Onde é que fica a cortina?
Às vezes parece-me que estou do lado de lá da cortina, mas não é a assistir ao filme da vida e essas coisas todas. Não. É mais está a acontecer mas à pessoa ao lado que também sou eu. E, se me fosse embora, não por querer, não por querer, mas acontecia qualquer coisa, aquela placa tectónica mexia para o lado e eu ia em cima e deslizava e ficava desviada – ainda com a cortina ao lado, o que é muito estranho mesmo, a cortina ir ao lado – mas vá, provavelmente o varão estava pregado, quer dizer, as estacas onde o varão assentava estavam pregadas ou cravadas naquela placa tectónica e ia tudo comigo menos a minha vida onde eu também estava.
E preocupada em saber onde fica a cortina em vez de me preocupar com os ondes é que eu estava.
é uma sensação estranha quando acontece, mas perante certos factos, além de ser uma boa maneira de lidar com os «inacreditáves» do dia-a-dia, é a melhor auto-defesa que podemos criar para continuar em frente.
Catarina, satisfaz-me a curiosidade: essa tua alter-cortina é de veludo vermelho ou é assim um tecido mais para o moderno? (a minha às vezes parece um oleado, mas enfim, lava-se bem, gasta-se pouco e aguenta comigo ainda)
Irene, obrigada pelo comentário, nunca tinha pensado nisso dessa forma. Engraçado o que as pessoas tiram do que escrevemos (e o que dão de volta, claro).
Zé, agora que me obrigas a pensar nesse detalhe: completamente de plástico, uma daquelas cortinas de banheira, com argolas em cima no varão. Parecida com a tua, mas mais gaja, portanto.