Portugal e Grécia: vai tudo dar ao mesmo
Eu sei que nós sabemos que não é assim. Os gregos são mais morenos, faz de conta que lá se passam filmes de gajas a cantar Mamma Mia, têm mais estátuas e mais antigas, inventaram os Jogos Olímpicos e tinham deuses porreiros que abancavam com a malta nas jantaradas em chaises-longes, enquanto aqui na Lusitânia ainda estavam os dinossauros a pensar se se extinguiam ou se ainda resistiam a mais um aquecimento global. Além disso, têm um plano já todo encaminhado para que a dívida deles lhes seja paga pelos outros e nós ainda vamos na parte do gastar mais, a ver se rebenta e termos também direito a um planozinho Marshall do século XXI.
Mas os investidores estrangeiros, que acham que a Europa é mais ou menos tudo a mesma coisa, tirando a mulher do Sarkozy e a Merkel, claro que metem tudo no mesmo saco. Ainda mais se ficar no Sul e tiver o mesmo mar.
Porquê?
Ora então vejamos. Vamos fazer um exercício de imaginação geográfica, ok?
Se vos disser que a Bolsa de Singapura e de Hong Kong e a de Xangai e a de Nova Deli e a de Pneunhonguenhongue estão a subir umas mais que as outras, conseguem apontar no mapa, assim de repente, onde ficam essas cidades?
Pois. Bem me parecia.
- 4. A crise financeira trocada em moedas de cinco cêntimos: Portugal 2010
- Referendo às grandes obras públicas, já!
Pingback: Catarina Campos
Pingback: 31 da Sarrafada
Pingback: Rede TubarãoEsquilo
Pois nem é necessário dizer que te dou 20 valores relativamente ao post anterior, mas acho bastante estranho que a S&P continue a merecer credibilidade quando atribuiram um índice de baixo risco ao Lehman Brothers, pouco tempo depois foi cos porcos.
Mas isto sou eu a falar que não percebo nada de Economia, basta dizer que o meu problema de défice é grave…
Foram enganados, como toda a gente.
De qq forma, acho que não é 1 rating que serve para análises profundas. É uma carrada de coisas. Assim, digamos num parecer de 10 ou 20 páginas de análise, há uma linha que diz “S&P rating é tal”.
A Bolsa cá caiu anteontem ANTES DO RATING ter baixado.
Vá, aponto Singapura, Hong-Kong, Xangai e Nova Deli no mapa em menos de um ai!, but I got your point. Raramente se pensa “outside the box”, e no resto do mundo quase nunca alguém sabe apontar Portugal no mapa. [Já te partilhei!]
(vi agora mesmo, Kika, obrigada).
Pois, é isso mesmo.
ahahah, bem visto
Moral da história, os investidores são ignorantes, e não sabem distinguir uma praça das outras? os donos do capital escolhem gente estúpida para investir tanto dinheiro em mercados tão voláteis?
Quando — obviamente — “nós”, que não percebemos de mercados financeiros, escolheríamos os melhores profissionais que conseguíssemos contratar?
Há que duvidar da contra-informação governamental que insinua racismo anti-sul, é informação da mesma gente só piorou a condição financeira do país ano após ano após ano…
Não sei se os investidores confudem, António, mas não há dúvidas que os analistas juntam.
Hum, tens a impressão que os dealers são gente inteligente e informada? Eu nem por isso…
Se falas dos analistas dos telejornais e blogues, de acordo – mas essa gente não consegue nomear um departamento de um investment bank, quanto muito ir para além do populismo da moda…
Quanto aos dealers, nem falei neles, mas não são eles que fazem os modelos. Vês?
Os modelos só servem para ajudar a tomar decisões. Sim, concedo que esses serão feitos por gente capaz. Mas se fossem assim tão eficazes, não haveriam crashes e outras coisas que tais.
Para além dos telejornais e blogues a juntar Portugal e Grécia, tens todos os jornais financeiros sérios internacionais. Para eles é tudo o mesmo (e provavelmente não estarão assim tão longe da razão como nós achamos).
Lá está, não é função dos modelos financeiros evitar crashes. Quem os gere bem gostaria, porque quem consegua prever tais acontecimentos pode ganhar muito dinheiro. Mas não são os modelos em si uma forma de evitar crashes. Especialmente quando essas crises viriam de qualquer forma. Como foi o caso da crise financeira nos EUA, ou e o caso da dívida soberana na UE.
E lá está, argumentar com os “jornais sérios” é o que eu estou a dizer. Acho que há aí uma dissonância cognitiva. Nunca li “são todos iguais”. Leio, pelo contrário, a tese do contágio, que depende do facto dos países serem diferentes. Mas as pessoas não param de repetir mecanicamente “acham que é tudo o mesmo”. E associar a esse consenso a ideia que os investidores também pensam o mesmo. E (pirueta) que são eles os toscos e nós os sofisticados. Quando (aqui está a ironia) umas das criticas da indústria é que os modelos levam demasiado em conta parâmetros macroeconómicos — que são todos diferentes de país para país — não conseguindo simular questões sistemáticas (partilhadas) do espaço económico em que os países se inserem.
Pingback: Achados na web | desfocado