100nada

Andar às traças transparentes

Não era isto. Agora nunca é, que coisa. É como se estivesse a apanhar borboletas, borboletas é bom, podiam aparecer agora com o calor. Traças transparentes, estender a mão e poisarem (e morderem a camisola quando não se está a ver). Ou pedaços de ar mesmo. Tão transparentes que se poderiam confundir. Uma menina a correr a tentar apanhar o ar (se eu escrevesse vento, faria mais efeito? e quando não há vento? quando é estático?) é isto a ideia. A estender a mão para traças transparentes, que estão poisadas mas ela não vê. É isto. Não sou ainda capaz de agarrar esta ideia e dar-lhe forma em palavras (mas vou ser).

[aborrece-me não conseguir dar palavras a sons]



Supermercado ao fim de semana

“(…) Saio dali com uma falta de ar que nem vos conto, a sonhar com campos de trigo e com o mundo livre da humanidade, arrasada por uma catástrofe natural, como por exemplo um surto de raiva (isto foi de um filme que vi ontem). Os portugueses são um lugar estranho.”

Não se pode perder este “A barrinha do cliente seguinte” da minha querida Sofia Vieira. Estou aqui às gargalhadas histéricas, a acenar com a cabeça, tal e qual, é exactamente isto! Confirmo totalmente, também eu vítima de ataque de visigodos ao sábado, já que se me tinham acabado iogurtes e garrafas de ice tea.

(felizmente hoje calhou distrair-me e ter ficado a olhar para o tecto. Ou para ontem. Ou para amanhã mesmo.)



Lamento (auto comiseratório)

Não vou chegar à noitinha e reparar que os choupos estão vermelhos de primavera
Não vou acender um cigarro cá fora, já de noite, e ouvir o vento a soprar baixinho lá ao fundo
Não vou de mãos dadas ver se a minha árvore e a dele cresceram muito e receber a a primeira florzinha amarela, apanhada no meio da erva
Não os vou ver a correr por todo o lado, à solta, aos gritos, a saudar o espaço e o tempo que parece tão sem fim ali
Não vou estar nas conversas à mesa, longas, de histórias e gargalhadas
Não vou fazer rir o meu sobrinho bebé nem rir-me com os outros nem ter o abraço da princesa agarrada a mim deixa-me andar querida
Não vou berrar cinquenta vezes parem de discutir de andar ao estalo larga o primo não lhe dês murros parem com isso larga a nintendo que está um dia lindo
Não vou olhar para tudo aquilo a toda a hora e decidir que quero ali viver para sempre pela milésima vez

Não vou, não fui.

(agora choro meia hora e depois isto já me passa)


TwitterPortugal blog

(como estão fartos de saber, o tema Twitter tem sido muito roído aqui no 100nada. Eu gosto do Twitter e gosto de escrever sobre isso.)

Sem mais delongas, fui convidada a escrever no novo blog português sobre o Twitter, o TwitterPortugal Blog. Aceitei, contentíssima, claro e já lá estou, a fazer parte de uma equipa que (caneco!) é do caráças mesmo: o @PauloQuerido, o @alexgamela, e o @raul_pereira. Ui ui, eu no meio dos grandes, toda orgulhosa, pois claro.

Já lá está o meu primeiro post e, a partir de agora, assuntos de Twitter é lá mesmo.


As minhas amigas

Juntam-se em cantos e segredam-se, encostadas umas às outras (mesmo em sítios separados mas ligadas nas conversas), dizem coisas misteriosas e riem muito, mesmo que estejam quase a chorar porque a outra sabe sempre (sempre!) e mistura a coisa errada com outra que seja engraçada e são assim as mulheres realmente amigas. Contam histórias e preocupam-se e depois segredam segredam, sabes que a mim, pois tá claro e tens toda a razão e depois ia na rua e ouvi a mesma coisa e não sejas parva só tu é que não vês e mesmo com óculos e lá se foi o meu zen não sejas assim olha que nunca mais vais ter essa parte e ainda bem ainda bem que não somos só nós e não te reconheço e tem calma e conta-me essa parte a sério com toda a gente perto e preciso é de coisa leve e preciso é de repensar isto tudo e preciso é de um corte de cabelo e não estás bem a ver e por acaso também achei isso tal e qual e não sejas tonta claro que é assim e não realmente não podes e que parvoíce não há paciência e preciso é de me distrair conta lá e não digas isso não é nada assim e

misturam-se as amigas e baralhamos e tornamos a dar para que se reconheçam sem se reconhecer e para, acima de tudo

agradecer.


Isto sim é realidade paralela virtual doida

De morrer a rir. E, se calhar, um tudo nada preocupante, mas estou a rir tanto que nem consigo considerar sério. Isto é das coisas mais maradas que tenho visto/lido nos últimos tempos. Espectacular.

Resumindo, há um rapaz que está no Twitter, entra-lhe um tipo pela casa adentro e este marado (o do Twitter, não o outro), em vez de chamar a polícia, ou qualquer coisa racional e normal, não: twitta sobre o assunto. Vai contando o que está a acontecer, que o outro está fechado na casa de banho dele, que se calhar devia chamar a polícia mas não chama, enfim, tudo reacções completamente perturbadas de quem vive dentro da net. Impressionante.

E mais! Não só twitta como a seguir monta um stream e filma (e debita o stream para a net) o que vai acontecer quando finalmente se decide a correr com o intruso que entretanto já está ferrado a dormir numa cama.

Os Tweets estão aqui e o stream no youtube, claro. Vale a pena ir ler, que é mesmo alucinante.

Isto é demência, não?

[será fake?]


Gestão dos nossos espaços

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(imagem daqui)

Não escreves nada, dizem-me, deve ser desse twitter. Como não escrevo? ainda ontem, sim mas foi sobre o twitter, o que é que isso interessa, perguntam-me amigas. E eu, pois se calhar. Como respondo sempre “tudo fino” quando me perguntam como estou. É mais simples. É o twitter e tá tudo fino. Não me consigo livrar de estar tudo fino sempre, porque a verdade é que está, tudo fino, tudo sem qualquer problema de maior, um espirro aqui, mais um ano de IRS por entregar ali, a bimba debita sopas e eu vou perdendo tudo o que vou arrumando, aos poucos, arrumo no sítio e perco, porque depois só me lembro que estava ali, em cima de qualquer outra coisa também fora de lugar e é assim que funciono. Com as coisas arrumadas fora de lugar.

É é também assim que escrevo. Com as coisas fora de lugar a arrumarem-se sozinhas. Não era nada disto, nunca é, mas depois caem papéis por cima e uma pessoa apanha-os e empurra-os para um sítio qualquer, um texto qualquer, que não era nada daquilo. Mas vai lá parar, de qualquer forma. Já sei como. É empurrando os papéis todos para o lado. É isso. Tudo para o lado para arranjar um espaço vazio. Sem papéis, sem letras. Vazio.

É onde estou. Teoricamente, claro, porque depois a sopa apita que está pronta e chovem mais umas folhas e coisas, mas é onde estou, mesmo assim. Ou onde preciso de estar. Num espaço artificialmente vazio, uma bolha no silêncio que só se encontra no mais profundo caos dos ruídos.


Reciclar o pó

Aproveitar os mergulhos no fundo para qualquer coisa de inútil. Reciclar as partículas que pairam em dias de sol às riscas nos soalhos, juntar tudo num montinho (de pó) e atirar outra vez ao ar.
Para que mudem de posição, de órbita, para baralhar e tornar a dar.
Como se fossem elefantes microscópicos a voar.