thoughts on “Um barco afundado em terra

  1. Élio

    A Folha vazia merece muito mais. O medo é uma defesa do Ser
    O medo diminui-se, encolhendo o terreno em que circula. Quando o ser humano se deixa inundar pelo medo ou afirma que não tem medo, que o desfez, transforma-se num irresponsável, num inconsciente, num ente perigoso para si e para os outros. A coragem mora em Ti. O engano é apenas engano e talvez se possa corrigir…
    O apaixonar não escolhe idades. O Sentir é o importante, lança o ridículo e até a merda para bem longe.

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