100nada

Carne para canhão

Eu sei que é uma grande desgraça e claro que tenho imensa pena dos rapazes e espero que fiquem bem e isso tudo, como é evidente, mas não consegui resistir. Abri o site do Expresso e passados 30 segundos caiam-me as lágrimas pela cara abaixo, a rir que nem uma maluca. É que não é todos os dias – mas pelos vistos só porque não calha – que um comercial ligeiro, que é um carrito maneirinho até, consegue atropelar 16 (dezasseis!) gajos, todos de uma só vez. Ali está o homem na televisão outra vez, mais o boné branco, ao contrário das camisolas dos tropas, que eram verde (tropa) a dizer que ainda se tentou desviar. Inacreditavelmente, quando se tentou desviar, conseguiu logo mais pontos, porque aquilo foi mesmo em cheio, mas tivesse seguido em frente, o resultado seria o mesmo.

É que a tropa vai ali a correr no meio da estrada. Se alguém acha isto normal, deve ter andado no Colégio Militar e levou tanta tareia que os neurónios ficaram todos esmagadinhos entre as orelhas e o discernimento. A tropa-ia-a-correr-pelo-meio-da-estrada. Onde andam, coisa estranhíssima, carros. Que são de chapa, contrariamente aos fatos verde-tropa da tropa e nem sempre conseguem levitar por cima do pelotão que aparece de repente ali mesmo à frente NO MEIO DA ESTRADA. Faço ideia do susto do tipo, porque sinceramente, não acredito que os carros assustassem os tropas, senão NÃO IAM A CORRER PELO MEIO DA ESTRADA. Mas como é Tancos, devem achar que a eles não se aplicam as normas que se aplicam a todos nós. Normas aliás que, por razões de segurança, são tão levadas ao extremo, que tanto é obrigatório usar colete brilhante para um peregrino a Fátima, como um tipo com um pneu furado na estrada de Tancos ou até duas senhoras que tocaram os pára-choques no semáforo da Av. da República, a meio de um dia de sol de Agosto.

Mas àquele pelotão que foi varrido pelo senhor dos jornais, não. Nada disso se aplica, os carros que se desviem. Como dizia o cromo porta-voz do exército, que acha que, num dia de chuva às sete da manhã até já é dia (como se os coletes fossem só obrigatórios à noite e fosse obrigatório para os automobilistas usarem visão raio-x com mira telescópica para conseguirem discernir um pelotão disfarçado de asfalto), “se se apurar que essa pode ser uma razão” nessa altura consideram pensar nos coletes.

Não chegam 16 (DEZASSEIS!) rapazes serem atropelados. Nada disso. Vai ter que ser uma companhia com oficiais e já agora, uns cavalos e uns F-16 pelo menos. Nessa altura, talvez, talvez tenhamos os tropas a correr pelo meio da estrada de coletes amarelos.

Porque pelos vistos, NÃO CORREREM NO MEIO DA ESTRADA ESTÁ FORA DE QUESTÃO…

5 thoughts on “Carne para canhão

  1. Pingback: Catarina Campos

  2. zesim

    Cara Catarina,

    não misturar exército com Força Aérea ou Armada. São coisas muito distintas quer ao nível intelectual quer ao nível de qualidade.
    F-16 e cavalos não ligam muito bem. :)

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