Os vagos sons da vida das pessoas
Lá fora, quase nada, a chuva que chega finalmente, leve, silenciosa, discreta, para não aborrecer muito, a rega que dispara mesmo com chuva e se mistura. Os cães ao longe, hoje mais calados, abafados pela água, provavelmente abrigados e chateados. Em casa, o silêncio da televisão desligada, o sopro do fumo dos cigarros, a música em surdina nos auscultadores, teclas a baterem mais lentas, mais rápidas. Quase se ouvem movimentos, uma perna a traçar, uma mão a passar no cabelo, uma espreguiçadela lenta.
Eu na sopa. Isto, parecendo que não, é importante. Não, não é a sopa agora, é a sopa do jantar, é descascar cenouras e temperar bifes e queimar o (primeiro) arroz.
– …a sopa?!
– sim, a sopa.
– mas estás a escrever sobre o quê afinal?
– sobre “os vagos sons da vida das pessoas”
– e a sopa, onde é que entra aí a sopa?
– a sopa, a sopa…a sopa tá ali, é importante!
– ok, ok…
Sei que parece rotina e até pode muito bem ser, sei que parece não fazer sentido, mas para mim faz. Nunca escrevo exactamente o que ali está escrito. São recados para mim mesma. Tenho alguma esperança de ainda um dia conseguir reler esta tralha toda; mas que não leia, mesmo assim, são sempre recados para mim mesma, são coisas minhas. É a sopa, no fundo, o dia-a-dia: os vagos sons da vida das pessoas. É aquilo que eu tive, durante muito tempo, essa “sopa ao lume” que, de alguma forma, era um impedimento a tanta coisa.
E que agora não faz diferença absolutamente nenhuma.
- Samuel Morse
- A interminável demanda pelo perfeito par de sapatos
posso dar-te um abraço com sabor a sopa de agriões?
É desses silêncios vistos de fora apesar de estarmos dentro deles e de os ouvirmos, por isso, de dentro da cabeça por onde passa a mão que alisa os cabelos, que se vão fazendo todos os blogs de que eu gosto muito, como este, não sei porquê mas tem a ver com a verdade.
Engraçado o meu post de hoje também tem sons. Não tem sopa, nem bimbys, nem varinhas mágicas, nem o som da sopa a borbulhar na fervura, mas estes, do teu post, são recados teus, pessoais, embora que transmissiveis. Um beijinho.
Pois… assim se chega a…
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miúda, a vantagem da bimby é poderes ter a sopa ao lume sem correr o risco dela se queimar – eu sei, parece meio incongruente, mas achei que ficava giro! 😛
cheira tanto a crise, essa sopa….
ora bolas;
Já agora, ficou boa?