WikiLeaks e os controladores aéreos espanhóis
A única coisa em comum que têm os dois acima é que aconteceram na mesma época pré-natalícia, pelo que os junto no mesmo post (estamos em época de poupar, até o espaço na net).
O primeiro caso em mim provoca uma série de sentimentos ao mesmo tempo: vontade de aplaudir, achar inacreditável que se persigam estes tipos que só colocam a verdade sem rendinhas à vista de todos, achar muito curioso que o fundador tenha um mandado por assédio sexual (é como o Al Capone, apanhado pelo fisco) e, ao mesmo tempo, parecer-me estranho que alguém estranhe que se seja pragmático em relatórios. Nem todos somos tugas na escrita: provavelmente a informação circulará nos mesmos moldes em conteúdo, este é doido varrido, aquele é um ditadorzinho baixote, apenas com mais flores e numa data de parágrafos inúteis. Mas tem piada confirmar uma vez mais que, no fundo, grande parte do mundo é de uma hipocrisia desgraçada: todos pensam a mesma coisa, mas se alguém mostra que outros dizem que o rei vai nu, cai o carmo e a trindade. Talvez seja altura para retirar as luvas brancas e chamar os bois pelos nomes. Aplauso, portanto e siga a banda.
Os controladores que pararam o espaço aéreo espanhol, numa greve selvagem, confesso que, sendo eu tão cumpridora de leis e achando que os direitos são para se usarem, mas que também há deveres, puxam-me pelo meu lado anarca radical e não deixo de sentir alguma admiração pelo acto. A verdade é que se arriscam a ir para o olho da rua, mas fizeram a paragem mesmo assim. E estou-me borrifando para o facto de ser pela razão de quererem ser mais bem pagos quando aparentemente já são bem pagos: não sou uma mautsetunguista que ache que, porque muita gente ganha mal, todos temos que ganhar mal. Aliás, deixemos a hipocrisia de lado, já agora, e pensemos um nadinha que todas as revoluções têm por base uma ordem financeira: são os capitães que ganham mal, são os pobres fartos de imperadores, e por aí fora. Se a malta acha que os controladores não têm que ganhar o que ganham, passem a usar o comboio. Sejam também corporativos e arrisquem qualquer coisa.
Mas claro, é tão mais fácil escrever posts e ficar quieto. Batendo palmas a quem realmente é coerente com o que pensa e bloqueia a amazon por ter deixado de dar guarida ao WikiLeaks. Eu, uma fraca, escrevo posts e encomendo mais uns CD’s…
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Aplaudido, de pé!
Obrigada
Mai nada…
Pois olha que a minha costela de anarca cada vez cresce mais, qualquer dia é um esqueleto inteiro.
Perante a reinante filhadaputice só apetece gritar “Anarquia já!”.
A cena dos controladores só me espanta no seguinte: não faço ideia de como é a lei da greve espanhola, mas não acho bem fazer greve sem pré aviso, ou greve de zelo. Cá não se admite, e acho uma falta disciplinar gravíssima, que pode conduzir ao despedimento. Que façam greve, nada contra; e quero lá saber quanto ganham (queria eu ganhar o mesmo, mas também não tenho jeito para controladora) ou se querem ganhar mais (também eu queria), mas acho mal dizerem “olha, hoje estamos de greve e não vamos, saudinha e até um dia destes”. Tem de haver regras, ou então não podem esperar grande respeito, né.
Vítor, é como eu, mas é uma coisa de raiva, mais
I, eu concordo com tudinho que escreveste, mas já ando tão danada que até acho lindo que a malta vá partir uns vidros. Claro que condeno, de facto, mas o meu lado anarca anda a falar muito alto…
Tal como nunca são os oprimidos que tomam a iniciativa, também os vidros dos verdadeiros culpados ficam intactos.
São os líderes que sonham substituir o poder que levam os oprimidos e os vidros dos pseudoculpados que ficam estilhaçados.
A anarquia nunca me seduziu. Gosto de tudo arrumadinho…