100nada

Referendo às grandes obras públicas, já!

Antes de mais, confesso que escrever aquele título ali em cima me dá uma volta ao estômago, assim por princípio. Eu acho que o povão (eu incluída) não tem nada que decidir sobre as decisões de investimento do país, quando, ainda por cima, metade dele (do povão) nem sequer sabe o que é investimento e 3/4 não consegue soletrar unvistomanto correctamente.

Mas o caso é grave e a crise ainda mais. Estamos num país à beira de abrir falência real (a técnica já lá vai) e ao povão é pedido que faça grandes sacrifícios. O povão já anda a fazer sacrifícios há anos, aos poucos, mas agora é que vão ser mesmo dos grandes. Mais dia menos dia, vão subir os impostos, directos, indirectos, que serão pagos por quem ainda tem emprego. O resto está desempregado. Todos os dias há mais gente a ser despedida. Já não é na fábrica lá longe que nos toca apenas como rodapé de telejornal. Quem não tem alguém de família ou amigo que não foi despedido recentemente, que ponha o dedo no ar. Toda esta gente (este povão que não sabe soletrar investimento) vai pagar uma factura muito cara nos próximos anos.

Acho que têm direito a escolha. Acho que ganharam o direito à escolha, por via dos sacrifícios já feitos e dos que estão para chegar. E acho que não precisamos de grandes obras estruturantes agora. Pela primeira vez na vida, mais uma coisa que me dá a volta ao estômago, concordo com o PR. O que é preciso é investir em indústrias de bens transaccionáveis. Não estamos em tempo de precisar de aeroportos e linhas de comboio e estradas novas, porque não vamos ter nada para enviar por elas. Trocado por miúdos, estamos em tempo de investir em indústrias que produzam coisas que se vendam, a ver se entram receitas.

Esta ideia de gastar mais para colocar as finanças em ordem faz-me uma confusão do caráças. Eu quero decidir para onde vai o meu IRS. Quero um referendo que pergunte claramente:

“prefere que o Governo gaste o montante de x milhares de milhões de euros no aeroporto, no TGV e numas vias rápidas ou prefere que o gaste com apoios às empresas, à modernização da indústria, à formação (séria!) de bons profissionais e a mais umas quantas centenas ou milhares de coisas que o país está a precisar mais agora?”

Caneco, se é para investir no futuro e não se ganhar nada agora com esses investimentos, ao menos, ao menos, então invistam na educação, que pode ser que a próxima geração, dessa forma, consiga pagar a conta.

(Nota: este post até parece uma coisa de esquerdalha, não fosse verificar que toda a direita e a esquerda acha estes investimentos completamente idiotas. Basicamente acho que toda a gente neste país acha estes investimentos completamente idiotas, à excepção dos idiotas que temos a mandar nesta merda)

20 thoughts on “Referendo às grandes obras públicas, já!

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  9. Paulo Querido

    Caneco, eu não sou de direita nem de esquerda, embora dê o meu voto a este lado, e talvez por isso alio-me aos “idiotas” para defender obras públicas. Bem, pelo menos algumas. Quer dizer, refiro-me ao comboio de alta velocidade.

    Por isso, e à tua pergunta,
    “prefere que o Governo gaste o montante de x milhares de milhões de euros no aeroporto, no TGV e numas vias rápidas ou prefere que o gaste com apoios às empresas, à modernização da indústria, à formação (séria!) de bons profissionais e a mais umas quantas centenas ou milhares de coisas que o país está a precisar mais agora?”

    respondo, prefiro no TGV e formação séria, mais séria do que os “cursos financiados pela UE”. Nem mais um cêntimo para apoios às empresas, que em Portugal, sobretudo, no médio prazo redundam por sistema em lucro muito privado, consumo de luxo e dívida bastante pública. E aeroporto travão às quatro rodas até vermos que tipo de aviões teremos no ar (e em terra :) ) em 2020 e além. A indústria da aviação está uma interrogação do camandro.

  10. catarina

    Paulo,dos 3, TGV, aeroporto e estradas, talvez fosse até mais pelo TGV, embora mesmo assim tenha sérias dúvidas que contribua para a melhoria do país. Mas agora não me parece, de todo, altura para investir nesses projectos, como disse no post. Mais tarde, sim, comboios e estradas, aeroporto nem pensar, muito menos nestes moldes.

    O apoio às empresas, não, não é subsídios, nem ajudinhas aos amigos, mas há montanhas de formas de apoiar o tecido empresarial sem ser a injectar capital directa ou indirectamente.

    Costumo ouvir aquelas histórias da inovação que passam na TSF e acho grande parte delas muito giras. Por outro lado, vou ouvindo falar de projectos e empresas ainda pequenas mas já muito estabelecidas (PME’s) que fazem coisas bestiais, com apoios mínimos.

    E a formação? Séria, claro e a empresários também. Sob várias formas (ideias não faltam), mas umas delas em coisas muito práticas, como aprenderem a usar os apoios que já existem. Por exemplo. A descomplicar processos. E por aí fora. Ensinar a pescar, como se costuma dizer.

  11. Uma Senhora de Idade Que Passou Por Aqui

    Apoiado! muito bem! – onde é que sassina pra pedir (exigir) o referendo?

  12. -pirata-vermelho-

    Há poucos como nós! Há cerca de dez anos que afirmo a ‘nossa’ falência técnica, funcional e institucional. É-me grato encontrar uma voz não televisiva a dizer o mesmo, com toda a simplicidade, de modo a que quem não sabe do que se trata possa ficar alertado. Apesar do ‘nosso’ ódio dogmático, ou atávico, ou isso… digo-o em reforço da sua opinião.

  13. I.

    Apoiadíssimo. Com as actuais linhas de comboio em mau estado, com a A1 num estado também ele mauzito, porque neste país nunca há manutenção para o que existe, para quê gastar numa nova linha que apenas vai poupar meia hotita num trajecto que já se faz bem depressinha em alfa?
    Ó pá, arranjem-se investimentos a sério, que criem postos de trabalho para durar, e não apenas uma bolsa de emprego de construção civil que daqui a uns anitos desaparece.

  14. SOD, o Pérfido

    A partir da última vez que tentei ver a diferença entre a esquerda e direita políticas, diria que o texto está mais para a direita que para a esquerda.

    Cá em Portugal andamos todos entretidos a prestar maus serviços uns aos outros enquanto deixamos de produzir.

    Andam todos preocupados em todo o mundo. Mas a China é que está a amealhar com o esbanjamento geral do consumo exagerado ocidental…

  15. Miguel

    Tema complexo. Bastante.

    Há dias, em Luanda, durante um jantar com uma tripulação, ouvia o que supus, muito correctamente afinal, ser o comandante, afirmar com ar seguro que era vital suspender as obras públicas para acalmar os mercados. Caraças! “Os mercados!”. Até fiquei zonzo…

    Há muita intoxicação (informativa) da opinião pública.

    Concordo plenamente com a declaração feita sobre o ataque ao Euro. Há que reestruturar o sistema. Nós vivemos acima das nossas posses, sim. Mas iremos mesmo deixar de pagar amanhã? Não me parece.

    Os juros da dívida pública portuguesa dispararam porque: 1. É possível a qualquer macaco especular sobre CDS sem deter o activo subjacente levando o “mercado” a supor que o risco de incumprimento está a aumentar logo o juro solicitado tem que ser maior; 2. A descida do rating da dívida pública, para além de lhe conferir um maior risco e diminuir a qualidade do activo, faz com que as entidades detentoras de tais títulos, dependendo das regras que lhe são inerentes, sejam “forçadas”, no estrito cumprimento das mesmas, a alienar os activos que deixem de cumprir com o definido provocando a subida das yields.

    Pá, ando enojado com isto tudo, para te ser sincero. A regulamentação demasiadamente “flexível e permissiva” está a dar azo a todo um conjunto de situações que são completamente aberrantes e um ultraje ao modelo civilizacional em que acreditamos.

  16. jean luc

    para obras primero perguntar a ingenieros.
    como asesoramiento le digo, para que quiere un TGV si es tan bonito viajar lento, viendo las caras de las damas en compañia, y de tanto el paisaje a nuestra vera?.
    no necesitamos acelerar tanto,
    podríamos ser teletransportados sin quererlo.
    un cálido saludo,
    etc.

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