100nada

Música para bicicletas

Foi a bicicleta a atravessar a estrada no espelho retrovisor. Bateu numa frase da música; nem sei qual era, sei que bateu, directo, certo, em total harmonia como se aquela parte daquela música estúpida (que nem sei qual era) tivesse sido inventada propositadamente para bicicletas que atravessam estradas depois de carros passarem. Por isso é que lhe chamo estúpida, porque, fosse eu a dita música, sentir-me-ia mesmo estúpida se me tivessem dito que tinha sido propositadamente inventada para servir de banda sonora a bicicletas que atravessam estradas depois de carros passarem. Fosse eu essa música, diria, caneco (fosse eu essa música diria sempre, em qualquer ocasião, fosse que conversa fosse, a palavra caneco antes da frase que viria a seguir) caneco, pois, diria a música, não podia ter sido inventada para outra coisa? Tinha que ser para isto? Bicicletas que atravessam estradas depois de carros passarem, mas o que é isso? Olhe lá, diria a música ao seu compositor, não se importa de meter nessa pauta mais umas quantas notas? Não me está muito a apetecer inspirar esta porra (se fosse eu, se fosse eu, repito), preferia, nem sei bem, estou um bocadinho aparvalhada com o destino que me está a dar…não se pode dizer que seja uma coisa assim que fique, tá bem, tá bem, no ouvido, ok, ok, mas não poderia ser antes para a posteridade? Hum? Queria ser uma música que se ouvisse, olhe, não sei, numa batalha? O que acha? Não? Uma batalha naval! Era boa ideia. Não! Não é isso, não esteja aí a cantarolar, um tiro num barco de dois canos, um tiro na água, um tiro num barco de três canos, não está a perceber? Uma verdadeira batalha naval! Com barcos à vela, grandes mastros, canhões e piratas. Era mais isso, não lhe custava nada, ande lá, mude aí umas notas. Eu não quero isto! Não quero que alguém diga que, ao ouvir-me, se irá lembrar de bicicletas que atravessam estradas depois de carros passarem…não quero.
Não quero ser uma musiquinha gira.
Não percebe?

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