100nada

4. A crise financeira trocada em moedas de cinco cêntimos: Portugal 2010

Estava eu aqui a pensar que era altura de prosseguir com a minha série “A crise financeira trocada em moedas de cinco cêntimos” (aconselho a leitura dos posts anteriores). Eis senão quando vejo este post da Jonasnuts, exactamente a pedir que lhe fosse trocada esta porra toda nas tais moedas de cinco cêntimos. Foi o empurrão que precisava.

Nos posts anteriores, expliquei como funcionava a Aldeia Global, as trocas comerciais, as economias de escala, as sinergias e outros palavrões, incluindo a parte da Bolsa ser volátil, quando entra tudo em pânico. Agora a ver se consigo, sem cenouras, coelhos ou a empresa dos primos, dar uma (pelo menos vaga) ideia do que aqui se está a passar em Portugal, num formato que toda a gente entenda. É que isto da Economia e das Finanças, a sério, não acreditem quando vos dizem que é complicadíssimo. Só é complicadíssimo porque a malta que sabe mais da coisa gosta 1. de complicar e 2. que ninguém mais perceba para que 3. possa dizer uma data de asneiras sem ser apanhada pelo grande público.

E depois, não é uma ciência exacta, a Economia. Há correntes ideológicas, ie, há gajos que pensam que se se puxar por aqui, rasga ali e outros que acham que, se se empurrar acoli, não rasga e fica mais firme. E o que a realidade nos tem dito é que, nuns casos funciona numas alturas e noutros casos funciona noutras alturas e não funciona noutros casos e, basicamente é uma questão de, com grandes parangonas e palavras no mínimo esdrúxulas, se aplicar a teoria “agora a ver o que acontece se carregar neste botão”. Soa familiar? Pois claro que soa, a economia é igual ao resto.

Vamos lá por partes e começar com o orçamento, as contas públicas e o défice, como se fosse a economia do lar. As minhas caras leitoras trabalham e ganham, vamos supor, 1000 euros por mês. Entre contas da casa, dívidas com crédito à habitação e outros, colégios, roupa e mais aqueles pares de sapatos que temos mesmo que comprar, no final do mês gastam 1200 euros. Uma chatice, hein? Temos aqui um buraco financeiro de 200 euros que, olha que giro, se chama défice. É a diferença negativa entre o que se ganha (a receita) e o que se gasta (a despesa). O Estado é igual, sendo que a receita vem por via de impostos e mais umas quantas merdas e gasta, quanto a mim, mais em pares de sapatos do que a pagar água e luz.

Bom, mas temos ali aqueles 200 euros para pagar e mesmo mudando de assunto e assobiando para o lado e deixando passar uns tempos a ver se alguém se esquece (que é o que o Estado mau pagador faz muitas vezes), a porcaria do défice continua lá. Há que recorrer a alguém para nos emprestar aquele montante. Vamos supor então que recorremos ao CC (Cartão de Crédito) para pagar o tal buraco. A escolha é merdosa, claro, os juros do CC são altos, mas é o que há. Vai daí transformamos o défice em dívida externa. Porque ali no nosso caso é o CC, mas no caso do Estado, tem que ir buscar o cacau fora. Pede emprestado a outros países para pagar a dívida presente e a maneira mais simples é emitir dívida pública, ou seja, emite uns papelinhos (Titulos, daí que esse tipo de dívida se chama “dívida titulada”) do Tesouro. A malta que vive na Aldeia Global compra aquilo, fica com os papelinhos e empresta o dinheiro. E o Estado lá equilibra as contas, mas fica com a dívida para pagar mais tarde.

No mês seguinte, o défice é de 300 euros, porque havia também uma carteira giríssima em saldos e quem diz uma carteira diz um CCB ou um TGV ou um hospital. Lá emite o Estado mais dívida pública e o défice agora é de 500 euros. E no mês seguinte a coisa continua assim, no descalabro crescente.

Chega a uma certa altura e uma pessoa diz, porra, este saldo do CC, catano, nem que eu agora poupe em sapatos e na água e luz e mude de casa para uma mais pequena, não o vou conseguir pagar tão cedo. Ai meu Deus e agora? e enquanto se chora muito ou diz, ah não quero saber, tá tudo bem, nem é nada comigo, nessa precisa altura o CC olha para aquela continha tão linda, tão alta e vê que aquela pessoa não só continua a ganhar 1000 euros e não faz grande coisa para poupar, como se calhar não vai pagar mesmo. E o que é que faz? AUMENTA A TAXA DE JURO. Porque aumentou o risco.

Ok, quando estamos a falar do CC, na realidade não é mesmo o CC que pensa isso. Faz de conta que há uns gajos que ganham a vida a olhar para quem deve e vão analisando as contas daquela pessoa e o comportamento em relação a tudo: se produz mais, se vai ganhar mais, se tem emprego estável, ou se a coisa está a ficar preta e aquela pessoa não tem lá muitas condições de pagar. E diz ao Visa, cuidado com a Catarina Campos, olha que se fartou de gastar em sapatos, não poupou um tusto, continua a aumentar o que deve e qualquer dia não paga. E abota umas letrinhas à frente daquele nome. Se é cinco estrelas e vai pagar tudo a tempo e horas, mete, vamos supor, três AAA. Mas se talvez pague talvez não, se calhar vai ter dificuldades já mete, sei lá, uma coisa assim mais parecida com dois BB. E depois ainda avisa se a coisa está estável, se tem tendência a piorar ou a melhorar e mete um sinal mais ou um sinal menos. Coisa mesmo básica, esta notação, mas chama-se notação de risco (risk rating) e esses gajos (existem mesmo!) que ganham a vida a meter letrinhas à frente de nomes de países e empresas, chamam-se agências de rating.

E, tal como dois parágrafos atrás se referia, quanto maior estes gajos dizem que é o risco, maior é a taxa de juro. Isto é simples, mas eu explico: vocês emprestam dinheiro a alguém que sabem que vai pagar. Há um risco baixinho, os juros são baixinhos. Se vão emprestar a alguém que pode ter dificuldades em pagar, o risco é maior e os juros também são mais altos. Ok, eu sei que isto em termos lógicos não faz sentido nenhum, porque se alguém já tem dificuldade em pagar, se tiver que pagar juros altos ainda vai ser mais difícil, mas isto não é um jogo de lógica: isto é a lei básica da economia, de procura e oferta. Se uma pessoa é bom pagador, toda a gente lhe empresta. Os “emprestadores” são muitos, concorrem entre si e baixam o preço do empréstimo (a taxa de juro é isso mesmo, grosso modo, o preço do empréstimo). Quando o tipo que pede emprestado não é de grande confiança, menos gente está disposta a emprestar e o preço sobe. É como os sapatos da Foreva e da Stivalli, tal e qual. E pamordeus, vamos chamar os bois pelos nomes de uma vez, repitam comigo: quem empresta chama-se MUTUANTE. E quem pede emprestado chama-se MUTUÁRIO (colem nos frigoríficos).

O que é que me falta? Ah a Bolsa. A Bolsa está explicada em posts anteriores (este e este). O que aconteceu agora é que há uns tempos as agências de rating desceram o rating de Portugal. Da tal dívida pública, cujos juros subiram, o que a faz mais yummy, embora para menos investidores. Por cá acenou-se com o PEC, assobiou-se um nadinha, discutiu-se muito e ninguém levou a sério o Ministro das Finanças. Toda a gente fala muito sobre apertar o cinto mas ninguém se entende sobre o como, entretanto o PM também não consegue ter sol na eira e chuva no nabal e não foi exactamente firme e hirto a mostrar aos mercados internacionais (os tais que compram os títulos de dívida pública – e outros privados, como acções de empresas portuguesas) que nós somos sérios e pagamos o que devemos, os investidores enervaram-se, tiveram um ataque de pânico, estupidez e cupidez (se quiserem depois explico a parte da cupidez e manipulação de mercados) vá de vender acções à força toda, a Bolsa desceu (o que desce é o índice, a Bolsa fica na mesma rua) e as agências de rating pensaram, pronto estes macacos são piores que os gregos (esses já estão na fase pedir a toda a gente que lhes pague a dívida, que eles não conseguem sozinhos) e vamos mas é baixar mais o rating. E pimbas, foi o que aconteceu.

Finalmente, respondendo à Jonasnuts “e agora o que é que eu faço?” Pois, nada. Amealhar uns cobres, pensar numa horta, manter o emprego. Principalmente manter o emprego. E reflectir sobre quem vai realmente pagar tudo isto que o Estado (que somos nós todos) deve a toda a gente, mercê da acumulação de défices seguidos, patrocinados por mais dívida pública. Nós? Sim, nós, os nossos filhos, os nossos netos. Esta porra está à beira de ir dormir para debaixo de uma ponte. É que vender aos estrangeiros já nem vale a pena, porque, na realidade, já nos compraram.

36 thoughts on “4. A crise financeira trocada em moedas de cinco cêntimos: Portugal 2010

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  5. Uma Senhora de Idade Que Passou Por Aqui

    Pois foi uma belíssima lição de economia, ou finanças, que eu não distingo uma da outra. Bem podia a Sôdona Cat ir pràs televisões explicar, que aqueles senhores engravatados e emproados usam linguagenm de sete mil e quinhentos e a comum doméstica não percebe um boi…
    Um grande bem-haja por saber falar (escrever) em português simples e entendível :)

  6. Catarina C.

    Como lhe disse no twita, cara amiga, as finanças são os ingredientes e a economia as receitas. Simples. :)
    Eles explicam assim para ng perceber…é como a letra dos médicos. :)
    Obrigada.

    Mana Fi :))

  7. Pingback: Carlos Ramos Lopes

  8. Gwyneth Llewelyn

    Ah, ainda bem que temos uma especialista que sabe explicar estas coisinhas! Cat, estás a prestar um favor enorme à sociedade… pena é que não haja mais gente a ler-te!

    Fico no entanto infeliz por saber que não há “nada” que se possa fazer. Lembro-me que mais ou menos por esta altura ano passado o que eu dizia era simples: consumir mais e não menos. Consumir, sim, mas não endividar-se para consumir. Esse é o segredo americano: quando as pessoas começam a sentir-se mais confiantes, voltam a consumir como dantes. Isto coloca mais dinheiro em circulação; as fábricas aumentam a produção de bens e serviços; novas lojas abrem para substituir as que tinham fechado; o Estado arrecada mais impostos; e em três tempos a economia volta a estar como estava.

    Na Europa (e em particular em Portugal) somos muito menos consumistas. Ocorre uma crise, começamos a poupar. Com isso tiramos dinheiro de circulação — que, com sorte, vai apenas para os bancos, onde só alimentará a capacidade especulativa de uns poucos (daí ano passado os bancos terem apresentado lucros como de costume — ou mais que o costume segundo alguns!). Com azar fica no mealheiro e de nada serve. Menos dinheiro em circulação não é necessariamente terrível — pelo menos a inflação baixa! — mas também significa menos pessoas a comprarem, e. logo, mais lojas a fecharem, mais fábricas a fecharem — mais pessoas no desemprego, menos impostos arrecadados, a dívida pública a aumentar, mesmo que o Estado até cancele mega-projectos New Deal e seja mais cuidadoso e rigoroso nas despesas públicas.

    Se o Estado (pelo menos o português) só tem receita proveniente de taxação sobre os rendimentos e sobre o consumo, e se há menos rendimentos (mais pessoas despedidas) e menos consumo (as pessoas poupam mais), e, para piorar a coisa, quem não tem rendimentos vai parar ao subsídio de desemprego (o Estado aumenta a despesa com a Segurança Social), então não me parece assim tão estranho que haja déficit, e que seja difícil de o controlar. Quanto mais tempo passa, mais esta espiral negativa aumentará…

    Onde é que está a falha do meu raciocínio? :)

    O facto é que nos Estados Unidos resolvem o problema sempre da mesma maneira: a dada altura, o pessoal farta-se de poupar tanto, e começa mas é a gastar em roupa, écrãs de plasma, consolas de jogos, comida, viagens para aqui e ali. Mas isso é porque eles têm realmente uma cultura de consumo que nós (ainda) não temos. E a que nós começamos a ter baseia-se essencialmente no endividamento para adquirir bens que não precisamos…

  9. Clara

    na verdade haveria umas coisas a fazer e umas quantas ainda a vender a estrangeiros. o pec sucks porque vai buscar a todo lado menos onde deve: é pura e simplesmente incapaz de dizer à rapariga que sapatos agora não há mais, ela continua a comprar sandálias prada e cortou foi na comida biológica para passar a comer mac donalds todos os dias. não só a dívida aumenta como daqui a nada está no hospital com uma úlcera brutal. o disparate do costume [eu já estou como o Jorge de Sena, este país não se aguenta e ninguém merece a desonra de nascer aqui].

  10. Pingback: João Tomé

  11. AntónioCostaAmaral (AA)

    Muito bem Cat,

    Só apontava que o Estado não somos todos nós, lá porque nos vem ao bolso. Eu não elegi aquela gentinha, nem geri mal as contas públicas…

    Gwyn,

    Por onde começar? :) A tua posição está muito bem escrita, como sempre… mas não faz sentido.

    Usando a analogia da Cat, não se sai do buraco da dívida comprando mais sapatos porque assim somos mais produtivos. E especialmente porque depois ficamos descapitalizados para piores males que advirão de tal comportamento irresponsável.

    O consumo é necessário, mas em tempos de crise há que poupar. Continuará a ser consumido o que é verdadeiramente necessário, enquanto o acessório ou desnecessário terá dificuldades em financiamento. As poupanças das pessoas servirão para estarem preparadas para o futuro, mas encontrarão, pelo sistema financeiro, caminho para os investidores mais robustos.

    Depois de uma bebedeira, ajuda meter mais uns drinks, mas a ressaca vai ser pior. Se o Estado arruina as contas públicas, não deve o Estado consumir mais, nem devem as pessoas fazê-lo. “Ajuda” no imediato, mas é tapar o sol com a peneira.

    As empresas que precisam de restruturação continuarão em funcionamento, medidas de contenção adiam-se, as pessoas ficam mais pobres – embora agora possuam mais – de coisas que não vão produzir mais valor.

    Os EUA não são exemplo para ninguém. Depois da bolha .com e do 9/11, entraram em pânic, e a filosofia era consumir-consumir. O que se tinha e (tens razão) o que não se tinha. O Fed começou a imprimir dinheiro, que injectava na Economia vendendo-o a juros baixos. Malta endividava-se mais porque o crédito era mais barato, empresas julgavam que os bons tempos regressavam. E tanta liquidez encontrou o caminho para o housing, como podia ter ido para outro lado. O resto é sabido.

    Isto tudo por causa da ideia que é o consumo que guia a economia, e não a poupança/investimento. Não é uma questão técnica. É a diferença entre subtrair recursos à economia, e acrescentar-lhe recursos.

  12. I.

    Obrigada, obrigada, obrigada! Isto é que é serviço público!

    Quanto ao que se deve fazer, é o que faço sempre. Apesar de o Estado ser o meu patrão, o meu posto de trabalho não está em risco. Sou poupada e pago as contas antes de comprar sapatos. Não tenho dívidas para além da casita, o carro está pago e ainda dura uns anos, pelo que se está bem.

    Bom, agora uma perguntinha. Ventilaram-me que era boa altura para investir em obrigações do tesouro. É verdade?
    (Assim comássim, eu sou daquelas que paga impostos sobre tudo o que ganha, e se vou ajudar a financiar esta merda obrigada, já agora investia umas poupanças e ganhava algum.)

  13. AntónioCostaAmaral (AA)

    Quem acha que esta crise é artifical, que compre obrigações do tesouro. Nada como apostar contra os mercados, quando se julga que os mercados estão errados. Uns compram, outros vendem, e ambos fazem-no porque têm opiniões diferentes. Chama-se a isso “especular”.

    Claro que se muita gente fizer isso, e se o país se safar por ora, e se os ratings subirem, …, o Governo não virá a público falar de um “ataque concertado” e outras baboseiras afins :)

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  17. henrique

    Catarina,

    Que artigo incrível. Uma realidade tão complexa explicada de uma forma tão simples.

    Tu és a prova viva de que ser pomposo/palavroso não é um sinal de inteligência, mas sim um sintoma da falta de capacidade de comunicação. Mas tu dizes e com razão que muitas vezes é propositado.

    De qualquer maneira fora com os pomposos/palavrosos.

  18. Zeza

    Excelente sim senhor. Fico orgulhosa por te saber tão bom cumunicador e de linguagem simples e directa. Estás de parabéns continua assim é FIXE……………………………. ps-não leves a mal não gosto da flor do cabeçalho

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  21. SOD, o Pérfido

    E um texto sobre a confiança e o valor subjectivo da moeda? Só para dar pesadelos a quem poupa hoje, para gastar amanhã…

    E o sorvedouro de riqueza que é a China ainda está por explorar noutro episódio da Aldeia Global…

    Que se comprem sapatos pode não ser completamente errados. Desde que os sapatos sejam cá fabricados. A riqueza não sai do país, ao contrário de quando se compra artigos electrónicos, automóveis, etc.

  22. AntónioCostaAmaral (AA)

    “a riqueza não sai do país” – mais mercantilismo…

    Lá porque dinheiro sai do país para entrarem bens e serviços, não quer dizer que “o país” fique mais pobre. Antes pelo contrário. Essa transacção ocorre porque a troca comercial melhora as condições de ambas as partes. “O país” fica melhor. De facto, quanto mais houver lá fora para comprarmos mais barato do que aquilo que conseguirmos produzir, melhor. Mais dinheiro fica para pouparmos, investirmos e gastarmos em mais bens e serviços produzidos cá e lá fora.

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  24. Suzi

    Os Donos de Portugal
    • Cem anos de poder económico (1910-2010)
    • Vários
    • Edição em Português. Publicado em 10/2010 – Afrontamento
    Este livro apresenta os donos de Portugal e faz a história política da acumulação de capital ao longo dos anos que vão de 1910 a 2010. Descobre-se a fortuna nascida da protecção: pelas pautas alfandegárias contra a concorrência, pela ditadura contra as classes populares, pela liberalização contra a democracia na economia.
    Esta burguesia é uma teia de relações próximas: os Champalimaud, Mello, Ulrich, entre outros, unem-se numa mesma família. Os principais interesses económicos conjugam-se na finança. Esta burguesia é estatista e autoritária: o seu mercado é o Estado e depende por isso da promiscuidade entre política e negócios.
    “Os Donos de Portugal” retrata também um fracasso monumental: o de uma oligarquia financeira incapaz de se modernizar com democracia, beneficiária do atraso, atraída pela especulação e pelas rendas do Estado e que se afasta da produção e da modernização. Ameaçada pelo 25 de Abril, esta oligarquia restabeleceu-se através de um gigantesco processo de concentração de capital organizado pelas privatizações. Os escândalos do BCP, do BPN e do BPP revelaram as faces da ganância. Este livro demonstra como os donos de Portugal se instalam sobre o privilégio e favorecimento.

  25. AntónioCostaAmaral (AA)

    Curiosamente não haveria “protecção” e “promiscuidade entre política e negócios” sem o Estado. Foi o Estado que protegeu essa gente, e proporcionou tamanha concentração de poder económico, à custa da malta que não tinha outras opções de políticos e empresários – mal concerteza do “neoliberalismo”.

    Mas amanhã os desinteressados autores desse livro lá virão dizer, com a honestidade intelectual que os caracteriza, que o mercado livre faz os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.

    Curiosamente são eles, os autores, os maiores defensores em Portugal da ideologia “estatista e autoritária” mais assassina e empobrecedora alguma vez inventada. Mas fica-lhes bem pregar o “ódio ao burguês” de braço esquerdo no ar, e o direito a servir-se de caviar.

  26. Rui Rosario

    Por muito ilucidativo que o teu post possa parecer a economia de um pais nao pode ser comparada a uma economia familiar. A impressao de moeda, com a desvalorização da mesma por exemplo nao pode ser aplicada aos nossos orçamentos familiares.

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