100nada

7 anos na prisão para Isatino Morais, no país das bananas maravilhosas

Eu nem ia actualizar o blog, mas apanhei uma fúria que ia espatifando o carro na A5, quando ouvi no rádio. Entrei em casa danada, já em comício, furiosa com os 7 anos de prisão efectiva para Isaltino Morais.

Mas antes que comecem os comentos a chamar-me nomes e admitindo que esses comentadores lerão as primeiras cinco linhas deste post, digo antes de mais:
Sou absolutamente a favor da justiça, das instituições, da aplicação das leis e tudo isso. E considero-me pessoa honesta e de bem.
Portanto se Isaltino Morais é culpado, acho muito bem que cumpra pena, pague multas e expie os seus crimes, como se costuma dizer. Que a leis e a justiça sejam aplicadas a Isaltino Morais e a toda a gente.

E aqui é que começa a minha fúria. Na parte do “e a toda a gente”. Pura e simplesmente não consigo aceitar nem admitir que, num país em que todos os dias acontecem crimes violentos, onde existem centenas de processos de crimes de colarinho branco e toda esta gente sai incólume, em penas suspensas e pulseiras electrónicas, há uma pessoa de repente que apanha 7 anos de prisão efectiva. Não matou ninguém, não é pedófilo, não assaltou à mão armada, não deu tiros, não faliu bancos, não criou institutos fictícios para angariar subsídios, não, nada disso: esses são as penas suspensas, os casos prescritos, os “não se prova nada”, os “coitadinhos vítimas da sociedade que não sabem senão recorrer à violência, é falta de educação, coitados”.

E depois, esta história toda cheia a esturro político. Haja em vista a quantidade de comentários que já ouvi e que são todos mais ou menos na base do “finalmente há justiça! finalmente os grandes começam a ser apanhados! Isto agora vai mudar!” e ninguém se lembra que, por mero acaso, total coincidência com certeza, calha mesmo em vésperas de período eleitoral. E – oh que estranho – vejam lá que os outros arguidos do mesmo caso calha que foram absolvidos. E – mais factos que por certo não terão nada a ver com isto – o senhor é independente no seu partido, que o deixou cair por completo assim que cheirou a bode expiatório.

E depois, não estamos a falar do autarca de Cu de Judas Lá Longe. Não. É o autarca de Oeiras, conselho agora rico e em crescimento, cheio de empresas, centros de negócio, jardins, parques, estradas sem buracos e luzes nos candeeiros. Por – também mero acaso – foi graças a Isaltino Morais, que é um excelente autarca, um facto que não se pode negar, basta ir a Oeiras ver, basta ter visto como era antes e o que mudou. Será o mérito dele como autarca razão para o absolver dos crimes de que é acusado? Não, não tem nada a ver, concedo, embora me custe que o mérito não conte para amenizar uma pena, quando o desmérito, a coitadice da vítima da sociedade que desata a matar gente, isso já conta.

A minha fúria não é contra a aplicação da justiça. A minha fúria é contra os pesos e medidas. É não andar descansada na rua e fechar-me a sete chaves em casa. É saber que andam assassinos e ladrões à solta e toda a gente sabe quem são e ninguém os prende por medo. É saber que pedófilos podem dar aulas a crianças depois de serem considerados culpados. É saber que o estado mete a mão no nosso bolso para salvar empresas falidas e ninguém vai preso. A minha fúria é contra exemplos, estandartes políticos, bodes expiatórios. A minha fúria é saber que é preciso um político pertencer à nomenclatura e ao partido para ter uma melhor hipótese de se safar.

E, claro, é por (eventualmente, já que Isaltino Morais vai recorrer e mantém a candidatura) o país perder um excelente autarca e continuarem os medíocres todos por aí, impunes e incólumes.

Se há justiça, haveria de ser para todos. Se agora aparecerem os outros todos condenados a vinte anos, a perpétuas, os assassinos, os pedófilos, os outros ladrões todos, então nessa altura dou a mão à palmatória e tudo bem, aceito. Mas assim não. Assim não.

15 thoughts on “7 anos na prisão para Isatino Morais, no país das bananas maravilhosas

  1. Pingback: Catarina Campos

  2. Vítor I

    Por essa ordem de ideias enquanto não forem exemplarmente condenados todos os assassinos, pedófilos e afins os políticos/ladrões corruptos devem ser deixados em paz.

  3. catarina

    Se calhar deviam ser mesmo não achas? Ou não te parece que há aqui uma priorização errada de crimes? Não é *todos* os assassinos e *todos* os pedófilos, mas pelo menos os que são presos e depois levam penas levezinhas, já era um começo.

  4. Faço minhas as palavras do Vitor e devolvo-te a pergunta Catarina: achas mesmo que não deveria ser incriminado ninguém enquanto houverem vergonhosos casos a boiar na justiça? ou é isso mas só em algumas situações, como por exemplo quando o presumido reú até é um bom autarca, daquele género bem tuga do “ok, se calhar rouba, mas dá mais que os outros ao município”?
    Para preversão da justiça já basta quem por lá anda, eu cá dispenso-me de dar ajudas.

  5. cristina

    então…Catarina.

    o homem foi eleito pelos minicipes para gerir os bens publicos. foi julgado e considerado provado, e condenado, por um crime de corrupção passiva para acto ilícito, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal…

    então, segundo dizes, enquanto houver pedofilos e assassinos, os autarcas podem roubar à vontade, ser corruptos, fugir ao fisco, abusar do poder que lhe foi conferido e mandar o dinheirinho para a suiça, o nosso.ou as sobras, como ele diz. ou seja: conseguiu enganar o governo e o proprio partido de uma assentada.
    mas há crimes mais graves.

    é isso Cat?

  6. catarina

    zé e cristina mas foi isso que eu escrevi no meu post?! Não me parece. O que escrevi é que haja justiça para todos e de forma justa. O pedofilo sai com pena suspensa porque é vítima da sociedade. O competente mas corrupto apanha sete anos. Não me parece nada normal. Mas se acham normal e uma boa aplicação da lei tudo fino comigo. Foi só a minha opinião que não é para ser extrapolar mais do que eu escrevi.

  7. catarina

    se há tempo para julgar todos e por este passar á frente não prescreverem coisas mais graves claro que não. Mas a questão não é deixar de julgar e condenar! São os pesos e medidas das penas aplicadas.

  8. ZaraTraste

    O homem foi condenado mas a sentença ainda não transitou em julgado o que equivale a dizer “ainda a procissão vai no adro” e, portanto, presume-se inocente…
    Agora… não devemos misturar cagalhões com marmelos, só porque são todos castanhos ou amarelos, embora me cheire que este cagalhão também está a levar por razões políticas.
    Para mim este caso fica bem assim. O que está errado é os outros não levarem o mesmo tratamento.
    Um beijinho, querida!

  9. José Freitas

    Não conheço Oeiras, por isso não julgo sobre a obra autárquica de Isaltino Morais. Admito que seja um bom autarca. Mas isso não justifica, nem esclarece, o caso do cheque, as sobras das campanhas e a ‘casa diplomática’ de Cabo Verde. Tudo pouco e alegadamente mal explicado no tribunal.É pena que outros criminosos fiquem livres de uma justiça que nos deixa muito a desejar. Mas se o homem for culpado, deve ser castigado. Independentemente de outros não o serem.

  10. catarina

    Zara, essa tua frase é absolutamente maravilhosa (a dos castanhos e amarelos) não conhecia! Sim, mas eu concordo contigo e é o aquilo que digo no meu post: “o que está mal é os outros não levarem o mesmo tratamento”. Sim e como não levam, um gajo desconfia desta história toda.

    José Freitas, a sua opinião é muito equilibrada e eu estaria inclinada a concordar, mas infelizmente parece-me que há muito mais a explicar do que os crimes de que Isaltino foi agora julgado e considerado culpado.

  11. Clara

    Eu sei que ele estava(á) como independente. Mas a estrelinha [e o do partido que governa] é o Marcos, a Meirelles foi para queimar [até tinham lá outro antes].

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